Descrição de chapéu dólar câmbio

Dólar fecha em alta e se aproxima de R$ 3,84; Bolsa cai 0,7%

Bancos e Petrobras puxaram Ibovespa para baixo; Vale e exportadoras seguraram o índice

Anaïs Fernandes
São Paulo

Após um último pregão com forte influência do cenário externo, os investidores se voltaram mais para a situação fiscal e política do Brasil nesta quarta-feira (6) e, receosos, levaram o dólar a subir e a Bolsa a cair pelo segundo dia seguido.

Apesar da intervenção do Banco Central no câmbio, o dólar comercial registrou alta de 0,7%, para R$ 3,839, renovando o maior nível desde 2 de março de 2016 (R$ 3,889). O dólar à vista avançou 1,1%, cotado a R$ 3,822.

No dia, a moeda chegou a R$ 3,85, e analistas não descartam que até outubro vá a R$ 4 —nas casas de câmbio, o dólar turismo já ultrapassa esse patamar.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, caiu 0,68%, para 76.117,23 pontos. O giro financeiro foi de R$ 13,1 bilhões.

​Apenas 4, além do real, das 31 principais divisas do mundo se desvalorizaram em relação à moeda americana nesta quarta. Nos Estados Unidos e em boa parte da Europa, as Bolsas fecharam em alta —o Dow Jones, principal índice de Nova York, subiu 1,4%.

"Mas isso não quer dizer muita coisa no Brasil, já que a situação se deteriora a partir da greve dos caminhoneiros", escreveu Alvaro Bandera, economista-chefe da Modalmais, em seu relatório.

O vaivém das autoridades nas decisões relacionadas ao movimento dos caminhoneiros expuseram fragilidades do governo, ao mesmo tempo em que as medidas anunciadas para subsidiar o diesel geraram receios sobre o impacto nas contas públicas e na política de preços da Petrobras, apontam analistas.

"Temos um governo que vai tirar dinheiro de áreas como saúde e educação para arcar com as reivindicações das manifestações. Enquanto isso, o rombo na Previdência aumenta e não há perspectiva de votação da reforma no Congresso", diz Mauriciano Cavalcante, gerente de câmbio da Ourominas.

Soma-se a isso a eleição presidencial de outubro, que parece ter voltado para o radar do mercado.

"O dia foi de questionamentos em relação ao cenário econômico. Até recentemente existia uma percepção de que o próximo presidente tocaria um processo de reformas, mas agora começa a ser levantada a possibilidade de o futuro eleito não ser reformista", diz Sérgio Goldman, analista da Magliano Invest. 

Levantamento do DataPoder360 divulgado nesta terça (5) mostrou Jair Bolsonaro (PSL) liderando as intenções de voto e Ciro Gomes (PDT) na segunda posição. Geraldo Alckmin (PSDB), candidato tido como de perfil reformista e com boa aceitação no mercado, ainda não decolou, segundo os dados.

"Começamos a ver, de forma mais clara, pesquisas eleitorais influenciando nos mercados locais. Até aqui, em nossa opinião, grande parte dos movimentos [...] deve-se ao cenário internacional. A partir de agora, parece-nos que, de forma crescente, as eleições de outubro ganharão espaço", escreveu a Guide Investimentos em seu relatório.

Para Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo, a pesquisa recente não trouxe nada muito diferente do usual, mas pode ter contribuído para um processo cumulativo. "O mercado vinha de um otimismo com a perspectiva de um centro reformista que, aos poucos, não vai se concretizando. Isso exerce alguma influência, mas é difícil quantificar quanto."

Na tentativa de conter a alta do dólar, o Banco Central tem atuado com mais força no mercado cambial. Na terça, chegou a fazer intervenção adicional com leilão de até 30 mil novos swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda futura de dólares), injetando US$ 1,866 bilhão, mas não vendeu tudo. 

"O Banco Central não está conseguindo estancar a sangria com os swaps. O mercado está testando o BC para ver até onde ele consegue chegar com esses leilões para que ele entre mais pesado ainda, talvez com um leilão de linha mais curto, com vencimento em 30 dias", diz Cavalcante, em referência a leilões em que a autoridade monetária vende dólares à vista com compromisso de recompra.

Nesta sessão, o BC voltou ao padrão recente e vendeu o lote integral de até 15 mil novos swaps (US$ 750 mil), além de ofertar até 8.800 swaps para rolagem do vencimento de julho. 

MAIS ARRISCADO

O contexto de incertezas políticas e econômicas faz com que aumente para o investidor a percepção de risco no Brasil.

O CDS (credit default swap, termômetro do risco-país) subiu 3,64% nesta quarta, para 245,038 pontos.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados também tiveram alta. O DI com vencimento em julho de 2018 avançou de 6,44% para 6,458%. O DI para janeiro de 2019 subiu de 6,9% para 6,975%.

"A percepção de risco país, aqui no Brasil, segue elevada [...] O mercado 'piorou', e a curva de juros hoje embute um elevado prêmio de risco", avalia a Guide. Para a corretora, "é difícil acreditar que, no curto prazo, com incertezas crescentes no front político, os prêmios diminuirão de forma significativa."

Cresce também no mercado a aposta de que o Banco Central pode elevar a Selic (a taxa básica de juros) em 0,25 ponto percentual já nos próximos meses.

Para Buccini, no entanto, a avaliação pode ser exagerada.

"Basta olhar para quem fez isso recentemente, como Argentina e Turquia. A Argentina tem uma inflação de 30%, um déficit em conta corrente de 4%, enquanto o Brasil tem esse déficit em quase zero e uma inflação muito controlada. Mesmo uma depreciação do câmbio severa como foi não deve ser suficiente para uma alta assim na Selic", afirma.

AÇÕES

Das 67 ações do Ibovespa, 51 caíram e 16 subiram.

O indicador foi pressionado pela Petrobras, com peso de quase 9% no índice, e pelo desempenho dos bancos —o que pode indicar saída de estrangeiros da Bolsa.  

O Itaú, que tem participação de cerca de 10% no Ibovespa, recuou 2,54%. O jornal Valor Econômico noticiou que o maior banco privado do país perdeu uma disputa de R$ 2,7 bilhões com a União relacionada à operação de aquisição do Unibanco.

Os papéis da Petrobras perdem 1,57% (preferenciais) e 0,57% (ordinárias).

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) anunciou nesta terça que vai abrir consulta pública para discutir a periodicidade dos reajustes de combustíveis no país, hoje até diários. 

Principal afetada, a Petrobras divulgou nota dizendo que vai colaborar com a agência e que o diálogo "pode resultar em maior competição ao mesmo tempo em que mantém a liberdade para a formação de preços".

O movimento das ações da petroleira também reflete a suspensão na Justiça do processo de venda da TAG (Transportadora Associada de Gás), da Petrobras.

A queda do Ibovespa só não foi pior porque empresas exportadoras ganharam com a valorização do dólar.

As ações da Suzano Papel e Celulose lideraram as altas ao subirem 7,58%. A Embraer avançou 5,22%.

A mineradora Vale, com peso de 13% no índice, ganhou 4,36%, não só beneficiada pela alta do dólar, mas também acompanhando a elevação do preço do minério de ferro na China.

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