Mais de um quarto dos brasileiros ainda usa o velho carnê para fazer compras

Pesquisa mostra que 26,6% dos consumidores continuam fazendo compras no crediário

Retrato de mulher que segura carnês em uma das mãos e sorri
Margarida Alves de Araújo e seus carnês; a cozinheira tem cinco crediários - Robson Ventura/Folhapress
Gilberto Yoshinaga
São Paulo | Agora

Quando quer ou precisa comprar algo e não tem o dinheiro suficiente, a cozinheira Margarida Alves de Araújo, 56, não pensa duas vezes: se a loja oferece essa possibilidade, ela parcela no carnê e volta para casa com mais uma dívida.

“Sei que acabo pagando mais, mas é uma opção para poder comprar quando não tenho todo o dinheiro”, conta ela, que, quando foi abordada pela reportagem, andava com quatro carnês na bolsa.

No momento, Margarida está com cinco crediários abertos, usados para adquirir dois celulares com internet, duas TVs e uma cama. 

“Às vezes, uso o cartão de crédito, mas acho que, com o crediário, é mais fácil não perder o controle. É hábito antigo meu.”

Margarida faz parte do universo de 26,6% de brasileiros que ainda usam o crediário, segundo pesquisa feita pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas).

Ela diz que o marido e quatro dos cinco filhos com quem mora lhe pedem que contenha os impulsos de consumo.

“Mas não é só minha culpa. Alguns dos meus filhos também usam meu nome para fazer o crediário e eu é que acabo tendo de pagar.”

A forma de pagamento não é só consumismo, mas às vezes uma necessidade.

“A TV quebrou e, para não ficar sem, por exemplo, optei pelo crediário”, diz a professora Edna Medeiros, 70, que está terminando de pagar dois carnês. Além do televisor, ela parcelou um telefone celular.

Por ter liberação menos burocrática do que muitas linhas de crédito, o carnê acaba sendo uma modalidade de compra mais recorrente entre consumidores de baixa renda, mas é preciso ter controle.

“O crediário é uma alternativa interessante, se bem usado, porque, muitas vezes, acaba dando a falsa impressão de que se leva o produto sem pagar”, afirma Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.

“É importante organizar o orçamento e só realizar a compra se for possível arcar com os compromissos financeiros.”

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