Alegando estar à beira da falência, grupo Dolly pede recuperação judicial

Empresa diz que terá de demitir mais de mil empregados sem pagar direitos trabalhistas

Josette Goulart Joana Cunha
São Paulo

A fabricante de refrigerantes Dolly entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça paulista.

A medida, de acordo com a argumentação da empresa, é para tentar evitar que o negócio vá a falência depois que suas contas foram bloqueadas sob a acusação de ter sonegado R$ 4 bilhões em impostos.

Procurado pela reportagem da Folha, o empresário Laerte Codonho, dono da Dolly, afirmou que o pedido de recuperação judicial foi a única alternativa encontrada para viabilizar a retomada das operações.

 

Segundo ele, a Dolly está tendo dificuldade para receber pagamento dos clientes porque está sem acesso às próprias contas, o que também inviabiliza o pagamento de funcionários, fornecedores e de impostos.

“Se Deus quiser, essa situação não vai perdurar. Não trabalho com essa hipótese. Acredito que haverá bom senso. Eu preciso de uma conta corrente. Não posso vender porque não tenho onde depositar. Nenhuma empresa consegue sobreviver sem ter uma conta corrente”, diz Codonho. 

Sem a proteção judicial, a companhia diz que terá de demitir mais de mil empregados nos próximos dias sem que possa pagar nenhum centavo dos direitos trabalhistas, a exemplo do que aconteceu com 700 funcionários demitidos na fábrica de Tatuí, em São Paulo, na semana passada.

“Dispensamos trabalhadores que eu adoro, que estão há muitos anos comigo. Em uma reunião com advogados trabalhistas, nós decidimos que seria melhor demitir porque, pelo menos, eles recebem o seguro-desemprego e podem comer. Isso é desumano”, diz.

Na sexta-feira (22), a energia da fábrica de Diadema foi cortada, paralisando equipamentos que engarrafam a bebida.

O passivo total da empresa é de aproximadamente R$ 255 milhões, segundo a lista de credores anexada ao processo.

O pedido de recuperação foi feito em nome das empresas Dettal-Part, Brabed-Brasil Bebidas e Empresa Paulista de Refrigerantes, donas da marca Dolly.

Além da recuperação judicial em si, a empresa também pede ao juiz Marcelo Sacramone da 2ª Vara de Recuperações Judiciais uma série de providências.

Solicita o desbloqueio de suas contas e que permita a volta dos administradores afastados para a gestão da companhia. Requer ainda que a Eletropaulo se abstenha de cortar a energia elétrica da empresa. Também pede que o processo administrativo para cassação de sua inscrição estadual e CNPJ seja suspenso e que a posse de maquinário continue com a empresa, entre outras providências.

Na sexta-feira, o juiz se manifestou no processo pedindo uma série de documentos que faltavam, como balanços e a própria lista de credores. Mas ainda não se manifestou sobre o pedido liminar feito pela empresa.

Em maio, o dono da empresa Laerte Codonho foi preso em uma ação conjunta entre o MPE (Ministério Público do Estado de São Paulo), Procuradoria Geral do Estado e polícia por causa de sua situação fiscal. Os investigadores alegaram que a prisão era necessária para evitar a destruição de provas.

Além disso, as contas do empresário e da empresa foram bloqueadas. A Dolly alega no processo de recuperação judicial que o bloqueio concedido pela Justiça Federal foi além do que o pedido pela própria procuradoria e equivale a uma penhora 100% de sua receita, o que inviabiliza a que a companhia mantenha suas operações.

Outra argumentação é a de que a empresa teria sido lesada por diretores e contadores, por anos a fio, sem conhecimento do dono.

Além disso, o advogado Marçal Alves de Melo, que conduz o pedido de recuperação judicial, diz que o bloqueio das contas é abusivo dado o fato de que sequer foi atestado em decisão final pela Justiça ou em processo administrativo de que o valor de R$ 4 bilhões é realmente devido pela Dolly.

Outro ponto levantado é que um pedido de recuperação judicial também tenderia a beneficiar os empregados, que num processo como esse tem preferência de recebimento em relação ao fisco.

Em mais esta tentativa de conseguir o desbloqueio de suas contas na Justiça, a Dolly faz novamente alegações de que está sendo atacada pela sua principal concorrente, a multinacional de bebidas Coca-Cola, reforçando o argumento que defendeu em entrevista a Folha.

Codonho, quando foi preso, empunhava um cartaz com os dizeres de que estava sendo preso pela Coca-Cola.

A multinacional tem dito em nota que não tem qualquer envolvimento com os processos judiciais que o empresário enfrenta.

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