Aumento no preço do leite longa vida é reflexo dos bloqueios dos caminhoneiros

Produtores de soja e de açúcar também relatam impactos da paralisação

Marcelo Toledo
Ribeirão Preto (SP)

Um mês após a deflagração da paralisação dos caminhoneiros nas rodovias do país, o agronegócio brasileiro ainda sente os efeitos dos protestos, que vão da alta do preço do leite às dificuldades no comércio de grãos e ao prejuízo no setor sucroenergético.

Estudo divulgado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostrou que o preço do leite UHT (longa vida) vendido entre indústrias e atacado em São Paulo subiu 29,3% entre os dias 25 de maio e a última sexta-feira (15).

“O aumento expressivo nos valores ocorreu como única saída para as empresas recomporem seus estoques e conseguirem, assim, normalizar seus negócios, o que deve ocorrer até o final de junho”, diz trecho de boletim do Cepea.

Isso aconteceu pelo fato de as empresas terem de trabalhar com produção limitada, matéria-prima cara e esvaziamento de estoques.

Já o setor de soja está totalmente travado, de acordo com a Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso).

“As indústrias não estão comprando nada. Os preços caíram muito e não está havendo comercialização de fertilizantes por parte das indústrias. O mercado agrícola está parado”, afirmou Antonio Galvan, presidente da Aprosoja-MT e vice-presidente nacional.

De acordo com ele, para que haja mudanças é essencial a extinção da tabela de frete e que a regulação dos preços seja conduzida pelo mercado.

“Não pode existir intervenção do governo nisso. Tem que computar retorno do frete também. A ida já não está mais comportando valor, imagine pagar retorno para voltar vazio. Soja, milho, tudo parado, há armazéns com soja para ser retirada para abrir espaço para milho, mas não abriu, pois não tem como.”

Reflexo desse cenário, o preço da soja na região de Sinop está em torno de R$ 56 a saca, ante os R$ 68 praticados antes da deflagração da paralisação nas rodovias.

Nas usinas de açúcar e etanol, a produção foi reduzida na segunda quinzena de maio devido aos protestos, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). A moagem de cana teve perdas de 4,5 dias de produção, em média, o que significou redução de R$ 1,2 bilhão nas receitas do setor sucroenergético. No Paraná, a perda chegou a dez dias de moagem.

A adoção da tabela de fretes gerou, em 20 dias, prejuízo de R$ 10 bilhões aos setores de soja e milho, de acordo com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). O montante é reflexo de uma alta média de 40% no valor do transporte.

Com 60 navios parados, os prejuízos nos terminais portuários já alcançam R$ 135 milhões.
No período, 6,8 milhões de toneladas de soja e farelo deixaram de ser levadas aos portos para exportação.
Os dados foram apresentados pela CNA em audiência para debater a legalidade da tabela no STF (Supremo Tribunal Federal).

ANIMAIS

A paralisação dos caminhoneiros também provocou suspensão das atividades de 167 unidades frigoríficas, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), e gerou impacto de R$ 3,15 bilhões ao setor que produz e exporta aves, suínos, ovos e material genético.


Conforme a associação, se persistissem, os protestos ameaçariam um plantel de 1 bilhão de cabeças, mas foram suficientes para gerar custos extras ao setor.“Até que se reestabeleça toda a sistemática setorial, ficará mais caro às indústrias produzir cada quilo de carnes e cada unidade de ovo”, diz trecho de nota da ABPA. A entidade avalia ainda que, por usarem muito as rodovias para o transporte de animais vivos, ração e insumos, a avicultura e a suinocultura serão muito impactadas pelos novos custos logísticos.

Com Reuters

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