Transporte vive guerra de preços há 3 anos, diz pesquisa

Para executivos, país vive situação de perde-perde, e pode piorar em 2019

São Paulo

Enquanto a maioria das grandes transportadoras brasileiras esperava crescer em 2018, os donos das cargas cortavam gastos com fretes pelo terceiro ano consecutivo.

O descompasso, explícito na pesquisa Visão Gestão de Fretes Brasil, é uma das peças do quebra-cabeças do transporte de carga no Brasil, que desembocou em paralisação de 11 dias no mês passado.

A pesquisa ouviu cerca de cem embarcadoras (empresas que contratam fretes, como indústrias, hipermercados e redes de varejo), em segmentos de carga de alto valor, como remédios, cosméticos, autopeças e eletrônicos.

 

São segmentos em que o transporte precisa ser de melhor qualidade e, por outro lado, o custo do frete pesa menos que no caso de mercadorias de valor mais baixo.

O levantamento, que será apresentado nesta quarta (20)pela consultoria RC Sollis e a empresa de tecnologia GKO, mostra que o custo do frete é hoje o atributo prioritário na hora de contratar, à frente do prazo de entrega.

A balança da oferta e demanda jogou contra as empresas de logística nesse período: passou a faltar frete e sobrar caminhão. Enquanto o movimento caiu 26% abaixo do registrado entre 2003 e 2007, segundo cálculos da consultoria A.C.Pastore & Associados, a frota de caminhões subiu 25% entre 2010 e 2016, chegando a 2,684 milhões.

Isso favoreceu os clientes na negociação dos preços. 

Se os números do setor como um todo já apontam para um descompasso, a situação é ainda pior para produtos de consumo, já que o volume de carga do agronegócio não caiu, diz o economista e especialista em logística Ricardo Araújo, sócio da RC Sollis.

A pesquisa mostra que as transportadoras esperavam desafogar as contas em 2018, mas as expectativas foram frustradas porque as embarcadoras reduziram de novo seus orçamentos para fretes.

As grandes empresas, por sua vez, contratam autônomos, e transferiram o arrocho para eles. A alta no preço do diesel foi só o estopim da crise, diz o engenheiro Celso Queiroz, também sócio da RC Sollis e há 40 anos no setor.

Paradoxalmente, o aperto aumentou com a contratação, pelas embarcadoras, de executivos com experiência em logística, que conseguiram encontrar com mais facilidade formas de baratear os fretes.

“A situação foi levada ao limite. Passamos de uma situação ganha-perde para uma de perde-perde”, diz Queiroz.

O desequilíbrio do setor tem consequência negativa mais ampla, diz Araújo: “Como a carga tributária é muito alta, deixar de pagar tributo passa a ser um recurso da transportadora para não quebrar”.

Pedro Francisco Moreira,  presidente da Abralog (Associação Brasileira de Logística), diz que o risco de que a sonegação cresça é real. “É indesejável e errado, mas pode ser o único fôlego para algumas empresas”, afirma ele.

Para o executivo, há 30 anos no setor, clientes e transportadoras precisam encontrar soluções para a guerra de preços, sob risco de agravar ainda mais a situação em 2019.
 

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