Brasil eleva vendas e ganha mais exportando aço para os EUA

Forte demanda americana e alta no preço beneficiam países que estão fora da taxação

Mariana Carneiro
Brasília

As siderúrgicas brasileiras ampliaram fortemente as vendas para os Estados Unidos em junho, no primeiro mês de vigência das cotas criadas pelo governo de Donald Trump para limitar a entrada de aço e alumínio do exterior.

Em relação a junho do ano passado, as exportações de aço do Brasil aos EUA quase triplicaram. 

Na comparação com maio (quando a produção caiu sob impacto da greve dos caminhoneiros), as vendas aumentaram 395%, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior levantados a pedido da Folha.

A alta ocorreu apesar da iniciativa do governo do republicano de frear as compras no exterior para incentivar a indústria americana.

Brasil, Coreia do Sul e Argentina se livraram da tarifa extra de 25%. Mas se comprometeram em limitar as exportações à média dos últimos três anos, o que no caso do Brasil deve implicar uma redução das vendas do aço semiacabado neste ano em 7% —o que até agora está longe de ocorrer.

De janeiro a junho, as siderúrgicas brasileiras elevaram em 10% o volume de aço vendido aos Estados Unidos. Com a escalada de preços, as receitas com as exportações subiram 32,5%.


Ganhos para brasileiros 

+10% É a alta na quantidade de aço vendida aos EUA neste ano, de janeiro a junho 

+32,53% É a alta na receita obtida com a venda de aço aos EUA, na esteira da alta de preços provocada pela barreira de Trump


Um empresário do ramo siderúrgico contou à reportagem, sob a condição de anonimato, que, com a sobretaxa imposta à maioria dos países, todos passaram a vender aço pelo menos 25% mais caro aos EUA.

Os que ainda têm espaço dentro da cota para vender, como o Brasil, estão tentando exportar o mais rapidamente possível, para tentar aproveitar alta da demanda durante a temporada de preços elevados.

A bobina de aço laminado a quente, negociada em contratos com vencimento em julho na Bolsa de Nova York, alcançou US$ 916 (R$ 3.518) nesta quarta-feira (11), alta de 48% em relação à cotação esperada um ano atrás.

Alguns produtos, no entanto, como os tubos de aço revestidos sem costura, já bateram no limite. Novas vendas, só em 2019.

Os preços começaram a acelerar no fim de fevereiro, quando Trump indicou que levantaria as barreiras ao produto importado.

A alta de preços no último mês levou o secretário de Comércio, Wilbur Ross, a ameaçar punir empresas que, segundo ele, estejam lucrando de maneira ilegítima com as tarifas que elevaram do dia para a noite o aço importado em 25%.

 

A forte demanda por aço importado somada à limitação de oferta levou empresários americanos a especularem se o governo dos EUA vai autorizar a ampliação da compra de Brasil, Argentina e Coreia do Sul, mediante pedido de importadores locais. O Itamaraty nega que haja negociação neste sentido.

Por ora, o governo Trump tenta administrar os milhares de pedidos de importação sem taxa extra do aço vindo de países como China, Suécia, Bélgica, Alemanha e Japão. Todos estão hoje sujeitos à sobretaxa de 25%.

Em audiência no Senado americano, no último dia 20, Ross afirmou que o Departamento de Comércio recebeu mais de 20 mil pedidos de exclusão da sobretaxa por importadores americanos.
Naquele momento, o secretário disse que havia concluído a análise de 98 solicitações, das quais 42 foram aprovadas.

O efeito de alta de preços era esperado por economistas críticos ao protecionismo de Trump, que viam na tentativa de barrar importações, no momento em que a economia dos EUA acelera, um sinal verde para remarcações.

O presidente da AEB (associação de comércio exterior do Brasil), José Augusto de Castro, observa que a expectativa é que o preço do aço siga sob pressão nos EUA, na esteira do maior crescimento da economia americana, o que dará ganhos adicionais ao exportador brasileiro que ainda tiver espaço na cota para vender.

Haveria também uma razão para a alta das exportações ligada ao mercado brasileiro: os embarques foram afetados pela paralisação dos caminhoneiros e foram recompostos.


AS MEDIDAS DE TRUMP

  • Qual foi a barreira levantada pelo presidente dos EUA?

Desde o fim de maio, o governo americano deu duas opções às siderúrgicas brasileiras: limitar, de forma voluntária, exportações para os EUA ou serem taxadas em 25%. As siderúrgicas brasileiras optaram pela limitação

  • Qual foi o impacto na indústria brasileira?

Segundo cálculos do Instituto Aço Brasil, que reúne as siderúrgicas que produzem no país, isso representa uma redução de 7% na quantidade de aço semiacabado vendido aos EUA e um corte de pelo menos 20% na exportação de aço acabado

  • O que está acontecendo agora?

Com a alta de preços do aço nos EUA e após o impacto da greve dos caminhoneiros, as exportações em junho dispararam

 

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