Descrição de chapéu MPME

Produtos artesanais de marca própria impulsionam o lucro de restaurantes

Itens devem ser ligados à identidade do estabelecimento para aumentar as chances de sucesso

Flávia G. Pinho
São Paulo

O ramo de restaurantes deve crescer 4,5% neste ano, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP). Contudo, as taxas de insucesso são elevadas: de cada 100 estabelecimentos, 35 fecham no primeiro ano de vida, diz o Sebrae.

Para aproveitar a tendência de expansão e não perder o fôlego, empresários têm investido em produtos de marca própria, que se tornam uma fonte de receita.

Desde a inauguração, há dez anos, o restaurante paulistano Le Manjue, que explora o segmento da alimentação saudável, usa nas sobremesas uma ganache de chocolate à base de biomassa de banana verde. Criada pelo chef Renato Caleffi, a receita não tem lactose, glúten ou açúcar.

Clientes começaram a pedir para comprar o produto, e a demanda cresceu.

Há três anos, o Le Manjue investiu R$ 500 mil para montar uma pequena fábrica, de 120 m². Nesse período, a produção passou de 1.000 para 10 mil potes de 150 gramas por mês, com oito funcionários.

A ganache Amu é vendida a R$ 20 no restaurante, por ecommerce e em redes de varejo. Segundo o sócio Rafael Miranda, 39, o doce responde por 10% do faturamento.

Renato Caleffi (esq.) e Rafael Miranda, do Le Manjue, posam com os potinhos de ganache da casa
Renato Caleffi (esq.) e Rafael Miranda, do Le Manjue  - Adriano Vizoni/Folhapress

A demanda vai aumentar consideravelmente a partir de julho. Miranda assinou novo contrato com a rede Pão de Açúcar, ampliando a distribuição. Das 20 lojas atuais, passará a atender 120. O empresário avalia se será preciso terceirizar parte da produção ou investir em uma fábrica maior.

O sucesso da ganache motivou o restaurante a lançar um segundo produto próprio, a cerveja Uma, também sem glúten. O volume é pequeno, cerca de 20 mil litros por ano. Toda a produção foi terceirizada desde o início.

De acordo com Léo Texeira, 40, sócio da NaMesa Consultoria, a escolha do formato mais rentável —terceirização ou produção própria— depende do volume.

O consultor explica que quem opta pela fabricação própria precisa se adequar às normas da vigilância sanitária (inclusive para criação do rótulo), ter nutricionista responsável e desenvolver a logística de distribuição.

Quem terceiriza fica livre dessas obrigações, mas a indústria retém uma boa parcela do faturamento, diz Texeira.

Ao escolher qual produto será vendido diretamente aos clientes, o consultor recomenda priorizar itens artesanais que sejam fortemente ligados à identidade do restaurante.

Para Ivo Abrahão, 44, dono do Tavares, em São Paulo, foi fácil decidir. Desde que abriu as portas, em 2011, os pães assados na casa fazem sucesso.

Na época, saíam de 10 a 15 pães por fim de semana —hoje são 160 por dia. Em 2013, Abrahão aprimorou a padaria e adotou a fermentação natural. A partir daí, a demanda cresceu e foi preciso contratar mais um funcionário.

A padaria do restaurante Tavares, na região central de São Paulo, com bandejas de pão e outros produtos expostos
A padaria do restaurante Tavares, na região central de São Paulo - Alberto Rocha/Folhapress

No fim deste ano, a padaria vai ganhar espaço próprio. A obra está orçada em R$ 700 mil, incluindo equipamentos.

O novo espaço será visível da calçada e a produção vai quadruplicar. Mas não há previsão de mais contratações: o setor funcionará no sistema de autoatendimento.

Abrahão espera que a participação da padaria no faturamento passe de 10% para 25%.

Já Carla e Paulo Abbud, do restaurante árabe Saj, receberam em 2014 a proposta do israelense Yoav Nevo, 39, para vender as pastas da casa.

O trio fundou uma empresa dentro do grupo, a Derbak Foods, e criou nove produtos, que chegam a 200 pontos de venda no estado de São Paulo. Há 40 pessoas na produção.

Embora as pastas estejam há quatro anos no varejo, ações de marketing continuam entre as prioridades —há degustações diárias em cerca de 40 pontos de venda.

 

 

R$ 180 bilhões
é o valor que a indústria de alimentação fora do lar deve movimentar em 2018

4,5%
é a perspectiva de crescimento do setor neste ano, contra 1,94% de alta no PIB do país

12% 
das empresas na área de bares e restaurantes têm lojas virtuais

Fontes: Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP), Sebrae e Relatório Focus, do Banco Central

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.