Descrição de chapéu The New York Times

Desempenho fraco da Xiaomi na Bolsa causa dúvida sobre boom da tecnologia chinesa

Valor de mercado da "Apple chinesa" foi de US$ 48 bilhões; expectativa era de US$ 100 bi

Hong Kong | The New York Times

A estreia das ações da Xiaomi no mercado aberto de ações deveria ter conduzido seu valor de mercado a US$ 100 bilhões e preparado o terreno para a chegada de algumas das mais bem sucedidas companhias de tecnologia chinesas aos mercados mundiais de ações.

No fim do primeiro dia operação das ações da Xiaomi, na segunda-feira (9), o valor de mercado da empresa era de apenas US$ 48 bilhões. O montante mais fraco que o esperado pode influenciar negativamente os demais grupos de tecnologia chineses que estão esperando para abrir seu capital.

A China vem desfrutando de um boom tecnológico prolongado que a colocou à altura do Vale do Silício em termos de capital arrecadado para empreendimentos e fortunas conquistadas. Mas recentemente a economia chinesa vem mostrando sinais de desaceleração no crescimento.

Algumas empresas dizem que está mais difícil obter empréstimos das instituições financeiras chinesas; os líderes da China estão se preparando para uma dolorosa batalha com os Estados Unidos no campo do comércio internacional.

Lei Jun, o fundador e presidente do conselho da Xiaomi, mencionou preocupações com a guerra comercial pouco antes que as ações da empresa começassem a ser operadas.

"Nesse momento crítico do relacionamento entre a China e os Estados Unidos, os mercados mundiais de capitais estão em fluxo constante", disse Lei a um grupo que incluía funcionários da empresa, na Bolsa de Valores de Hong Kong, segunda-feira de manhã.

As expectativas quanto à Xiaomi já vinham caindo nas últimas semanas. Os investidores começaram a reavaliar as perspectivas da empresa, que vende smartphones de preços acessíveis e diversos outros aparelhos eletrônicos. Ainda que sua oferta pública inicial de ações tenha sido a maior a acontecer na China desde 2014, a Xiaomi arrecadou consideravelmente menos dinheiro do que esperava inicialmente, no mercado de ações de Hong Kong. As ações da companhia fecharam o dia  em ligeira queda.

A expectativa generalizada era de que Xiaomi fosse a primeira entre diversas das grandes empresas chinesas de tecnologia a abrir seu capital; outras companhias devem seguir seu exemplo nos próximos meses. Entre elas estão a Didi Chuxing, a equivalente chinesa da Uber; a Ant Financial, afiliada financeira do Alibaba Group; e a Meituan-Dianping, que faz entregas de comida e produtos pedidos online.

As três empresas se beneficiaram da prevalência do uso do smartphone na China, e do crescimento insano do mercado online do país, que fez dele o maior mercado mundial de internet em termos de usuários, e por larga margem. Elas podem optar por abrir seu capital em Hong Kong, o que daria a investidores internacionais uma oportunidade de apostar nessas empresas.

Hong Kong é parte da China mas tem um sistema financeiro e jurídico separado. Pequim espera poder usar a ausência de barreiras financeiras entre Hong Kong e o resto do mundo para permitir que empresas chinesas listem suas ações dentro do país mas ao tempo atraiam investidores internacionais. O território afrouxou suas regras para atrair mais companhias importantes de tecnologia chinesas, e para se beneficiar de um dos maiores booms mundiais de internet.

As ações da Xiaomi fecharam a US$ 16,80 de Hong Kong na segunda-feira —ligeiramente abaixo de sua cotação inicial de US$17, e muito abaixo das esperanças iniciais da empresa.

Ainda que Lei tenha mencionado o comércio internacional como problema, as preocupações dos investidores quanto aos planos da empresa tiveram papel importante em sua estreia insatisfatória.

Nos últimos meses, os assessores financeiros e os executivos da Xiaomi viajaram pelo mundo para reuniões com possíveis investidores, e alardearam a Xiaomi como a resposta chinesa à Apple. Era uma fórmula —China mais internet— que no passado havia garantido forte apoio de investidores internacionais, como os administradores de fundos de hedge dos Estados Unidos.

Mas muitos investidores encaram a Xiaomi como basicamente uma fabricante de hardware, e não uma empresa de internet. A companhia prometeu margens mais generosas com base na venda de serviços de internet aos usuários de seus smartphones, mas esses serviços responderam por menos de 9% de sua receita no ano passado.

"A Xiaomi vem se descrevendo como uma empresa chinesa de internet, mas eles na verdade não são ainda uma empresa de internet pura", disse Dan Wang, analista de tecnologia na consultoria Gavekal Dragonomics.

"Os investidores ainda não se convenceram dessa história", acrescentou Wang.

Alguns investidores também estavam preocupados com o foco da Xiaomi no crescimento internacional, dada a concorrência cada vez maior em seu mercado de origem. Mais de metade das vendas da empresa são realizadas fora da China, primordialmente na Índia, onde seus smartphones de baixo custo têm seguidores leais.

Embora isso possa ser atraente para alguns investidores em longo prazo, alguns deles veem riscos mais imediatos. Por exemplo, a Xiaomi foi forçada a desistir do Brasil, por não ter conseguido estabelecer relacionamentos com as operadoras locais de telefonia móvel.

A companhia recebeu cobertura intensa da imprensa este ano ao anunciar seus planos de lançar ações em Hong Kong, que ela escolheu de preferência a Nova York, o mercado de ações selecionado para algumas das maiores ofertas públicas iniciais de ações chinesas, como a do Alibaba.

Mesmo com a resposta morna do mercado na segunda-feira, a Xiaomi convenceu diversos investidores conhecidos a comprar ações. Entre eles estão China Mobile, Qualcomm e China Merchants Bank Group, de acordo com documentos vistos pelo The New York Times.

E com a oferta pública de ações de sua empresa, Lei se tornou bilionário. Usando um terno laranja como o logotipo de sua empresa, ele disse a repórteres na Bolsa de Valores de Hong Kong que "estou empolgado demais".

Lei então tocou o gongo de abertura do pregão, e todos assistiram à queda na cotação das ações da empresa - que continuou: pela metade da tarde, elas mostravam queda de 5%, diante de uma ligeira alta na bolsa de Hong Kong.

Pelo final do dia, a companhia recuperou parte das perdas, com apoio de investidores em busca de pechinchas e dos bancos que a assessoraram em sua sua oferta inicial, e deram um empurrãozinho nos preços na segunda-feira.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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