Descrição de chapéu MPME

Empreendedores procuram estratégias para o trimestre

Pequenos empresários devem evitar dívidas a todo custo, afirma especialista

Homem de azul, sentado, e mulher de verde, de pé, olham para tela de computador
Cassio Silva e Dilma Souza, da empresa de marketing Outra Praia, em evento em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress
Luiz Cintra
São Paulo

Economia desacelerada, confusões na política e no Judiciário, sustos com o dólar e problemas de logística. Acrescente ao quadro a perspectiva de alta dos juros e demanda debilitada tanto de famílias quanto de empresas. 

É esse o cenário para os próximos três meses no Brasil, até que, espera-se, a mudança na esfera política represente o início da restauração da confiança perdida.

Diante desse contexto, a pergunta que se impõe entre empreendedores é: qual a melhor estratégia para chegar inteiro, ou quase, a 1º de novembro? A resposta varia de acordo com o especialista e o microempresário consultado.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, somente ao fim do calendário eleitoral o clima econômico e o ambiente para os negócios terão condições de mudar. 

A recomendação para os pequenos empresários é evitar ao máximo o endividamento e segurar com todas as energias sua fatia de mercado, mesmo que com menor margem de lucro operacional. 

Na pesquisa mensal sobre serviços relativa a maio, divulgada pelo IBGE em meados de julho, a queda do varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, foi de 4,7% em relação ao mês anterior, descontados os fatores sazonais, em boa medida em decorrência da paralisação dos caminhoneiros.

Alguns dos segmentos que menos sofreram em consequência da crise logística, em um primeiro momento, foram os serviços ligados à demanda doméstica e dos ramos de alimentação e telefonia, aponta Gonçalves.

Na mesma semana em que o IBGE divulgou seus números pouco animadores, André Perfeito, economista da corretora Spinelli, tratava de revisar a expectativa de crescimento do PIB neste ano. A estimativa de crescimento anual de 1,6%, que já não era fantástica, agora é de 1,15%.

“E se o governo não tivesse liberado o PIS/Pasep, que representou mais uns R$ 39 bilhões na economia, a previsão seria ainda pior”, diz. “A essa altura, nosso problema não é econômico, mas eminentemente de ordem política.” 

Mas, na visão de Perfeito, as eleições em outubro podem afetar de forma positiva o clima do fim do ano, com o país retornando à normalidade. “A economia está pronta para voltar a crescer, mas 2018 será mais um ano com a economia parada”, diz. 

Em sua avaliação, poderá haver ainda nova alta dos juros básicos, a Selic, a partir do fim de outubro. O crescimento seguirá lento e o dólar poderá chegar a R$ 4 neste semestre, segundo Perfeito. 

Essa alta se dará, em boa parte, por causa das disputas comerciais abertas pelo governo do americano Donald Trump , que tendem a continuar, além das turbulências políticas no Brasil. 

Consultor na área de energia, o economista Ricardo Buratini diz que o país vive um “choque de realidade” provocado pela crise dos caminhoneiros e pelo cenário internacional adverso. 

“Ainda estamos com o PIB per capita 10% menor do que em 2014. É uma crise muito séria, uma semi-estagnação da economia que dependerá de mais iniciativas para ser revertida”, afirma.

Buratini chama a atenção para a queda relativa, nos últimos meses, do nível dos estoques da indústria, um indicador positivo, na medida em que mostra um potencial de recuperação rápida dos investimentos.

“Com as famílias afetadas pelo desemprego e poucos gastos em infraestrutura, não tem demanda para a economia crescer além desse voo curto, de galinha”, avalia.

Para navegar neste período turbulento e sobreviver ao segundo semestre, empreendedores podem recorrer a orientações de profissionais para sanar suas dúvidas.

Há cinco anos à frente da Outra Praia, microempresa baseada em São Paulo especializada em eventos e marketing ao vivo, a ex-bailarina Dilma Souza Campos foi escolhida para participar de uma mentoria criada pela consultoria EY (antiga Ernst & Young) , parte do programa Winning Women.

O projeto tem como objetivo dar dicas sobre gestão e inteligência de mercado, questões vistas hoje como fundamentais para quem tem um negócio e precisa encarar os dias difíceis.

Durante um ano, Dilma recebeu orientação das empresárias Chieko Aoki e Bel Humberg, dos ramos de hotelaria e ecommerce de roupas. 

Foram conselhos particularmente úteis no momento. Entre as dicas objetivas estão ampliar a exposição da empresa junto a potenciais clientes e cuidar da margem de lucro, deixando de lado, por exemplo, aqueles clientes que pagavam com prazo muito longo, de até 120 dias.

De cara, sua empresa leva uma vantagem comparativa por ser uma prestadora de serviços que fatura com empresas, não com famílias. 

Segundo os especialistas, a negociação, nesses casos, tende a ser mais dura, fator compensado pela maior estabilidade dos contratos e a dimensão dos orçamentos.

Com faturamento bruto de R$ 3 milhões no ano passado e meta de crescer 14% neste ano, a empresária levou em conta no seu planejamento estratégico a previsão do Sebrae de que seu setor irá crescer acima da média, o que ela sente estar ocorrendo até agora.

“Além de estudar e me informar mais, segui a orientação de investir em inovação, o que estamos fazendo com o lançamento de um novo serviço, o de workshops sobre diversidade”, diz Dilma. 

Também tem apostado em propostas mais criativas para vencer concorrências de eventos para grandes empresas, seu principal filão. “Com a crise, os orçamentos diminuíram, é preciso ser criativo gastando pouco dinheiro.”

 

14 datas com potencial para afetar o ambiente de negócios nos próximos três meses

1º agosto 
Fim da primeira reunião regular, no semestre, do Copom para revisão da taxa Selic

15 agosto 
Último dia para partidos e coligações apresentarem o pedido de registro dos seus candidatos

16 agosto 
Início da campanha eleitoral, com a liberação de comícios, carreatas e propaganda 

30 agosto 
A FGV divulga o ICE (Índice de Confiança Empresarial) relativo a agosto

31 agosto 
Começa a propaganda eleitoral gratuita nas TVs e rádios, que caiu de 45 para 35 dias nestas eleições

4 setembro 
O IBGE divulga sua pesquisa mensal de produção industrial relativa a julho

13 setembro   
Pesquisa mensal de comércio do IBGE relativa a julho

17 setembro 
Fim do prazo para a Justiça Eleitoral julgar os requerimentos de registros dos candidatos

28 setembro 
A FGV divulga o Índice de Incerteza da Economia Brasileira (IIE-Br) relativo a setembro

2 outubro 
Pesquisa mensal do IBGE com o desempenho da produção industrial relativa a agosto

4 outubro 
Fim da propaganda eleitoral

7 outubro 
Primeiro turno eleitoral

28 outubro  
Segundo turno eleitoral

30 outubro 
Início da reunião de dois dias do Copom para a revisão da taxa Selic

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