Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Vídeo sugere conivência de policiais com bloqueio de via em São Paulo

Caminhoneiro diz estar retido há nove dias em manifestação na Raposo Tavares

Thais Bilenky Julia Alves
São Paulo

Um vídeo feito às 13h50 da segunda-feira (28) na rodovia SP 304, em Americana (SP), mostra a conivência da Polícia Rodoviária Estadual com manifestantes que impediram a circulação de caminhões e vans por pelo menos nove horas.

As imagens, gravadas pelo empresário Adriano, 37, que pediu para não ter o sobrenome publicado por medo de retaliação, registram o acordo feito entre policiais na viatura e um dos líderes da manifestação.

Os policiais assentiram em escoltar um morador da região, enquanto os manifestantes impediam a livre circulação de motoristas de transporte de carga, como Adriano, que ficou retido das 10h às 18h. No período, só puderam transitar carros de passeio, motos e ambulâncias.

"Escolta ele, então, vocês, só ele, ninguém mais sai", diz o manifestante para os policiais. "Então, beleza", responde o oficial no banco do passageiro. 

Na sequência, o motorista da viatura chama o grevista e pede para "evitar que aconteça alguma coisa de ruim, para ninguém quebrar carro, para ninguém fazer nada demais".

"Nós paramos o Brasil, sangue bom", comemora o líder da paralisação, já se afastando da viatura.

A Polícia Rodoviária disse que apura a conduta dos agentes. A corporação é um braço da Polícia Militar, que segue preceitos, mas não pertence às Forças Armadas. Como revelou a Folha, o governo Michel Temer (MDB) acompanha com preocupação o risco de movimentos de protesto se alastrarem pelo país com complacência ou simpatia por parte de militares.

Na paralisação da rodovia SP 304, "a Polícia Rodoviária foi conivente, passavam o tempo todo e nada faziam", protestou Adriano.

"Tivemos a van da empresa cercada por vândalos e fomos forçados a parar. Os que não obedeciam às ordens e ameaçavam seguir adiante tinham o pára-brisas quebrado e levavam ponta pés", relatou. 

"Durante nossa prazerosa estadia às margens da rodovia, nos serviram água gelada, marmitas, pão com manteiga e até churrasco", ironizou.

À tarde, os líderes da paralisação, que não eram caminhoneiros, segundo Adriano, entregaram bandeiras do Brasil aos manifestantes involuntários.

OUTRO LADO

A Polícia Rodoviária disse que determinou apuração sobre a conduta dos policiais militares, "embora pelas filmagens, num primeiro momento, não fica muito claro o teor da fala completa deles". 

"Nossas atenções têm sido redobradas no que tange à preservação da ordem pública nas rodovias estaduais e locais com potencial risco de perturbação", disse a corporação. 

"Importante ressaltar que o policiamento ostensivo não foi alterado em nenhuma modalidade, não havendo nenhuma descontinuidade no atendimento de ocorrências ou à população. Todas as escoltas solicitadas para o atendimento dos serviços essenciais continuarão sendo atendidas sem prejuízo das demais missões", concluiu. 

NOVE DIAS RETIDO

Nesta terça-feira (29), um caminhoneiro que não quis ter seu nome divulgado afirmou estar há nove dias retido na manifestação do km 245 da rodovia Raposo Tavares sob ameaças de agressão e destruição de seu veículo.

O motorista disse que 90% dos 300 caminhoneiros que participam do ato foram forçados a ficar estacionados no pátio do posto Holandês da rede Graal por um grupo de homens que quer a destituição do presidente Michel Temer.

De acordo com o relato, três motoristas tentaram fugir, mas foram perseguidos. Eles pararam em frente à Base de Paranapanema da Polícia Militar Rodoviária para solicitar ajuda, mas não tiveram sucesso.

"Depois de nove dias parados, tentamos seguir viagem, mas 12 homens em quatro carros foram atrás de nós e fizeram com que nós voltássemos. A polícia disse que não conseguiria fazer nada estando fora da base", afirmou o caminhoneiro à reportagem na tarde desta terça-feira (29).

O homem também disse que solicitou socorro ao serviço de emergência 190, mas ouviu que a polícia só poderia agir em caso de agressões.

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