Dólar dispara e fecha acima de R$ 3,80 pela primeira vez após ação do BC

Na última semana, moeda vinha oscilado ao redor de R$ 3,70

Tássia Kastner
São Paulo

O dólar disparou nesta quinta-feira e fechou acima dos R$ 3,80 pela primeira vez desde que o Banco Central anunciou intervenção no mercado para conter a volatilidade do câmbio, há uma semana.

Na cotação comercial, a moeda fechou em alta de 2,61%, a R$ 3,8120. ​

Na quinta-feira passada, a moeda fechou acima dos R$ 3,90, e o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que venderia US$ 20 bilhões até esta sexta-feira (15) em contratos de swap (que equivalem à venda de dólar no mercado futuro) para suavizar as oscilações. Desde então, o dólar vinha sendo cotado ao redor dos R$ 3,70.

Quase todos os US$ 20 bilhões já foram ofertados, e o Banco Central ainda não anunciou se continuará intervindo na mesma intensidade na próxima semana.

Sidnei Nehme, diretor-executivo da corretora NGO, diz que a valorização do dólar hoje é uma estratégia de investidores, que estariam provocando o BC a aumentar a oferta de contratos “apesar de não ter demanda por proteção, mas um movimento especulativo”.

A desvalorização do real ocorreu em linha com o cenário internacional. Na manhã desta quinta, o Banco Central europeu anunciou o fim do programa de compra de títulos, que tinha por objetivo evitar deflação no bloco econômico. O BCE já injetou mais de 2 trilhões de euros na economia comprando títulos desde 2015.

Apesar de esperado, o anúncio do fim do programa um dia após o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sinalizar alta mais acelerada nos juros dos Estados Unidos fez com que o euro perdesse valor ante o dólar. O mesmo aconteceu com a maioria das moedas emergentes.

Quando os juros dos Estados Unidos sobem, a tendência é que investidores levem o dinheiro que estava aplicado em países emergentes para aplicações em títulos da dívida americana, considerados investimentos mais seguros. Esse movimento faz com que o dólar se valorize.

Para André Perfeito, o movimento de alta está dentro do esperado dado o cenário de incerteza política no mercado doméstico. “Os investidores acreditam que o dólar tem que subir, e o BC fica operando no sentido contrário, segurando. Acontece que às vezes isso foge do controle do BC”, afirma.

O risco-brasil medido pelo CDS (espécie de seguro contra calotes de países) subiu 2,58%, a 270,73 pontos, no maior patamar desde janeiro de 2017. Na época, a tendência era de queda, porque investidores acreditavam no compromisso do governo de Michel Temer (MDB) com o ajuste fiscal, materializado na proposta de reforma da Previdência.

Essa alta indica um aumento da insegurança de investidores em meio à piora nas projeções para a economia e a incerteza com o cenário eleitoral. Os contratos de juros futuros também dispararam.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, cedeu 0,97%, a 71.421 pontos, no menor patamar desde novembro do ano passado, pressionado pelas ações de bancos. O setor tem amargado perdas com a perspectiva de que uma piora na economia terá reflexo sobre o consumo e a recuperação do mercado de crédito.

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