Fim do domínio da mídia de massa muda perfil do profissional de comunicação, diz professor

Esta é a 8ª entrevista de Flavio Ferrari em uma série de encontros para o livro 'Atitude Digital'

Claudio Cardoso, professor da UFBA e sócio fundador da Altavive
Claudio Cardoso, professor da UFBA e sócio fundador da Altavive - Divulgação
Flavio Ferrari
São Paulo

Que o acesso a grandes bases de dados (big data) oferece grandes oportunidades não é novidade. Mas para algumas áreas de negócio, o impacto dessa disponibilidade de informações tem repercussões mais significativas. Comunicação é uma delas.

Claudio Cardoso, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e sócio fundador da Altavive, especializada em comunicação estratégica e monitoramento de exposição e riscos de marcas, acredita que “o fim do domínio do Mass Media [mídia de massa] facilitou a percepção de outras estruturas do ambiente comunicacional que não eram evidentes”.

Seis anos de pesquisas científicas na George Washington University, na USP e na UFBA, associadas à sua experiência profissional, posicionam Cardoso como um dos especialistas mais bem preparados do Brasil para entender essa nova dinâmica.

Segundo ele, a comunicação tradicional, desenvolvida através das mídias de massa, em que os anunciantes acionavam suas agências de propaganda que utilizavam a mídia para amplificar a divulgação do conteúdo endereçado aos consumidores, não evidenciava toda a complexidade dessa estrutura.

“O advento da internet favoreceu a atuação direta de influenciadores, antes limitada aos detentores dos grandes meios, e permitiu o entendimento da propagação de conteúdos relevantes a partir dos 'nodos da rede'. Estes são pontos de convergência, capazes de amplificar o alcance da mensagem. Isso teve um caráter revelador. O rastro deixado pelas ações e transações na internet oferecem uma vantagem única para o comunicador, que pode avaliar o impacto de sua comunicação com detalhes e em tempo real”.

Cardoso acredita que o perfil do profissional de comunicação, tradicionalmente embasado em conhecimentos relacionados com a criação, a interpretação e a intuição e avesso a ciências exatas, deve mudar rapidamente para incorporar a familiaridade com a ciência de dados, a estatística e a tecnologia.

“Em outras áreas, como a Medicina, isso já é uma realidade há décadas. Os profissionais da área de saúde incorporaram a ciência de dados para avaliar a eficiência de diagnósticos, de tratamentos e do próprio negócio.”

A disponibilidade das grandes bases de dados e das ferramentas analíticas e interpretativas é transformadora, não só de processos e atitudes, mas de modelos de negócio.

“Nesse momento, os novos elementos transtornaram o ecossistema do negócio de comunicação, mas esse é o início de uma grande transformação que será bastante positiva. Ficou mais clara a relevância da tecnologia e da informação no processo de comunicação e o grande potencial que esses campos de conhecimento oferecem ao profissional.”

Como bem disse Willian Gibson, o futuro já chegou mas ainda não está uniformemente distribuído.

Flavio Ferrari é consultor e palestrante em comunicação, inovação e transformação digital. Foi diretor dos institutos Kantar Media, Ipsos e GfK. Esta entrevista faz parte de uma série de encontros para o livro "Atitude Digital", com o apoio da ABA (Associação Brasileira dos Anunciantes)

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