Consideramos muito a soberania em negócio da Embraer com Boeing, diz chefe da Aeronáutica

Acordo prevê que área militar fique no âmbito da velha Embraer 100% nacional

Rubens Valente
Brasília

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, disse nesta quarta-feira (4) que não há nada de concreto sobre a fusão da americana Boeing com a brasileira Embraer, mas afirmou que a soberania nacional é uma questão a ser considerada.

Rossato participa, ao lado do ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, de audiência pública na comissão de defesa nacional da Câmara dos Deputados, em Brasília.

"Tem que analisar essas situações. Não existe nada de concreto. Há estudos sendo feitos, mas estamos considerando muito essa questão de soberania", disse o comandante da Aeronáutica.

Embora seja empresa privada, a Embraer está sujeita a uma "golden share", ação especial que garante ao governo brasileiro papel decisivo sobre negócios estratégicos da companhia.

A afirmação do comandante causou estranheza na plateia, pois o governo federal deu aval ao prosseguimento do acordo entre a americana Boeing e a brasileira Embraer.

Em nota ao mercado nesta terça-feira (3), a Embraer afirmou que "os entendimentos entre as partes continuam avançando e, quando e se definida a estrutura para combinação de negócios, sua eventual implementação estará sujeita à aprovação não somente do governo brasileiro, mas também dos órgãos reguladores nacionais e internacionais e dos órgãos societários das duas companhias".

A pergunta sobre a venda da Embraer foi dirigida pelo deputado federal Carlos Zaratini (PT-SP) ao ministro da Defesa, mas o general Luna se esquivou e repassou a resposta para o comandante da Aeronáutica.

O deputado queria saber se era verdade que serão criadas duas empresas a partir da fusão da Embraer com a Boeing, uma destinada à defesa e outra para a aviação comercial, e qual a participação dos americanos em cada uma. O comandante da Aeronáutica não esclareceu esse ponto.

O acordo entre as companhias prevê a criação de uma terceira empresa, que absorverá a linha de aviação regional da brasileira. A área militar, assim como a de serviços e a de aviação executiva (25% do lucro), fica no âmbito da “velha Embraer” 100% nacional.

Zaratini fez uma defesa da suspensão da venda. "É um crime de lesa-pátria. Não podemos aceitar a venda da Embraer", disse o parlamentar.

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) quis saber se era verdade que o governo brasileiro autorizou a venda de 51% das ações da Embraer para a Boeing.

"Se isso for verdadeiro, não há como manter o conhecimento tecnológico, o conhecimento militar", disse o deputado.

Mais tarde na audiência, o ministro da Defesa voltou a ser perguntado sobre Embraer e novamente fugiu da indagação, repassando-a ao comandante da Aeronáutica. Rossato afirmou que um grupo de trabalho montado pelo governo acompanha as negociações para a fusão das companhias de aviação. O brigadeiro disse que o governo está "atento à questão" da "preservação da nossa capacidade tecnológica e da nossa soberania".

"Não se vai entregar  nossos conhecimentos, não vamos perder a nossa capacidade dentro da Embraer. Os acordos que podem ser feitos serão todos considerando as vantagens que nós podemos ter na parte tecnológica, econômica, de empregos. Isso eu acho que é um aspecto fundamental que está sendo considerado e estão discutindo. Não está sendo feito à revelia dos interesses da nação brasileira", disse o comandante.
 

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