CVM absolve diretor da JBS de acusação de omissão após colaboração premiada

Defesa alegou que Wesley Batista foi questionado, mas disse que questão estava sob sigilo

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

No primeiro julgamento de processo relacionado à colaboração premiada dos controladores da JBS, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) absolveu o diretor de relações com investidores da companhia, Jeremiah O'Callaghan, de acusações sobre omissão na apuração e divulgação dos fatos ao mercado.

No julgamento, a CVM analisou a atuação de O'Callaghan nas horas seguintes à publicação, pelo jornal O Globo, de informações sobre a colaboração premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista e outros executivos da J&F, que controla a JBS.


A publicação ocorreu no início da noite de 17 de maio de 2017 e levou as ações da empresa a despencar 10% na abertura do pregão do dia seguinte, provocando a suspensão das negociações. 

O primeiro comunicado do frigorífico sobre o tema só foi protocolado na noite do dia 18, após a divulgação de detalhes da delação pelo STF. A procuradoria da CVM entende que o executivo falhou em seus deveres como diretor financeiro, ao não questionar os envolvidos e ao demorar a publicar informações.

A defesa alegou que O'Callaghan questionou Wesley Batista sobre o tema, mas foi informado de que o executivo estava "sujeito ao dever de sigilo" de acordo com a lei que institui a colaboração premiada. Por isso, não havia fatos relevantes a divulgar.

Relator do caso, o diretor da CVM Gustavo Borba absolveu o diretor da JBS da acusação de falta de questionamento, mas considerou que a informação sobre o sigilo indicava que havia negociação com as autoridades e deveria ter sido divulgada.

"A obrigação legal do DRI [diretor de relações com investidores] se sobrepõe ao sigilo do administrador. Até porque a defesa dos interesses do administrador não está entre as atribuições do DRI", argumentou. 
Ele votou pela condenação de O'Callaghan a multa de R$ 200 mil. Propôs também a condenação do executivo a advertência por ter optado por comunicado ao mercado, em vez de fato relevante, quando a empresa veio a público, já na noite do dia 18.

Os outros três diretores que participaram do julgamento, porém, votaram pela absolvição do executivo nas duas primeiras acusações. Eles acompanharam Borba apenas na condenação a advertência por uso de meio inapropriado de divulgação. 

Para Pablo Rentería, a divulgação de informação parcial sobre o sigilo "não corrigiria a assimetria de informações no mercado". "Pelo contrário, poderiam ter contribuído para aumentar as especulações, que já não eram pequenas", afirmou.

A defesa de O'Callaghan disse que vai analisar a decisão para definir as providências no caso da condenação à advertência. O executivo pode recorrer ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.

O processo julgado nesta quinta é parte de uma lista de oito investigações, três processos e dois inquéritos instaurados pela CVM contra controladores e administradores da JBS desde a colaboração premiada dos irmãos Batista.

O órgão regulador do mercado financeiro analisa desde a atuação de executivos a possíveis ganhos nos mercados de câmbio e ações com o uso de informações privilegiadas.

No início de junho, a CVM divulgou nova acusação contra os controladores da JBS, desta vez por conflito de interesses ao votar pela aprovação das contas de 2016 da companhia, na qual atuavam como administradores.

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