Descrição de chapéu The New York Times

Trump garante a presidente da Apple que iPhone será poupado de tarifas à China

Tim Cook foi à Casa Branca no mês passado conversar com o presidente dos EUA

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Jack Nicas Paul Mozur
San Francisco | The New York Times

​O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ao presidente-executivo da Apple, Tim Cook, que o governo americano não vai impor tarifas de importação para iPhones montados na China,  de acordo com uma pessoa informada sobre as negociações que pediu para não ser identificada.

A Apple segue preocupada, no entanto, com a possibilidade de que a China retalie de maneiras que prejudiquem seus negócios, de acordo com três pessoas próximas à empresa, que não autorizaram a divulgação de seus nomes.

Cook é o líder da companhia de capital aberto mais valiosa do planeta, mas recentemente vem tendo de agir mais como se fosse o principal diplomata do setor de tecnologia.

No mês passado, ele visitou a Casa Branca para alertar o presidente Donald Trump de que sua retórica dura sobre a China poderia ameaçar a posição da Apple no país. Em março, em uma conferência de cúpula em Pequim, ele apelou por mais calma no relacionamento entre os dois países mais poderosos do planeta.

No duelo comercial e tecnológico entre os Estados Unidos e a China, a Apple e Cook têm muito a perder. Com 41 lojas, e vendas de milhões de unidades do iPhone no país, pode-se argumentar que nenhuma outra empresa americana na China é tão importante, e um alvo tão grande.

Desde que assumiu o comando da Apple, substituindo o cofundador Steve Jobs em 2011, persistem as questões sobre a capacidade de Cook, 57, para recriar a mágica que resultou no iPhone e no iPod.

Para Cook, o grande avanço conquistado —e talvez seu legado como sucessor de Jobs— depende não de um produto, mas de uma geografia: a China.

Sob a liderança de Cook, os negócios da Apple na China cresceram de um modesto sucesso a um império com receitas anuais de cerca de US$ 50 bilhões (R$ 187,7 bilhões) —pouco menos de um quarto do faturamento mundial total da empresa. Ele o fez enquanto a China reforçava seu controle sobre a internet e excluía de seu mercado outros gigantes da tecnologia americana.

Agora, depois que o governo Trump anunciou na sexta-feira (15) que iria adiante com sua decisão de impor tarifas sobre a importação de US$ 50 bilhões em produtos chineses, e de ameaças chinesas de retaliação, a Apple se vê apanhada entre as duas partes.

A Apple teme que "a máquina da burocracia chinesa entre em operação", ou seja, que o governo chinês possa causar atrasos em sua cadeia de suprimentos ou reforce a fiscalização de seus produtos, invocando preocupações de segurança nacional, disse uma pessoa próxima à empresa.

A Apple já enfrentou retaliações desse tipo no passado, disse outra pessoa, e a agência de notícias Reuters reportou que veículos da Ford estão enfrentando atrasos em portos chineses.

Existe também a preocupação de que a Apple enfrente represálias pelos esforços legais e regulatórios de Washington que dificultaram a venda dos celulares e dos produtos de telecomunicações da Huawei nos Estados Unidos.

Executivos e lobistas da Apple em Pequim e Washington, sob a liderança de Cook, vem tentando trabalhar com as duas partes. Eles criaram um relacionamento estreito com o governo do presidente chinês Xi Jinping, em um esforço conhecido como "Red Apple" pelos empregados da Foxconn, a parceira industrial da Apple, em menção à cor oficial do Partido Comunista chinês, o vermelho [red].

Ao mesmo tempo, Cook vem apelando ao governo Trump que compreenda que uma guerra comercial fará mal à economia —e à Apple.

ENCONTROS

Cook, que fala um pouco de mandarim, participou dos eventos políticos mais importantes da China, em um ano crucial para Xi. Dias depois que o congresso do Partido Comunista inscreveu as ideias e o nome de Xi na constituição, elevando-o ao mesmo status de Mao Tse-tung, Cook e um pequeno grupo de executivos chineses e americanos participaram de uma reunião na qual Xi falou de inovação e reforma.
Cook há muito defende a presença da Apple na China como forma de ajudar a mudar o país pelo lado de dentro.

"Cada país do mundo decide sobre suas leis e regulamentação. E assim a escolha é: você participa ou você fica de fora, gritando para tentar dizer como as coisas deveriam ser?", ele disse em um evento da revista Fortune sobre a China, em dezembro. "Você entra em campo, porque ninguém muda coisa alguma se ficar de fora".

Cook também vem dedicando seu tempo a percorrer os corredores do poder em Washington. No mês passado, ele visitou a Casa Branca para uma reunião com Trump e o principal assessor econômico do presidente, Larry Kudlow. 

Cook começou por aplaudir as novas regras para os impostos das empresas e lembrou a Trump que a Apple havia prometido contribuir com US$ 350 bilhões para a economia dos Estados Unidos nos próximos cinco anos, de acordo com duas pessoas informadas sobre o que o Cook disse.

"Ele está disposto a se esforçar para colaborar com o governo Trump, porque a Apple tem provavelmente mais em jogo do que qualquer outra empresa de tecnologia, com relação à China e tarifas", disse Gene Munster, veterano analista da Apple e sócio do grupo de investimento Loup Ventures.

O espectro de uma retaliação chinesa contra a Apple se agravou desde que o governo americano impôs penalidades ao grupo chinês de tecnologia ZTE por violação das sanções americanas contra o Irã e a Coreia do Norte. Mas o governo recuou das penalidades mais severas, este mês, e disse que multaria a empresa em US$ 1 bilhão e que a empresa indicaria uma equipe de fiscalização selecionada pelos Estados Unidos.

Outras medidas contra a Huawei, uma das maiores empresas chinesas de telecomunicações, podem gerar novos desgastes. A pressão do congresso americano resultou em cancelamento de um acordo sob a qual a AT&T venderia celulares Huawei nos Estados Unidos, por exemplo.

A Apple, enquanto isso, assinou um acordo com a maior empresa chinesa de telefonia móvel, a China Mobile, que lhe oferece um canal direto de vendas para os 900 milhões de clientes da companhia chinesa.

A competição para vender smartphones no país está se intensificando, com diversas empresas chinesas oferecendo produtos de qualidade semelhante - mas preços em geral mais baixo.

As visitas frequentes de Cook à China são parte dos esforços crescentes da Apple para cortejar a liderança chinesa, iniciados em 2016 depois que as autoridades chinesas subitamente proibiram a operação das lojas iTuneMovies e iBooks Store, da Apple, no país.

A Apple criou dois centros de pesquisa e desenvolvimento na China, fez um investimento de US$ 1 bilhão no serviço de carros chinês Didi Chuxing, e criou um novo cargo de presidente de operações na China, cujo ocupante se reporta diretamente a Cook. A empresa apontou Isabel Ge Mahe, nascida na China, para o posto.

A Apple também cumpriu as ordens chinesas de armazenar dados sobre seus clientes no país em servidores instalados na China, e de retirar certos apps de sua App Store, como o app do The New York Times e muitos aplicativos que permitiam que usuários chineses contornassem a censura do país, que bloqueia o acesso a sites como o Facebook e o Twitter.

A empresa tem motivo para temer retaliação. Em 2014, o governo Obama indiciou cinco hackers ligados às forças armadas chinesas, agravando as tensões já sérias que surgiram com a divulgação de operações de escuta americanas por Edward Snowden, que trabalhava para os serviços de inteligência dos Estados Unidos.

Meses mais tarde, as autoridades regulatórias da China retardaram a aprovação do iPhone 6 enquanto conduziam revisões adicionais de segurança do aparelho. Executivos da Apple entenderam a decisão como retaliação, disseram pessoas informadas sobre o assunto, que não havia sido revelado anteriormente.

O maior fator de influência da Apple sobre o governo chinês é o amor dos consumidores do país pelos produtos da empresa, disse Dean Garfield, do Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação, uma organização setorial que representa a Apple e outras empresas de tecnologia.

No entanto, acrescentou Garfield, os consumidores chineses também amariam o Facebook e o Google, dois produtos bloqueados na China. "Há limites", ele disse. "Xi e o partido farão o que servir ao seu interesse".
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI


 
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