China e EUA travam 'maior guerra comercial da história'; entenda

Governo Trump irá taxar o equivalente a US$ 34 bilhões em produtos chineses

Washington | AFP

Os Estados Unidos anunciaram, nesta sexta-feira (6), a imposição de tarifas de milhões de dólares a vários produtos chineses, provocando represália imediata de Pequim, que denunciou "a maior guerra comercial da história econômica".

À meia-noite de Washington (1h de sexta-feira, horário de Brasília), entraram em vigor as sobretaxas punitivas decididas pelo presidente americano Donald Trump, sobre um total de US$ 34 bilhões de importações chinesas, que incluem automóveis, discos rígidos e componentes de aviões.

A China reagiu de imediato e disse que será "obrigada a tomar as contramedidas necessárias" para "defender os interesses fundamentais do país e de sua população", conforme nota divulgada pelo Ministério chinês do Comércio.

China apresentou uma ação contra os Estados Unidos na OMC (Organização Mundial do Comércio) pela imposição de taxas de importação, informou seu Ministério do Comércio nesta sexta-feira (6).


Pequim também acusou Washington de lançar "a maior guerra comercial da história econômica", com a imposição destas novas taxas, e denunciou que "os Estados Unidos violaram as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)".

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, advertiu os Estados Unidos nesta sexta-feira que uma guerra comercial "não beneficia ninguém".

O primeiro ministro chinês, Li Keqiang - Stoyan Nenov/Reuters

"Se um país quiser aumentar as tarifas, a China responderá para se defender. Uma guerra comercial não beneficia ninguém, porque prejudica o comércio livre e o processo multilateral", declarou Li em Sófia, onde participa de uma cúpula com 16 países da UE e dos Bálcãs.

O governo Trump impôs tarifas de 25% a 818 produtos chineses. Um segundo lote de tarifas, num valor de US$ 16 bilhões, entrará em vigor em breve —Trump falou em prazo de "duas semanas". As novas tarifas ainda estão sob análise do órgão representante do comércio (USTR, na sigla em inglês).

No total, serão US$ 50 bilhões de importações chinesas anuais afetadas pelas medidas. Segundo Trump, a taxação é uma forma de compensar o "roubo" de propriedade intelectual e de tecnologia por parte da China.

Washington acusa a China de ter-se apropriado de patentes de tecnologia de ponta, seja pelas obrigações às empresas americanas para operarem no mercado chinês, ou simplesmente mediante roubo.

E os EUA ainda podem ir além. Donald Trump pediu a Robert Lighthizer, USTR,  que "identifique US$ 200 bilhões de bens chineses, visando a tarifas suplementares de 10%".

Essas medidas poderão elevar para US$ 450 bilhões o valor dos produtos chineses taxados, que significaria uma larga fatia de importações que chegam aos Estados Unidos do gigante asiático — foram US$ 505,6 bilhões em 2017).

A entrada dessas tarifas em vigor marca o fracasso de meses de negociações entre as duas maiores economias do mundo e ocorre no momento em que importantes vozes da indústria alertam para suas consequências internas nos Estados Unidos.

No ano passado, o déficit comercial dos Estados Unidos com a China chegou a US$ 372,2 bilhões.

INDÚSTRIAS

De acordo com o Federal Reserve (o Banco Central americano) uma guerra comercial é uma "nuvem negra em um céu azul" para a economia local. Para o Fed, incertezas geradas pelas tarifas e políticas comerciais restritivas podem minar os investimentos e a confiança das empresas.

Nesse sentido, uma pesquisa feita com as empresas confirmou, na quinta-feira (5), que elas não escondem mais sua preocupação diante da guerra comercial do presidente.

A disputa comercial também confirmaria a distância entre Trump e seu partido, o Republicano, que tradicionalmente defende o livre-comércio.

A influente Câmara Americana de Comércio admitiu esta semana que represálias de China, Canadá, México e União Europeia, entre outros, já afetam US$ 75 bilhões de exportações americanas.

UNIÃO EUROPEIA

A política protecionista de Trump também tem gerado conflitos entre EUA e Europa. No primeiro dia de junho passou a vigorar as tarifas dos EUA de 25% sobre o aço importado dos países europeus e 10%. Canadá e México também foram taxados e anunciaram represálias. Já o Brasil optou por estabelecer uma cota máxima de aço e alumínio que poderão ser vendidos aos EUA.  

Em retaliação os países europeus afirmaram que irão aumentar as taxas do uísque bourbon, da calça jeans e das motos Harley Davidson.

Um dos ícones da cultura norte-americana, Harley Davidson anunciou que pode tirar suas fábricas dos EUA caso o governo Trump por conta das taxas europeias. No anunciou, a montadora afirmou que as taxas subiram de 6% para 31%. A empresa estimou que as tarifas mais altas elevariam em cerca de US$ 2 mil o preço de cada motocicleta exportada dos Estados Unidos à União Europeia —em 2017, foram 40 mil motos da marca vendidas em território europeu.

De acordo com a UE, as contramedidas buscam compensar em cerca de € 2,8 bilhões os prejuízos causados pelos impostos americanos.

Os europeus ainda poderiam aplicar tarifas sobre outros  € 3,6 bilhões em produtos americanos, caso ganhe o litígio contra os Estados Unidos na OMC (Organização Mundial do Comércio).

A UE ainda está inquieta com as taxas que os Estados Unidos ameaçam aplicar sobre carros importados. Para defender sua indústria automotiva, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse estar preparada para negociar com os Estados Unidos uma redução geral das tarifas aduaneiras neste setor. 

RÚSSIA

Também afetada pelas tarifas do aço, a Rússia informou à OMC que considera tomar medidas em retaliação. Moscou diz que esses impostos sobre os Estados Unidos custam cerca de US$ 538 milhões.

As relações comerciais entre os dois países também são marcadas pelas sanções impostas por Washington contra várias personalidades e entidades acusadas de participar dos "ataques" de Moscou contra as "democracias ocidentais".

ÁSIA

Afetado desde março pelas tarifas do aço, o Japão informou à OMC sua disposição de retaliação, tarifando produtos americanos em 50 bilhões de ienes (US$ 450 milhões). A ameaça de impostos sobre as importações de carros é o principal medo do país.

A Coreia do Sul entrou em um acordo com os EUA. Em troca de abrir mais seu mercado para os veículos americanos, Seul prometeu reduzir suas vendas de aço para os Estados Unidos em 30%.

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