Descrição de chapéu MPME

Dólar em alta pode exigir de empreendedor negociações e troca de fornecedores

A temporada é de desafios e de busca de um plano B para quem depende de matéria-prima importada

Valdir Ribeiro Jr.
São Paulo

​As projeções do mercado para o dólar neste semestre foram elevadas nas últimas semanas. A mais recente expectativa do Itaú Unibanco aponta o valor da moeda no fim do ano para R$ 3,90, visão pessimista influenciada pelo cenário internacional turbulento e pela previsão de dificuldades na aprovação das reformas econômicas.

Embora cause variações nas cadeias produtivas de todos os setores, a variação cambial afeta com mais intensidade os negócios que usam fornecedores externos ou que vendem seus produtos para fora do país. O cenário até o fim do ano para quem importa insumos é, portanto, de desafios.

Tentar substituir fornecedores de fora por nacionais pode ajudar os empreendedores que importam neste momento, diz Thiago Brandão, gerente regional do Sebrae-SP.

É preciso ter sempre um plano B local para a compra de matéria-prima. “Outra opção é buscar fornecedores em outros países que tenham acordos com o Brasil, como os integrantes do Mercosul, que contam com incentivos fiscais para importação”, diz Brandão.

Daniela Azevedo, consultora especializada em pequenas empresas da Blue Numbers, lembra que, quando há previsão de alta no dólar, é chegada a hora de negociar. 

“Se a empresa tem um bom controle do seu caixa, conta com capital de giro e consegue ter uma visão dos seus compromissos futuros, é muito importante que ela já inicie negociações prévias com fornecedores para equalizar as contas.”

Cláudio Rocha, diretor da Simple Têxtil, no showroom da empresa, em São Paulo
Cláudio Rocha, diretor da Simple Têxtil, no showroom da empresa, em São Paulo - Alberto Rocha/Folhapress

O empreendedor pode tentar negociar um valor antecipado ou um pagamento à vista, por exemplo, para tentar segurar seu preço, sem perder muita margem de lucro e não ter que repassar os custos para o consumidor.

É o que faz a Acqua Aroma, empresa da Bahia especializada na produção de fragrâncias finas para ambientes. De acordo com Rafael Mamede, diretor industrial da empresa, quase toda matéria-prima utilizadas por eles é importada. 

“Como insumos de perfumaria são indexados ao dólar, a variação cambial tem impacto direto sobre nossa produção”, afirma. 

 

Como exemplo, ele cita uma importação de insumos feita pela empresa no fim do ano passado. Na época, a moeda americana custava R$ 3,22. Seis meses depois, a empresa teve de fazer a mesma compra, só que dessa vez o dólar já estava em R$ 3,92. 

“Tivemos um aumento de 22% no custo do insumo em seis meses. Não é sustentável.”

Nem sempre é possível trocar fornecedores de fora por nacionais, diz Mamede, pois há setores internos em que houve um intenso processo de desindustrialização. 

“Alguns itens de embalagens que usamos, por exemplo, não são fabricados em nenhum lugar do Brasil. Todos importam da China e revendem aqui, não há como buscar opções”, diz.

Uma alternativa utilizada pela Acqua Aroma para diminuir o impacto da variação do dólar é o hedge cambial, um conjunto de operações bancárias que fixa um valor para a moeda estrangeira na hora do cálculo da dívida externa da empresa. 

Quando se faz um hedge, sabe-se de cara qual valor será pago ao banco, independentemente do valor do dólar no vencimento.

“Nós utilizamos operações desse tipo para ter um nível de previsibilidade nos negócios e não termos que mexer na tabela de preços o tempo todo, mas só contratamos essa opção bancária quando vamos fazer uma importação acima de US$ 35 mil (R$ 135,9 mil reais)”, afirma Mamede.

 

Para quem exporta, os desafios do dólar alto são outros. Existem mercados em que a elevação da moeda americana faz com que toda a cadeia produtiva se torne mais cara, o que mitiga a margem de lucro que a exportação teria com a moeda em alta.

Cláudio Rocha, fundador do Grupo Simple Têxtil Design, que produz tecidos de decoração em Americana (SP), diz que não consegue aproveitar a alta do dólar mesmo não importando insumos e vendendo 15% dos seus produtos para fora do país. 

A moeda estrangeira fez, por exemplo, com que os combustíveis ficassem mais caros, elevando o preço do frete.

 

“Como não exportamos muito da nossa produção, na prática, acaba empatando. Estamos com planos de aumentar a porcentagem de exportação, o que pode melhorar o aproveitamento de altas do dólar no futuro”, afirma Rocha.

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