Investimentos estrangeiros caem 30% de janeiro a abril

Para analistas, Brasil sofre com corte de tributos nos EUA e crise política local

Notas de dólar em Nova York
Notas de dólar em Nova York - Mark Lennihan/Associated Press
Maeli Prado
Brasília

O Brasil já começa a sentir os efeitos da reforma tributária feita pelo governo Trump nos EUA (Estados Unidos). Aliadas à economia em marcha lenta por causa das eleições presidenciais, as mudanças derrubam os investimentos estrangeiros produtivos em empresas no país.

O IDP (Investimento Direto no País), dado do BC (Banco Central) que mostra o desempenho das aquisições e empréstimos de matrizes no exterior a suas filiais brasileiras, tem queda de 30% nos primeiros quatro meses do ano em relação a igual período de 2017. Apenas em abril, o volume de investimentos produtivos de outros países somou US$ 2,6 bilhões, o menor nível para o mês desde 2006. 

A tendência é de continuidade desse cenário, já que a mudança na cobrança de impostos de empresas nos EUA, implementada por Trump com o objetivo de atrair e manter recursos no país, tem papel importante na queda. 

Desde janeiro deste ano, empresas instaladas em território americano pagam 21% de Imposto de Renda, ante alíquota anterior de 35%. Isso reduz a atratividade para investimentos em países como o Brasil, onde esse percentual é de cerca de 34%.

Além disso, os EUA decidiram tributar todos os lucros de filiais de empresas americanas no exterior —anteriormente, essa cobrança era feita apenas no momento da repatriação de recursos. 

"Quando pensamos do ponto de vista fiscal, existem alguns incentivos para vir menos dinheiro para o Brasil", aponta Carlos Toro, sócio da consultoria KPMG no Brasil. "O Imposto de Renda é um ônus em termos de retorno de investimento produtivo."

Toro, que assessora interessados em colocar recursos no Brasil, relata que sentiu queda na demanda de investidores. "Sentimos uma redução no interesse pelo Brasil que, de uma forma subjetiva, conversa com os dados do BC."

Luis Afonso Lima, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica), lembra que as empresas americanas são as que possuem maior estoque de capital estrangeiro no Brasil. 

"Apesar de não sermos importantes para eles, o contrário não é verdadeiro. Essas mudanças nos impactam bastante", diz. 

Os EUA são o principal, mas não o único problema. Na virada do ano, a Argentina, por exemplo, aprovou um corte tributário a ser implementado progressivamente.

Além disso, a lista de países que anunciaram que reduzirão impostos sobre empresas nos próximos anos é grande: Japão, Grécia, Bélgica e Reino Unido são alguns deles.

Como divulgou a Folha em janeiro deste ano, dados da consultoria EY indicam que o imposto médio corporativo no grupo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne países em sua maioria desenvolvidos) é de 24%. Em 2000, esse percentual era bem menor, de 32%. 

"O Brasil hoje está, comparativamente, no grupo de países com alíquota de imposto corporativo mais alta. Na Europa, está havendo uma corrida de redução de alíquotas em vários países", diz Toro.

O fato de o Brasil viver um momento de incerteza eleitoral não ajuda nesse cenário. "Para o investidor mais a longo prazo, que olha concessões, infraestrutura, talvez seja indiferente. Mas, para outros investidores, tem peso, pois estamos falando de candidatos com agendas muito diferentes", diz Toro. 

Para Lima, da Sobeet, a demora da economia brasileira em mostrar uma reação mais robusta influencias. "Há vários estudos mostrando essa relação. Entre 2007 e 2012, auge do crescimento, entrou muito investimento direto por causa da dinâmica do crescimento. As empresas viam o Brasil como um mercado potencial grande e crescente. Hoje, somos só grandes", diz. Para o economista, as empresas tendem a buscar mercados dinâmicos, como o da Ásia.

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