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Convém o governo atentar mais para dados do IBGE que do Caged

Baseado em entrevistas, a pesquisa do IBGE capta melhor o movimento dos trabalhadores

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São Paulo

Uma das categorias que o IBGE, o órgão oficial de estatísticas, adota nas pesquisas sobre o desemprego no país é a dos subutilizados por insuficiência de horas trabalhadas.

São aquelas pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas que gostariam de trabalhar mais.

Não é possível afirmar que todos que estão formalmente empregados como intermitentes gostariam de ter uma jornada maior.

Mas parece óbvio que boa parte deles não quer passar o mês inteiro sem renda.

O Caged, baseado nos registros de admissão e demissão, não é comparável com a Pnad, do IBGE, que calcula as taxas de desemprego com base em entrevistas, embora caminhem em certa sintonia.

Mas, como é baseado em entrevistas, o IBGE capta melhor o movimento dos trabalhadores.

Por exemplo, quantos desistiram de procurar emprego porque não conseguiram uma realocação (os desalentados, que eram 4,6 milhões no primeiro trimestre, último dado disponível e o maior contingente da série histórica iniciada em 2012).

E o IBGE, há tempos, alerta para a precarização do mercado de trabalho.


Quem são os subutilizados no primeiro trimestre

13,7 mi de desempregados (não trabalham, mas procuraram emprego nos últimos 30 dias antes da pesquisa) 

6,2 mi de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas (trabalham menos de 40 horas semanais, mas queriam trabalhar mais) 

7,8 mi de pessoas na força de trabalho potencial (gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho, ou que procuraram, mas não estavam disponíveis para trabalhar) 

24,7% é a taxa de desocupação no país 

Fonte: IBGE


Isso não quer dizer que o trabalho intermitente é precário, já que é um registro formal que atende a certo tipo de ocupação que, não fosse pela modalidade, poderia ser ocupado pelo trabalho informal.

Caso de garçons que engrossam o contingente de um buffet que vai organizar uma festa maior do que de costume, por exemplo.

O problema é que postos desse tipo podem estar sendo ocupados por pessoas que gostariam de estar em um emprego mais comum.

E quem trabalha menos horas do que gostaria é considerado mão de obra subutilizada, categoria que somava (na conta entram também desempregados e força de trabalho potencial) 27,7 milhões no primeiro trimestre.

"Isso denota uma precarização do mercado", disse em maio, na divulgação desse número, Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE.

Não era novidade.

Em fevereiro, Azeredo disse, também no material de divulgação do IBGE: "Por causa da crise econômica, o mercado não consegue impulsionar a criação de postos de trabalho de qualidade."

Naquele mês, o crescimento de 1,8 milhão de pessoas empregadas foi praticamente calcado na informalidade.

Ao contrário dos números secos de saldo de vagas que o Caged aponta, os dados da Pnad mostram que está difícil encontrar emprego, e quem consegue se sujeita a postos piores do que antes da crise.

Em agosto o IBGE divulgará nova pesquisa com dados ampliados do emprego, referente ao segundo trimestre deste ano.

Convém o governo olhar mais para eles do que para o Caged.

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