Empresários estimam prejuízos bilionários após acordo de Temer com caminhoneiros

Associações reclamam das perdas durante paralisação e das concessões feitas aos motoristas

Ana Paula Ragazzi Joana Cunha
São Paulo

Associações setoriais divulgaram nesta quarta-feira (6) estimativas de prejuízos com a paralisação dos caminhoneiros e reclamam de ter de pagar parte da conta das concessões feitas pelo governo aos manifestantes.

O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou que a entidade calcula em R$ 1,1 bilhão as perdas no setor siderúrgico. Segundo ele, dez aciarias foram paralisadas e 17 fornos, abafados.

O abafamento do forno, explicou Lopes, é um artifício usado para não perder o equipamento. "Coloca-se uma carga de carvão e aquilo fica como uma churrasqueira, resfriando paulatinamente", disse.

O equipamento, no entanto, logo precisa ser reaquecido, pois existe um grande risco de que a carga interna se solidifique --nesse caso, o equipamento tem de ser explodido, explicou o executivo.

Lopes afirmou, no entanto, que o mais grave para a indústria foi o impacto causado pela solução negociada entre governo e caminhoneiros para pôr fim à paralisação, que levará à redução do Reintegra.

Esse programa devolvia 2% do valor exportado em produtos manufaturados por meio de créditos de PIS/Cofins. O governo reduziu agora o percentual para 0,1%. Há dois anos, o setor pleiteia o aumento da alíquota, para 5%.

"O governo ainda insiste em classificar o Reintegra como um incentivo fiscal, um benefício. Na verdade, ele apenas traz um ressarcimento em função do atual sistema tributário", afirmou Lopes.

Ele informou que a Aço Brasil vai à Justiça para derrubar as mudanças no programa. "Não podemos abrir mão do Reintegra enquanto não houver reforma tributária."

Apenas neste ano, por causa do planejamento das empresas, a redução da alíquota pode fazer a siderurgia deixar de exportar R$ 635 milhões.

Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim (associação da indústria química), estimou o prejuízo do setor em R$ 950 milhões —não houve paralisações em polos petroquímicos. A entidade decide no dia 19 se vai à Justiça contra as medidas.

Figueiredo afirmou que a paralisação dos caminhoneiros foi justa, em função do aumento de custos gerados para esses trabalhadores.

"A culpa é exclusivamente da Petrobras, que não construiu refinarias e nos tornou dependentes da importação de combustíveis e, portanto, do câmbio", disse.

Ele classificou o reajuste diário dos preços dos combustíveis como um "capitalismo selvagem" e disse ainda que, depois de ter feito tudo isso, a Petrobras ainda quer um subsídio bilionário do governo.

"O que se quer novamente é que a indústria pague o subsídio para a Petrobras. A gente tem de acabar com isso."

A Anfavea (associação das montadoras) informou que a produção do setor caiu mais de 15% em maio, na comparação com o mesmo mês de 2017, com a suspensão temporária das atividades de todas as fábricas durante as manifestações. O resultado interrompeu sequência de 18 meses de altas.

A indústria estima ter perdido entre 70 mil e 80 mil unidades, mas a Anfavea disse acreditar que ainda pode haver impactos em junho porque há montadoras sem peças.

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