Acordo faz Embraer perder quase R$ 3 bilhões na Bolsa

Valor a ser pago pela Boeing e incertezas no acordo frustram investidores

Tássia Kastner Danielle Brant
São Paulo e Nova York

A Embraer perdeu quase R$ 3 bilhões em valor de mercado nesta quinta-feira (5), reflexo das incertezas dos investidores com os termos do acordo fechado entre a companhia brasileira e a Boeing. A avaliação de analistas do mercado financeiro, no entanto, é que o acordo é bom para ambas.

Uma explicação para a desvalorização foi a frustração com o valor da operação.

A Boeing pagará US$ 3,8 bilhões (R$ 14,9 bilhões) por 80% da operação de jatos comerciais da Embraer em uma nova empresa. O negócio avalia o segmento de jatos da brasileira em US$ 4,75 bilhões (R$ 18,7 bilhões), patamar equivalente ao valor de mercado atual. Estimativas de mercado previam de US$ 6 bilhões a US$ 10 bilhões.

Desde que veio a público que as duas companhias negociavam um acordo, em 21 de dezembro, as ações da empresa brasileira dispararam e acumularam alta de 63% até esta quarta (4), fazendo subir o valor de mercado da Embraer.

Nesta quinta, as ações da empresa caíram 14,29% e pesaram sobre o Ibovespa, que recuou 0,25%, a 74.553 pontos.

Quando abriu seu capital, em dezembro de 1993, a Embraer era avaliada em R$ 14,2 milhões em valor de mercado, aponta levantamento feito por Einar Rivero, da empresa de informações financeiras Economática. A Embraer fechou esta quinta valendo R$ 16,95 bilhões. O ápice foi registrado no fim de novembro de 2015, quando chegou a R$ 22,4 bilhões.

 

Desde dezembro, os papéis da Embraer acumulam alta de 40%. Para Mario de Avelar, sócio da Avantgarde Capital, é nessa valorização que reside a frustração de investidores.

"Quando saíram as primeiras notícias de que havia essa negociação, o mercado começou a projetar o valor da operação, que veio aquém do que eles achavam que seria", diz.

Para a equipe do Credit Suisse, o anúncio pode ter sido prematuro. Há detalhes que foram omitidos, como o que as empresas esperam receber após o pagamento de impostos, além do volume de dívida da Embraer que será transferido a nova empresa. Também não ficou claro qual o capital necessário para financia-la.

Por fim, não foi dito qual parcela dos US$ 3,8 bilhões será reinvestida na Embraer ou irá para o pagamento de dividendos extraordinários.

Pete Skibitski, analista do banco de investimento Drexel Hamilton, diz ainda que há uma incerteza sobre qual será o desempenho da Embraer, que terá 20% da operação de jatos na nova empresa. "A empresa vai perder parte do lucro, então isso pode afetar as ações e dividendos."

Há ainda a espera da autorização do governo brasileiro, que detém uma 'golden share' (ação com direito a veto). O projeto deve ser submetido às autoridades nos próximos meses. Se houver atraso, a permissão ficará para o próximo presidente em um cenário eleitoral incerto --Michel Temer é visto como mais seguro para o negócio.

A repercussão negativa do mercado financeiro é minimizada por analistas, que apontam fatores positivos do acordo. Em relatório, o Credit Suisse diz que Embraer se beneficiaria da influência da americana para negociar com fornecedores.

O banco diz ainda que a parceria faz sentido porque investimentos elevados em desenvolvimento de aeronaves não são condizentes com a chegada de novos concorrentes.

"Portanto, vemos a consolidação como uma solução razoável, na qual as companhias compartilham investimentos e preservam um retorno sobre capital investido decente."

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