Apesar da queda recente, preço do petróleo não cai tão cedo, dizem especialistas

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O petróleo vem caindo nos últimos dias por causa da possibilidade de Rússia e OPEP aumentarem sua produção, mas especialistas advertem que o preço da commodity não voltará tão cedo ao baixo patamar dos últimos anos.

Isso porque os estoques de petróleo armazenados pelos países desenvolvidos caíram para o menor nível em três anos, o que torna o preço bastante sensível a quaisquer eventos geopolíticos, diz Brenda Shaffer, professora da Universidade Georgetown e pesquisadora do Centro de Energia do Atlantic Council.

"A demanda e a oferta de petróleo estão tão próximas que qualquer anúncio ou evento geopolítico acaba superdimensionado", afirma Shaffer.

Os preços do petróleo dobraram --saltaram de uma média de US$ 40 em 2016 para quase US$ 80 na semana passada, em decorrência de um acordo entre os membros da OPEP, a Rússia e outros nove produtores para restringir a oferta mundial.

A queda drástica na produção da Venezuela --quase 40% desde 2015-- e o consumo aquecido, por conta da volta do crescimento econômico na maior parte do globo, também pressionaram os preços.

GEOPOLÍTICA DO PREÇO DO PETRÓLEO

Para completar, os Estados Unidos deixaram o acordo nuclear com o Irã, e a volta das sanções sobre o país persa pode reduzir em até 500 mil barris diários a oferta. É pouco diante do consumo diário de 95 milhões de barris, mas, em um mercado com pouco estoque e choques de oferta, suficiente para afetar cotações.

O objetivo do acordo de restrição de produção entre OPEP e Rússia era contrabalançar a imensidão de petróleo de xisto americano que vinha inundando o mercado, que levou os preços a despencarem a partir de 2014. A percepção era que os produtores de petróleo de xisto conseguiriam dar conta das flutuações da demanda, deixando a OPEP em segundo plano.

O mercado passou a ser pautado pela queda de braço entre produtores liderados pela OPEP e produtores americanos de petróleo de xisto.

Se a OPEP cortasse a oferta para elevar os preços, os produtores de petróleo de xisto se aproveitariam dos altos preços para elevar a produção, o que levaria os preços a caírem.

Analistas chegaram a cunhar o termo "lower for longer" (mais baixo por mais tempo) prevendo que o petróleo ficaria na faixa dos US$ 40 a US$ 55, por causa do avanço dos carros elétricos, e dos produtores de petróleo de xisto.

Mas o petróleo a US$ 80 demonstrou que ainda era cedo para decretar a morte da OPEP e dos ciclos de alta. Ao se aliar à Rússia, maior produtor mundial, e mais nove países, a Arábia Saudita e a OPEP mostraram que ainda têm poder para influenciar preços.

O objetivo do acordo era reduzir a oferta em 1,8 milhão de barris por dia, mas os cortes foram além, chegando a 2,5 milhões, influenciados por queda de produção na Venezuela e Angola. Rússia, OPEP e outros países se reúnem no dia 22 de junho em Viena, para determinar o tamanho do aumento da produção.

Precisam de uma sintonia fina, porque a Arábia Saudita quer que o preço se mantenha na faixa de US$ 60 a US$ 80.

"O desafio será fazer aumentos pequenos e graduais na produção para manter preços altos; se houver quebra na disciplina, algo que já aconteceu com a OPEP, os preços podem despencar de novo", diz Bill Arnold, professor de Administração em Energia na Universidade Rice.

Na realidade, muitos países, como Venezuela, Angola e México, não conseguiriam aumentar significativamente sua produção, por falta de investimentos em exploração, crises políticas e outros.

A própria Arábia Saudita não pode se dar ao luxo de deixar os preços caírem. Seu déficit do orçamento caiu, de 12,8% do PIB para 7%, mas ainda é alto. O país também precisa de petróleo caro porque planeja abrir o capital da estatal de petróleo, Saudi Aramco.

"A Arábia Saudita está tomando emprestado nos mercados internacionais para financiar seu orçamento; eles não conseguem arcar com o custo de manter os preços mais baixos", diz Charles Doran, professor de Relações Internacionais da universidade Johns Hopkins

Os produtores de petróleo de xisto até conseguem aumentar a produção, mas têm limitações para distribuir por causa da falta de oleodutos.

Por fim, as sanções ao Irã retardam ou impedem a revitalização da indústria petrolífera local, que contava com investimento de multinacionais como a francesa Total. Há suspensão de investimentos. Para expandir o setor, o Irã precisaria de cerca de US$ 100 bilhões em investimentos e tecnologia. Dado esse cenário, analistas acham improvável que, mesmo com a ação da OPEP, o petróleo volte a ser barato como nos últimos 4 anos.

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