Diesel dá combustível a série de trapalhadas no governo

Ministros, auxiliares e até presidente batem cabeça ao tentar aplacar crise

Daniel Carvalho Angela Boldrini
Brasília

A crise provocada pela paralisação de caminhoneiros expôs uma série de trapalhadas de ministros, auxiliares e até do próprio presidente Michel Temer ao longo dos dias de estradas bloqueadas e desabastecimento pelo país.

O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) foi o que protagonizou mais casos.

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O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) durante coletiva de imprensa após reunião ministerial no Palácio do Planalto. - Pedro Ladeira/Folhapress

No meio da crise, revelou pedidos de prisão e de outras medidas cautelares em meio a investigações sigilosas da Polícia Federal, deu entrevista ao vivo na TV em clima de descontração enquanto filas de carros se formavam em postos sem combustível e apareceu repentinamente em entrevistas para as quais a presença dele não estava prevista.

Chegou a dar declarações que logo seus colegas de Esplanada contradisseram.

Há uma semana, por exemplo, Marun disse que zerar Cide, PIS e Cofins exigiria que o governo os substituísse por outros tributos, o que considerou “uma situação praticamente inexequível no momento e com a rapidez desejada”.

Além de zerar a Cide, a equipe econômica tirou benefício de exportadores, o que, na prática, aumentou o valor de impostos pagos por eles.

Na quarta-feira (30), após o Senado aprovar a reoneração da folha de pagamento com o acordo de que o artigo que zerava a alíquota de PIS/Cofins seria vetado, Marun disse que o compromisso do governo era com a redução do preço do óleo diesel, independente da engenharia orçamentária para que isso se desse.

“O compromisso do governo é com o preço que o diesel vai chegar ao caminhoneiro, não com a forma como isso vai acontecer”, afirmou. O presidente Michel Temer cumpriu o acordo com o Senado e vetou a isenção de PIS/Cofins.

Algumas contradições se deram no mesmo dia. Na quinta (31), Sergio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, afirmou em entrevista à imprensa: “O governo considera que acabou a greve dos caminhoneiros há mais de dois dias”.

Pouco depois, Marun chamou jornalistas para dizer que “não podemos comemorar ainda o fim do movimento”.

Mas o responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso não foi o único a falar demais.

No dia 26 de maio, a Polícia Rodoviária Federal divulgou que havia 586 pontos de obstrução nas estradas. Horas antes, o ministro da Segurança, Raul Jungmann, havia anunciado 566 bloqueios, 20 a menos.

No dia 31, Etchegoyen disse que havia 30 pontos de manifestação e que um empresário havia sido preso preventivamente sob suspeita de locaute. Foi corrigido em seguida: já não havia mais bloqueios e a prisão fora temporária.

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O ministro Sergio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional - Keiny Andrade/Folhapress

A confusão de informações envolveu até o presidente. Em entrevista à NBR, TV do governo, na terça (29), Temer disse: “Não queremos, digamos, alterar a política da Petrobras. Não podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado”.

Na mesma noite, o Planalto afirmou, no entanto, que o presidente quis dizer “nós podemos reexaminá-la”, atemorizando o mercado financeiro.

No dia seguinte, o governo se viu obrigado a emitir nota dizendo que a política de preços da empresa não irá mudar, informação repetida exaustivamente, inclusive em pronunciamento de Temer na sexta (1º) ao anunciar o novo presidente da Petrobras.

Além disso, ministros evidenciaram o estresse em entrevistas à imprensa com respostas ríspidas e também em reuniões a portas fechadas.

Etchegoyen mandou um repórter ler a Constituição quando solicitado a detalhar decretos. “Está explicado. Eu acho que vocês podem pegar a Constituição e dar uma olhadinha. Isso aqui não é uma palestra”, afirmou.

Ao ser questionado sobre o impacto de R$ 13,5 bilhões para atender unicamente ao setor dos caminhoneiros, nesta quinta (31), Marun respondeu a jornalista: “Tu quer repetir esta pergunta e colocar no histórico da tua vida esta pergunta? Tu quer botar no teu currículo esta pergunta?”, disse, encerrando a entrevista.

A portas fechadas, o clima também era de tensão. Na sexta (1º), o ministro se irritou ao perceber que a obrigatoriedade de placas nos postos de combustíveis para informar o desconto de R$ 0,46 no óleo diesel não constava da minuta da portaria que seria publicada pelo Ministério da Justiça no mesmo dia.

Participantes da reunião dizem que o ministro levantou a voz para cobrar que a medida fosse incluída no texto.

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