Consultorias ampliam presença em festival de publicidade Cannes

Enquanto agências reduzem participação, evento atrai grupos de gestão empresarial

Nelson de Sá
São Paulo

O festival anual de publicidade de Cannes terminou nesta sexta (22) com as consultorias globais, que desenvolvem estratégia digital para os anunciantes, tomando o espaço que vem sendo aberto pelas agências de propaganda.

Enquanto grupos de agências como WPP e Publicis reduziram o número de funcionários enviados ao evento, em parte para cortar custos, consultorias como Deloitte e Accenture aumentaram em proporção semelhante --e assumiram as festas.

O empresário Martin Sorrell no Festival de Criatividade, em Cannes (França) - Eric Gaillard/Reuters

A mudança foi ilustrada pelo prêmio de Creative Data —criatividade com dados— entregue a um vídeo produzido pela irlandesa Rothco, parte da Accenture Interactive. Foi o primeiro Grand Prix para uma consultoria no festival.

O comercial "JFK Unsilenced" reuniu trechos de 831 pronunciamentos gravados do ex-presidente americano John Kennedy, para montar um áudio do que teria sido seu discurso de 1963 em Dallas --ele foi assassinado a caminho do evento.

Feito para o inglês The Times, que busca se recolocar como um jornal não só conservador, mas aberto a diferentes vozes, o discurso do JFK, segundo a Accenture, é "notavelmente relevante hoje", soando crítico do estilo Donald Trump:

"Que menos gente dê ouvido ao nonsense", diz ele na montagem. "A ideia de que a força é questão de slogans é um absurdo. O êxito da liderança [dos EUA] depende do respeito por nossa missão no mundo tanto quanto dos nossos mísseis."

Além das consultorias, os próprios veículos de mídia vêm ocupando o lugar deixado pelas holdings de agências, tanto em presença no evento como na produção direta de publicidade para os anunciantes —o chamado conteúdo patrocinado.

Falaram nas mesas do festival, entre outros, representantes do New York Times e do Financial Times, ambos concentrando-se em avaliações parecidas sobre a relação do jornalismo com o duopólio de publicidade digital de Google e Facebook.

De Mark Thompson, presidente-executivo do NYT: "Embora tenhamos uma longa lista de coisas que gostaríamos de conversar com o Google, trata-se de um ambiente bastante criativo, positivo. O Facebook nós achamos muito difícil".

Por parte das agências, a atração acabou sendo novamente Martin Sorrell, "o rei de Cannes", que presidia e foi afastado em abril pelo WPP, maior grupo publicitário do mundo. Ele foi ao festival apresentar a sua nova agência, S4 Capital.

Nas sessões públicas de que participou, descreveu a S4 como "um amendoim em comparação" à WPP, mas acrescentou que "amendoins dão alergia em alguns" —e que ela poderá responder aos desafios do setor, vindo "totalmente do lado digital".

Pressionado, Sorrell acabou tratando também de sua saída do grupo, negando informações publicadas por jornais como o Wall Street Journal, de que teria sido por uso indevido de recursos, inclusive com prostitutas. "Não é verdade", declarou.

No quadro geral de "leões" neste ano, as agências brasileiras somaram 101 prêmios, entre eles dois Grand Prix, para Africa e Grey.

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