Blockchain agiliza uso de app para investir fora do Brasil

Criador do negócio, Roberto Lee, busca estreitar elo dos investidores com EUA

Ana Paula Ragazzi
São Paulo

Há quatro anos, Roberto Lee vendia sua corretora Clear para a XP Investimentos. O objetivo da XP era reforçar o potencial tecnológico, ponto mais valioso da Clear. A plataforma de investimentos já acumulava algumas aquisições de corretoras para absorver as carteiras de clientes e crescer de tamanho, mas precisava desse reforço de tecnologia.

A Clear foi acoplada à XP, e Lee foi junto. A expectativa, ele conta, era acompanhar a demanda de 200 clientes por dia. Quando chegou lá, a realidade foi mais de dez vezes maior que esse número.

A partir dessa experiência, o executivo relaciona o tamanho do mercado de capitais no Brasil e o cenário de juros mais baixos no país, que, para ele, fará o investidor procurar alternativas mais rentáveis do que a taxa Selic, hoje em 6,5%. "Levando em consideração a demanda que se via na XP, em 2019 haverá cerca de R$ 250 bilhões em recursos de brasileiros que, pelo tamanho do nosso mercado, não terão para onde ir", diz.

Empresário Roberto Lee, que está lançando a Avenue, nova plataforma de investimentos internacionais - Karime Xavier/Folhapress

Foi com esse número na cabeça que Lee deixou a XP, após a compra da empresa pelo Itaú, e partiu para seu próximo negócio, a Avenue Securities, uma corretora, com sede em Miami, nos Estados Unidos.

A Avenue quer retirar burocracias para que os investidores da América Latina possam investir na bolsa americana. Operacionalmente, tudo vai funcionar por meio de aplicativos. O investidor brasileiro deposita os recursos para o app da Avenue Brasil, que transfere o dinheiro para a Avenue nos Estados Unidos.

A tecnologia usada para isso é o blockchain. Considerada inovadora, permite o registro de dados em blocos digitais de informação à prova de violação de terceiros. Lee vai utilizar o sistema como uma câmara de compensação (clearing no jargão do setor), registrando a quantidade de recursos aqui e sua correspondência no exterior.

A Avenue manterá nos Estados Unidos um colchão de recursos para garantir que a aplicação seja feita imediatamente, antes mesmo de o dinheiro do Brasil aparecer lá fora. Ele se compromete, ainda, a pagar eventuais resgates em horas. O investidor terá um benefício também no fechamento do câmbio, que será feito não individualmente, mas a partir de volumes maiores, de vários clientes.

Para fazer o investimento, a Avenue terá um site em português, com explicações acessíveis para que o investidor possa fazer suas aplicações sozinho. Também pedirá o preenchimento de um cadastro, como qualquer outra corretora, por conta das regras de adequação do perfil do investidor ao risco que ele quer correr (conhecido como suitability).

A ideia é começar as operações em setembro, após todas as autorizações das autoridades americanas. Nesse primeiro momento, o foco será investimentos em renda fixa, como títulos de dívida das empresas e de países, além de fundos que replicam índices de ações ou renda fixa, os chamados ETFs (sigla em inglês para Exchange Traded Funds).

Segundo Lee, o investidor de varejo não faz aplicações no exterior por falta de conhecimento e medo dos custos e da burocracia. "Se ele quisesse fazer isso por meio de corretora brasileira, teria de pagar taxas aqui e lá no exterior, além do agente autônomo para fazer os investimentos", diz.

A Avenue também investiu numa produtora de cinema que fará filmes educacionais sobre o investimento no exterior, batendo na ideia de fazer com que as pessoas tenham parte de seus investimentos também em dólares.

Não há um investimento mínimo fixado pela Avenue, mas o foco da corretora são investidores com entre US$ 50 mil e US$ 1 milhão disponíveis (na cotação atual, o equivalente a algo entre R$ 193 mil e R$ 3,87 milhões).

Lee tem pelo menos 20 anos de mercado financeiro. Trabalhou na Ágora Corretora e foi um dos criadores da WinTrade. O principal investidor da Avenue é a Vectis Partners, que tem entre os sócios Patrick O' Grade (ex-XP), Paulo Lemann (filho de Jorge Paulo Lemann, da 3G) e Alexandre Aoude (ex-Deutsche Bank). Os investimentos no negócio são de cerca de R$ 25 milhões.

 

Roberto Lee, 38

Empresário com 20 anos no setor financeiro, trabalhou na corretora Ágora antes de partir para a iniciativa privada onde se tornou referência pelo uso de novas tecnologias na gestão de investimentos. Fundou várias empresas. Antes da Avenue Securities, em Miami (EUA), formou, em 2004, a WinTrade e, em 2012, a Clear, que vendeu para a XP Investimentos há quatro anos

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