'Minha dificuldade era aceitar ficar de fora do controle', diz dono da Sapore sobre fusão

Dona da rede Frango Assado acertou negócio com empresa de refeições da Copa 2014

Daniel Mendez, presidente da Sapore, empresa de refeições coletivas
Daniel Mendez, presidente da Sapore, empresa de refeições coletivas - Daniel Guimarães/Folhapress
Ana Paula Ragazzi
São Paulo

Foram seis meses de intensa negociação, mas na sexta-feira (15), a IMC (International Meal Company), dona das redes Viena e Frango Assado, e a Sapore, que produz refeições corporativas, assinaram o acordo para unir suas operações, conforme antecipou a Folha.
 
As duas empresas, de cara, percebiam que o negócio criaria valor para a operação de ambas, mas as dificuldades vieram em fechar o percentual que cada uma teria no novo negócio. Isso fica evidente no formato da operação. Daniel Mendez, empresário uruguaio dono da Sapore, queria ter participação de controle (50% mais uma ação), mas a atual administração e os acionistas da IMC não cederam a esse percentual.
 
O negócio é anunciado com Mendez ficando com 35% do capital da nova empresas e os acionistas da IMC, com 65%. No entanto, ao mesmo tempo será lançada, pela Sapore, uma oferta pública de aquisição de ações para 25% do capital da IMC, a um preço que envolve prêmio de 20% sobre a cotação atual da empresa em bolsa.

 

Se mais de 25% dos acionistas da IMC quiserem entregar seus papéis, haverá um rateio entre todos. Se menos de 25% dos acionistas concordarem, haverá uma operação de redução de capital da IMC.

Tudo isso foi pensado para que ao final do processo, Mendez tenha cerca de 42% da nova empresa, e não os 35% inicialmente divulgados, transformando-se no principal acionista da companhia. A conta dessa oferta por 25% pelas ações da IMC ficará com os atuais acionistas da empresa –a Sapore vai emitir uma dívida, calculada em R$ 387 milhões, que será depois abraçada pela IMC. Isso só foi possível porque a IMC era uma empresa sem endividamento relevante.
 
“Eu sempre fui dono da minha empresa, por isso a minha dificuldade em aceitar ficar de fora do controle”, afirma Mendez. “Mas no decorrer desse processo, eu entendi todo o aprendizado que existe para ser uma companhia aberta e todo o valor que isso tem. Por isso, concordei em ficar com os 42%”, diz o executivo.
 
Mendez será o presidente do conselho de administração da IMC. “Eu já exerço essa função na Sapore. Há mais um ano, convivo com uma gestão independente na empresa”, diz. Além dele, o conselho terá três indicados da Sapore e três da IMC.
 
Newton Maia, presidente da IMC, desde 2016, continuará no comando da nova empresa por um período de dois anos, ao lado da atual diretoria. A presença de Maia, responsável por uma reestruturação de muito sucesso na IMC, era uma exigência dos fundos que são acionistas da companhia.
 
Mendez e Maia avaliam que a convivência entre ambos será positiva. “A IMC nunca teve um conselho de perfil passivo. Nós sempre quisemos um envolvimento direto dessas pessoas no negócio”, diz. 
 
Por um período de três anos, para que essa gestão tenha a tranquilidade e a estabilidade necessárias, diz Mendez, o direito de voto de qualquer acionista da IMC será limitado a 15% das ações, mesmo que ele possua mais do que isso. A IMC, desde que o fundo Advent vendeu ações da empresa e reduziu sua fatia de 80% para 10%, em novembro do ano passado, não possui um controlador definido.
 
Os executivos não quiseram falar em números de sinergias estimadas para a junção das companhias. No mercado, primeiro se falou em R$ 150 milhões, mas nos últimos dias, esse número foi reduzido para entre R$ 50 milhões e R$ 90 milhões.
 
“Somos uma empresa com ações negociadas em bolsa e ainda não decidimos se vamos divulgar essa estimativa ao mercado”, afirma Maia. “Mas hoje o que podemos dizer é que conforme vamos conversando cada vez mais descobrimos novas possibilidades de sinergias”, diz o executivo.
 
As sinergias possíveis, diz Maia, são do ponto de vista de logística, distribuição e cozinhas inteligentes  —esse que seria um novo foco de desenvolvimento da IMC, mas que já funciona a pleno vapor na Sapore e será totalmente absorvido. Por outro lado, a Sapore poderá aprender com a IMC como potencializar seus negócios no varejo —no início deste ano, ela lançou a marca Yurban, uma espécie de loja de conveniência de comida fresca. Juntas, também pretendem ampliar a presença internacional.
 
Os executivos afirmam que, no momento, a empresa não prevê demissões. Os negócios, dizem, são distintos e complementares. “O time que faz compras hoje tem uma cabeça na IMC e outra na Sapore. Não podemos abrir mão disso nesse momento de integração”, diz Maia.

“Precisamos manter os diferenciais que levaram as empresas chegarem onde estão nesse momento. O que queremos é buscar as sinergias e fazer o negócio andar o mais rápido possível. Para isso, precisamos de gente”, afirma Mendez, destacando que a sua empresa cresceu muito em pessoal depois de servir as refeições na Copa e Olimpíada no Brasil e muitas dessas pessoas continuam por lá até hoje.

A operação ainda precisará ser aprovada pelos acionistas em assembleia e os executivos avaliam que a maioria deles já se mostrou favorável à operação. 

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