Camargo Corrêa Infra anuncia mudança no seu comando

Décio Amaral deixa presidência e vai para o comitê de estratégia e desenvolvimento sustentável

São Paulo

A Camargo Corrêa Infra, empresa que derivou da Camargo Corrêa após a Lava Jato, anuncia mudança no seu comando nesta sexta-feira (20).

Décio Amaral deixa presidência e vai para o comitê de estratégia e desenvolvimento sustentável da mesma Camargo Corrêa Infra.

No seu lugar assume Januário Dolores, diretor-executivo de operações que foi levado para a empresa por Amaral. Eles iniciam uma transição de comando que vai se estender até 1º de setembro.

No comitê de estratégia e desenvolvimento sustentável, área criada na empresa há poucos meses, Amaral permanecerá atuando nas discussões estratégicas, em temas ligados a produtividade, inovação e responsabilidade sócio ambiental, segundo comunicado da empresa.

"Como já havia sinalizado para o mercado, sua atuação na CCInfra teria começo, meio e fim, baseado na sua expertise de desenvolver, estruturar ou readequar projetos de alta complexidade, deixando-os sustentáveis, eficientes e prontos para o crescimento", diz nota divulgada pela empresa.

Januário Dolores chegou à Camargo Corrêa Infra em julho de 2017. Sua trajetória anterior inclui empresas como  ABB, Alstom e GE. Antes da Camargo Corrêa Infra, o executivo foi diretor-geral para a América Latina da GE Hydro. 

Após ser a primeira empresa dentre as envolvidas na Lava Jato a fechar um acordo de leniência, em 2015, a Camargo Corrêa entrou em um processo de reorganização de seus negócios, com a formação da  Camargo Corrêa Infra, novo braço do grupo, criado para tocar apenas os novos projetos da empresa.  Tudo o que estivesse relacionado ao passado, incluindo a Operação Lava Jato —concessões, obras, negociações com as autoridades— ficou isolado na construtora, que é controladora da CCInfra. E as companhias passaram a ter gestões separadas entre si. 

O movimento veio na esteira de um processo maior de transição que a holding Camargo Corrêa vinha anunciando nos últimos anos, para um novo modelo com foco na gestão de portfólio de investimentos de longo prazo.

Após o baque das revelações da Lava Jato, a empresa teve de vender alguns de seus investimentos para ajudar a sair das dificuldades provocadas pela crise econômica. Foi assim que ela se desfez de nomes importantes de seu portfólio como Alpargatas e a participação na CPFL.  O resultado foi uma empresa menor. Ela saiu de um faturamento de R$ 5,82 bilhões em 2013 para R$ 2,27 bilhões em 2017. O número de funcionários também encolheu de 31,9 mil para 13,3 mil no mesmo período. 

Em abril, o então presidente da companhia, Décio Amaral, disse à Folha que a Camargo Corrêa foi corajosa ao ser a primeira a fazer leniência e que, se alguém pedir propina, será denunciado. “Somos radioativos, não peça propina”, afirmou.

Amaral disse ainda que o Brasil não precisa de novas leis para acabar com a corrupção —bastaria acabar com o corruptor.  E ainda fez uma convocação: “Convido toda a liderança empresarial do Brasil a fazer como a gente. Aqui não tem corruptor. Se todo mundo do setor privado agir como a gente não precisa de lei nenhuma.”

 

Cronologia do caso Camargo Corrêa

Mandados de prisão
nov.2014 Polícia Federal cumpre mandados de prisão, busca e apreensão em construtoras, entre elas, a Camargo Corrêa, por suspeita de cartel. Executivos do grupo são presos: João Auler, ex-presidente do conselho de administração, Dalton Avancini, então presidente e seu vice Eduardo Leite

Delação premiada
fev.2015 Executivos fecham acordo de delação e, no mês seguinte, deixam a prisão. Auler, que não fechou acordo, foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão

Executivos condenados
jul.2015 
Justiça condena os três ex-executivos. São as primeiras condenações de dirigentes das empreiteiras da Lava Jato

Leniência
ago.2015
 Empresa fecha acordo de leniência e acerta devolução de R$ 700 milhões a Petrobras, Eletronuclear e Eletrobras

Venda da Alpargatas
nov.2015
 Grupo vende Alpargatas, fabricante da Havaianas, por R$ 2,7 bi, à J&F

Venda da CPFL
jul.2016
 Camargo fecha venda de participação da CPFL Energia à chinesa State Grid

Divisão
out.2017 Construtora se divide em duas: a primeira, CCCC, fica com as obras já em andamento e com os problemas ligados à Lava Jato; a segunda, a Camargo Corrêa Infra, tocará os novos projetos

Próximos passos
Grupo ainda negocia a segunda parte de seu acordo de leniência, com a CGU e com o TCU, que pedem pagamentos bastante maiores que aquele fechado com a procuradoria

 
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