Há pouco a fazer para salvar economia neste ano, apontam economistas

Economistas participaram de debate na Folha cujo mote era "Mais um ano perdido?"

Ana Estela de Sousa Pinto
São Paulo

Há pouco a fazer para salvar a economia brasileira em 2018, e o futuro depende muito das eleições presidenciais deste ano, disseram em debate na noite dessa quarta (5) o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, a ex-diretora do BNDES Elena Landau, Mauro Benevides, um dos principais assessores do candidato a presidente Ciro Gomes, e Samuel Pessôa, doutor em economia e colunista da Folha.

Os quatro economistas, de tendência liberal, participaram de encontro promovido pela Folha com o mote “Mais um ano perdido?”, sob mediação do jornalista Vinicius Torres Freire, colunista do jornal.

Mauro Benevides Filho, Eduardo Giannetti da Fonseca, Vinicius Torres Freire (mediador), Elena Landau e Samuel Pessôa, durante o debate "Mais um ano perdido?", no auditório da Folha - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Os participantes apontaram o desequilíbrio nas contas públicas como um dos principais problemas atuais, divergiram em parte nas soluções para o rombo ---que passam por elevar receitas e cortar custos--- e defenderam a urgência de uma reforma na Previdência.

Também manifestaram preocupação com a possibilidade de um candidato extremista vencer a eleição para presidente.

“A saída populista recorre à inflação para mascarar o conflito pelos recursos do Tesouro, que é normal na sociedade e precisa ser mediado de forma clara pelo Congresso. O populista prefere evitar esse conflito distributivo, e a inflação, uma vez que atinge determinado patamar, se descontrola. O custo para baixar fica muito alto”, afirmou Pessôa.

Jair Bolsonaro (PSL) foi citado como extremista de direita pelos economistas. 

“A perspectiva de a extrema-direita, de o Bolsonaro ganhar me tira o sono. Alguém que elogia um torturador, que diz que Fernando Henrique deveria ser fuzilado quando privatizou a Vale, está fora do campo democrático”, afirmou Giannetti.

À esquerda, Ciro Gomes (PDT) foi mencionado como extremista por Landau, avaliação não compartilhada pelos outros três participantes.

"Essa discussão sobre centro, esquerda, direita, coxinha ou mortadela não faz sentido. Tem que dizer e onde vai aumentar a despesa e onde vai cortar a despesa", disse Benevides,  que foi secretário de Finanças do Ceará por três gestões.

O clima de campanha eleitoral cresceu no debate principalmente pela participação de Benevides, responsável pelo plano econômico da candidatura de Ciro.

Em sua apresentação inicial, ele optou por detalhar medidas que o pedetista deve encampar para aumentar a arrecadação de impostos e cortar gastos ---com uma reforma previdenciária cujas bases, segundo ele, serão anunciadas nas próximas semanas.

 Pessôa, que havia elogiado a atitude de Benevides de detalhar suas propostas (embora expresse dúvidas sobre elas), disse que uma das poucas chances de 2018 não ser um ano perdido é que as eleições permitam um debate de alto nível sobre as medidas necessárias para o país.

“Se os candidatos propuserem projetos factíveis, ainda que enfatizem mais o corte de gastos ou mais o aumento de receitas, e os discutirem com a sociedade, talvez se possa arrumar a casa”, disse o economista, que em 2014 assessorou a campanha tucana.

Já Landau se mostrou cética sobre essa possibilidade. “Estou extremamente pessimista. Os candidatos não têm coragem de enfrentar os graves problemas do país, e vai ser inevitável o estelionato eleitoral se não falarem de reforma da Previdência, privatização, abertura comercial.”

Pessôa, Landau e Giannetti questionaram Benevides sobre declarações recentes de Ciro Gomes em relação aos juros. 

 “Falar em teto para gasto com juros me deixa extremamente preocupado. Isso é calote. Se fizer isso, o governo não terá como se financiar. Vai aumentar os juros e virá um colapso nas contas públicas”, afirmou Giannetti. 

Benevides respondeu que não se cogita fixar um teto para os juros.

A abertura da economia seria, para Giannetti, uma das principais medidas para aumentar a produtividade do país, o que lhe permitiria escapar da “armadilha da renda média” e se desenvolver.

“Em 70 anos, só 12 países conseguiram ingressar no grupo dos desenvolvidos, e todos aumentaram sua participação no mercado internacional. O Brasil não vai escapar da armadilha se não aumentar sua exportabilidade, se não vender mais para o mundo e, em contrapartida, comprar do mundo aquilo de que precisamos.”

Segundo Landau, elevar a produtividade depende também de “refundar o Estado brasileiro”. “Não adianta só elevar receitas para fechar um buraco. Qual é o Estado que vamos oferecer? O Estado é ineficiente, não consegue competir de forma eficaz. É preciso menos Estado para elevar a produtividade.”

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.