Politicamente, a saída de Pedro Parente da Petrobras era inevitável. O executivo só topou entrar na empresa em 2016 se tivesse carta branca para alinhar suas políticas às do mercado.
O problema é que a posição monopolista da Petrobras no refino de petróleo e na definição de preços de combustíveis impossibilita fazer o que Parente fez, a indexação diária à variação do preço internacional da commodity, sem correr enormes riscos.
Enquanto o petróleo estava barato, tudo bem. Bastou ele subir, e sempre haverá essa ciclotimia, ao mesmo tempo em que o dólar experimentou uma disparada, para a coisa degenerar na custosa paralisação dos caminhoneiros.
Naturalmente, nessas horas bodes expiatórios são procurados. E Parente virou o da vez, com até políticos do PSDB ao qual é associado pedindo sua cabeça. Isso, mais a coerência mínima de sair porque a partir de agora sua condição prévia para trabalhar acabou, selaram a demissão. A BRF deverá enfim ganhar um novo presidente-executivo.
Para a estatal, é um risco enorme. Foi a intervenção do governo, histórica e em muitos casos ideológica, que levou a empresa à lona. Políticas demasiadamente intervencionistas e corrupção generalizada são o corolário da defesa da "nossa Petrobras".
Claro que ajustes tinham de ser feitos, e talvez um otimista até acredite que os meses restantes do velório do governo Michel Temer possam abrigar isso, mas é mais fácil crer na volta da irresponsabilidade.
O próximo presidente, seja lá quem for, acaba de ganhar mais uma pergunta obrigatória a responder antes da eleição. Os sinais pendulares da maioria dos pré-candidatos não foram até aqui muito animadores, até porque a população ainda considera a empresa uma espécie de bezerro de ouro a ser venerado, como a pesquisa Datafolha de terça (29) indica.
Para Temer, há o simbolismo extra da perda de uma das pilastras que sustentava a parte ainda respeitada do governo. Sem ele e Henrique Meirelles (ex-Fazenda), que abandonou o naufrágio para tentar uma aventura presidencial para lá de incerta, sobra no "dream team" que o mercado enxergava na economia um solitário Ilan Goldfajn (Banco Central).
A surra política aplicada na crise dos caminhoneiros ao sucessor de Meirelles, o respeitado técnico Eduardo Guardia, é prenúncio da tentação populista que acompanhará o país nos próximos meses e, pior, deverá influenciar o debate eleitoral --e não para melhor.
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