Empresas brasileiras gastam mais no combate aos crimes financeiros

Custos chegam a 4,9% da receita e superam proporcionalmente a média global, diz pesquisa

Natália Portinari
São Paulo

As empresas brasileiras gastam 4,9% de sua receita anual na prevenção e no combate de crimes financeiros, de acordo com uma pesquisa feita pelo instituto Thomson Reuters.

O número equivale a US$ 1,7 bilhão (R$ 6,4 bilhões) e supera proporcionalmente a média global de gastos, que é de 3,1% da receita, ou US$ 1,5 trilhão (R$ 5,5 trilhões).

Os crimes considerados pela pesquisa são os que têm impacto na operação financeira das empresas —fraude, lavagem de dinheiro, roubo, suborno e corrupção, crimes cibernéticos, escravidão e tráfico de pessoas.

Corporações que contratam fornecedores condenados por trabalho escravo, por exemplo, podem ser responsabilizadas judicialmente e sofrer perdas, problema recorrente na indústria da moda.

O crime com a maior incidência dentro das empresas é suborno e corrupção, com 69% das ocorrências. Já o problema que mais vem de fora das companhias é o ataque cibernético, em que 75% são casos de origem externa.

A média de crimes financeiros que ocorrem dentro das empresas é maior no Brasil (67%) do que no mundo (59%).

As empresas que foram vítimas de crimes financeiros têm 25% mais relacionamentos com terceiros para monitorar do que as que não foram, segundo o levantamento do instituto Thomson Reuters.

Ainda assim, a pesquisa mostra que 41% das companhias nunca fizeram uma auditoria de seus parceiros e fornecedores, que é uma das melhores formas de prevenção.

O número é um pouco mais baixo no Brasil, onde só 34% das empresas não adotaram esse tipo de fiscalização.

Os empresários brasileiros, aliás, se saem melhor em outros quesitos —além de gastarem mais na prevenção, 40% dizem ter sido vítimas de crimes financeiros nos últimos 12 meses, em comparação a 47% no mundo todo.

Uma possível explicação é a proporção maior de empresas com atividades financeiras de seguros na amostra analisada no Brasil, afirma José Leonélio Souza, gerente do Thomson Reuters Brasil.

As empresas de atividades financeiras têm, historicamente, investido muito no combate à fraude, afirma Souza.

O gerente diz acreditar que o segmento financeiro está há mais tempo preocupado com compliance (setor responsável pelo cumprimento das leis em uma empresa) do que os demais.

No mundo, o crime mais comum é a fraude (20%); no Brasil, é o ataque cibernético (19%), de acordo com empresários ouvidos. Depois, vêm roubo e furto (16%), suborno e corrupção (15%), fraudes (12%), lavagem de dinheiro (9%) e trabalho escravo (3%).

Desde 2015, o Brasil está em primeiro lugar no ranking da Kaspersky dos que mais sofrem ataques de “phishing” (invasão de conta para obter dados pessoais).

Uma pesquisa de 2017 da Allianz Global Corporate concluiu que, para empresários brasileiros, a preocupação com ataques de hackers supera a com mudanças regulatórias ou com a inflação.

“É uma realidade global, não tem como escapar. A globalização provocada pela internet faz com quem a maioria desses ataques, que afetam brasileiros, venham de fora”, diz Souza.

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