Dólar recua para R$ 3,72 e fecha semana em queda

Bolsa brasileira sobe apesar de viés negativo em Wall Street

Anaïs Fernandes
São Paulo

O dólar fechou em baixa ante o real nesta sexta-feira (27), em reação aos dados da economia americana e sustentado pelo maior otimismo dos investidores com o cenário eleitoral local. A Bolsa brasileira se descolou do tom negativo nos mercados americanos, impactados pelos balanços ruins no setor de tecnologia, e sustentou leve alta.

O dólar comercial recuou 0,77%, para R$ 3,718. Na semana, acumula queda de 1,48% e caminha para fechar julho na primeira baixa desde janeiro. O dólar à vista perdeu 0,2%, cotado a R$ 3,722.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, avançou 0,58%, a 79.866,10 pontos. O indicador subiu 1,65% na semana. 

Lá fora, o Dow Jones, principal índice de Nova York, caiu 0,3%, enquanto o S&P 500 perdeu 0,66%. O índice de tecnologia Nasdaq caiu 1,46%, pressionado pelas quedas em ações de Twitter (-20,54%) e Intel (-8,59%). As empresas divulgaram nesta sexta balanços que frustraram o mercado. 

"O desempenho dessas empresas coloca em cheque o crescimento do setor de tecnologia nos Estados Unidos, que passa por um momento de revisão e joga todo o mercado para baixo", diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.

O lucro recorde do Twitter (US$ 100 milhões, cerca de R$ 372,37 milhões) e a receita (US$ 711 milhões, ou R$ 2,65 bilhões) acima das estimativas dos analistas não foram suficientes para animar os investidores.

A rede social fechou o período com 335 milhões de usuários mensais, 1 milhão a menos do que o registrado nos três primeiros meses do ano, principalmente nos Estados Unidos. A empresa de mídia social aumentou as exclusões e suspensões de contas duvidosas nos últimos meses.

"Wall Street não gostou muito dessa limpeza e do impacto. E o desafio do Twitter nos últimos anos tem sido a monetização dos seus usuários, a receita gerada por usuário, e a melhoria nas ferramentas para anunciantes", avalia Thiago Reis, fundador e CEO da Suno Research, consultoria de análise financeira.

Facebook, que havia caído 19% na véspera também após anunciar resultado fraco, não se recuperou e perdeu 0,78%. 

"A combinação de um anúncio de diminuição de receitas com despesas se mantendo acima do esperado fizeram o mercado reagir negativamente. No dia de hoje, os investidores ainda estavam digerindo, o Twitter reporta resultado pior, é mais uma combinação que cria um cenário ruim para as ações do Facebook", explica André Kim, analista de investimento da GEO Capital.

EXTERIOR

Apesar de o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos ter crescido a uma taxa anualizada de 4,1% no segundo trimestre, ritmo mais rápido em quase quatro anos, o número veio um pouco abaixo da expectativa do mercado e ajudou a tirar a força do dólar no mundo.

Das 31 principais divisas globais, 14 avançaram em relação à moeda americana, e o real liderou essa valorização.

Analistas avaliam que, apesar de um primeiro semestre forte para a economia americana, o aperto progressivo na política monetária por lá deve desacelerar o crescimento do PIB dos EUA no próximo ano.

"O ritmo de 4,1% no 2º trimestre (anualizado) marca uma 'virada de importância histórica', afirmou o presidente [dos Estados Unidos, Donald] Trump. Economistas, no entanto, seguem céticos quanto à manutenção deste ritmo nos próximos trimestres", avaliou a Guide Investimentos em relatório.

A guerra comercial também pode influenciar a perda de fôlego. 

O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), Jerome Powell, disse que a guerra comercial poderia afetar o crescimento do país e manteve a indicação de gradualismo na política monetária.

No cenário local, o mercado segue otimista com a possibilidade de fortalecimento da candidatura de seu candidato preferido, o tucano Geraldo Alckmin. 

Pela manhã, pesquisa de intenção de votos da XP Investimentos mostrou que Alckmin cresceu levemente, dentro da margem de erro. No cenário sem candidato do PT, o tucano apareceu com 10% dos votos, ante 9% no levantamento anterior, junto com Ciro Gomes (PDT) e atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com 23% e Marina Silva (Rede), com 12%.

"Se não tivéssemos hoje esse cenário, o Ibovespa estaria em queda", afirma Mauriciano Cavalcante, gerente de câmbio da Ourominas.

Com Reuters

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