Tumulto no Irã e colapso da Venezuela fazem petróleo superar US$ 80

Para analistas, valorização da matéria-prima se explica também por problema de oferta

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Funcionário passa à frente de mural com logotipo da estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA, em Caracas
Funcionário passa à frente de mural com logotipo da estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA, em Caracas - Carlos Garcia Rawlins - 29.ago.14/Reuters
Anjli Raval
Financial Times

Novas sanções americanas que incidirão sobre o setor de energia do Irã e as consequências do colapso econômico da Venezuela geraram temores de um aperto significativo na oferta mundial de petróleo, levando os preços a superar, nesta quinta (17). a marca dos US$ 80 por barril pela primeira vez em quase quatro anos.

O petróleo Brent já estava subindo antes de o presidente Donald Trump anunciar, alguns dias atrás, que os Estados Unidos abandonariam o acordo nuclear com o Irã e voltariam a impor restrições às exportações de petróleo do país, em uma alta de preços superior a 40% nos últimos 12 meses.

Mas a perspectiva de oferta menor da parte do Irã e da Venezuela levou o Brent, um dos contratos de referência internacionais, a uma alta de mais de US$ 5 por barril só em maio.

Essas pressões, somando-se aos cortes de produção planejados que a Opep (Organização dos Países ) e a Rússia estão realizando, e ao consumo robusto de petróleo causado por uma economia mundial mais saudável, convenceram alguns investidores de que os preços subirão ainda mais.

"A geopolítica certamente desempenhou um papel na sustentação dessa alta de preços, mas os principais desdobramentos se referem a perdas reais de oferta, não apenas a riscos que podem não se materializar", disse Richard Mallinson, da consultoria Energy Aspects.

A oferta de petróleo da Venezuela caiu mais rápido do que muitos analistas vinham antecipando, em razão das crises política e econômica no setor de energia do país, e de uma série de liminares judiciais autorizando confisco de ativos e prejudicando as exportações.

Além disso, muitos investidores vinham contando com uma revitalização do setor petroleiro do Irã, que teria apoio de investimento ocidental para atualizar sua infraestrutura degradada, o que traria uma elevação na oferta mundial de petróleo.

No entanto, nesta semana, a ameaça pelo grupo petroleiro francês Total, o primeiro grande investidor ocidental a retornar ao Irã, de que poderia abandonar suas operações no país tornou essa perspectiva improvável.

O Irã necessita de mais de US$ 100 bilhões em investimento e tecnologia estrangeiros para expandir seus setores de petróleo e gás natural, em longo prazo.

Embora os preços possam cair, disse Mallinson, o mercado de petróleo está "testemunhando uma virada estrutural rumo a preços mais altos", que prosseguirá até o ano que vem, e não uma alta temporária.

O Brent chegou a subir mais de US$ 1,10 nesta, para o pico de US$ 80,50 por barril, o maior preço desde o final de 2014, enquanto o WTI (West Texas Intermediate), o petróleo de referência dos Estados Unidos, subiu para até US$ 72,30.

No fim do dia, o Brent teve alta modesta, de 0,03%, para US$ 79,30, e o contrato do WTI fechou estável, a US$ 71,49.

A alta no suprimento dos campos de petróleo de xisto betuminoso dos Estados Unidos, para 10,7 milhões de barris ao dia, deve cobrir qualquer lacuna na oferta mundial, mas o setor vem enfrentando limitações em termos de oleodutos e gargalos de infraestrutura que tornam mais lenta a chegada das exportações ao mercado.

Alguns analistas do setor, como os do Bank of America, imaginam um retorno aos US$ 100 por barril. Isso despertou questões sobre a possibilidade de que os produtores da Opep abandonem a limitação de produção que está em vigor desde o ano passado.

"O que todo o mundo está tentando determinar é quando a Opep e seus aliados agirão", disse Helima Croft, vice-presidente de estratégia de commodities do banco de investimento RBC Capital Markets.

A Arábia Saudita, efetivamente a líder da Opep, afirmou que trabalhará com outros países produtores a fim de aliviar qualquer escassez de oferta. Mas pessoas que falaram com seu ministro da energia afirmam que o reino reluta em abrir as torneiras, por medo de que isso cause uma queda renovada de preços. Outra pessoa disse que os países do Golfo Pérsico estavam monitorando as médias de preços para 12 meses antes de agir.

Uma declaração do Ministério da Energia saudita, na quinta-feira, admitiu a recente volatilidade de preços, mas disse que o mundo contava com "amplos suprimentos" disponíveis.

O reino deseja preços mais altos para o petróleo, a fim de financiar suas reformas econômicas, e planeja abrir parcialmente o capital da estatal petroleira Saudi Aramco.

A Opep e seus aliados fora do cartel têm de praticar "equilibrismo", disse Bassam Fattouh, diretor do Instituto Oxford de Estudos da Energia.

Cyril Widdershoven, da consultoria Verocy, disse que por enquanto a Arábia Saudita estava "colhendo as recompensas financeiras" do acordo de corte de produção.

Mas alguns especialistas do setor acreditam que a alta nos preços do petróleo possa ter efeitos adversos, com queda no consumo. A Agência Internacional de Energia (AIE) revisou para menos a sua projeção de crescimento na demanda mundial por petróleo em 2018, na quarta-feira, de 1,5 milhão para 1,4 milhão de barris diários.

As ações de empresas de energia vêm em alta neste trimestre, depois de uma melhora forte em suas receitas e fluxos de caixa.

O índice de energia europeu MSCI, formado por empresas como a Royal Dutch Shell e a Eni, registra alta de 14% do final de março para cá. O índice de energia S&P 500 subiu em 16% no mesmo período.

"As reduções de custos continuam a fazer efeito... e agora coincidem com uma alta de preços. É uma combinação muito poderosa", disse Martijn Rats, estrategista mundial de petróleo do banco Morgan Stanley. As empresas são capazes de pagar dividendos, recomprar ações e amortizar dívidas, ele acrescentou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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