Pedro Parente vai assumir comando da BRF em maior desafio de sua carreira

Executivo vai tocar a empresa por um ano para liderar reorganização e preparar sucessor

Pedro Parente é o novo presidente executivo da BRF - Fábio Braga/Folhapress
Raquel Landim
São Paulo

O executivo Pedro Parente aceitou nesta quinta-feira (14) assumir a presidência-executiva global da BRF, gigante formada pela fusão de Sadia e Perdigão, pelos próximos 12 meses, num desafio que promete ser um dos mais complicados de sua bem-sucedida carreira como gestor.

Ele queria mais tempo com a família e relutava em aceitar o cargo logo após deixar o comando da Petrobras, mas foi convencido a tocar a BRF por um período de um ano, enquanto prepara seu sucessor e lidera o processo de reorganização da empresa.

A previsão é que a sua posse ocorra já na próxima segunda-feira (18). Parente assumirá o cargo após ter recebido o aval da comissão de ética da Presidência da República. Ele foi necessário porque  Parente deixou recentemente o comando da Petrobras

Na BRF, Parente também vai acumular a função de presidente do conselho de administração, posto que já ocupava desde 26 de abril no lugar do empresário Abilio Diniz, para evitar reabrir um conflito entre os principais acionistas. Havia dúvidas se sua saída do conselho detonaria uma nova troca de todo o colegiado.

Parente tem longa experiência empresarial, considerada impressionante pelo mercado em particular no que se refere à solução de crises.

Foi o responsável por gerir o apagão de energia elétrica do governo Fernando Henrique Cardoso, comandou a Bunge Alimentos, o grupo RBS e recuperou a Petrobras após os escândalos revelados pela Lava Jato.

Sua tarefa na BRF, no entanto, promete ser ainda mais complicada. As duas gigantes —Petrobras e BRF— têm problemas parecidos —endividamento alto e resultados operacionais ruins—, mas Parente não dispõe das mesmas ferramentas para resolvê-los.

Sob o comando de Parente, a Petrobras acelerou o plano de venda de ativos, o que reduziu o endividamento, e racionalizou a política de preços. O executivo, aliás, renunciou à presidência da estatal, há duas semanas, após perder a autonomia para determinar os preços, após a paralisação dos caminhoneiros.

Já a BRF não tem tantos ativos fora do seu "core business" para vender —os principais, como a fabricante de lácteos Elegê, foram transacionados anos atrás— e só vai conseguir reajustar preços no médio e longo prazo se for bem-sucedida em voltar a ganhar participação de mercado.

Segundo analistas que acompanham de perto a companhia, Parente terá três grandes desafios à frente da BRF depois da desastrosa gestão de Abilio e do fundo Tarpon.

O primeiro é remontar o comando da companhia, que hoje tem várias vagas estratégicas abertas, como as diretorias de marketing, operacional, compliance (que trata de transparência) e jurídica.

O segundo desafio é ajustar a estrutura de capital da BRF. A empresa não tem um problema imediato de liquidez, porque sua dívida de curto prazo ainda é inferior a sua disponibilidade de caixa, mas a situação está longe de ser confortável.

Na gestão Abilio, a dívida líquida da BRF saltou de R$ 4,3 bilhões em 2003 para R$ 13,3 bilhões em 2017. A empresa realizou 15 aquisições no exterior nesse período, por cerca de R$ 5 bilhões, e promoveu um programa agressivo de recompra de ações, gastando mais R$ 4,5 bilhões.

O terceiro desafio é reduzir os custos operacionais da gigante de alimentos, melhorando a eficiência das fábricas, e retomar a participação de mercado perdida para concorrentes como a Seara.

Nos últimos dois anos, a BRF queimou caixa e acumulou prejuízos anuais próximos de R$ 1 bilhão. E tudo isso em um cenário bastante adverso.

A companhia hoje sofre com a alta dos custos dos grãos, principalmente milho e soja, com o bloqueio do mercado europeu à carne de frango brasileira por causa da Operação Carne Fraca, com ameaças de perda de espaço na Arábia Saudita, além do impacto da paralisação dos caminhoneiros, que ainda não foi calculado, mas reduziu exportações e provocou a morte de animais.

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