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Funcionário é demitido após aceitar promoção; técnica tem dois empregos para se garantir

Confira histórias de quem está em busca de um emprego e quem acabou de conquistá-lo

Larissa Quintino
São Paulo | Agora

Fernando da Costa Maciel 

Fernando da Costa Maciel, 38, trabalhava conferindo mercadorias em uma empresa de comércio eletrônico. No fim de 2017, após passar um ano exercendo a função, recebeu proposta da empresa para ocupar o cargo de supervisor, uma mudança que ele chamou de “o desafio”.

Maciel ocuparia a vaga do supervisor que acabara de ser demitido, mas estava ciente de que seu salário seria inferior ao do profissional que deixara o posto.

Ainda assim, aceitou o convite, considerando que a promoção seria um incremento no currículo.
“Eles falaram que tinham percebido a minha liderança e aumentaram o meu salário em uns 50%. Era menos do que o outro ganhava, mas eles precisavam cortar os gastos.”

 

Meses depois, segundo Maciel, as vendas da empresa começaram a cair, levando a mais demissões.

“Primeiro cortaram o pessoal operacional e depois os supervisores: eu e os de outras áreas. Resolveram contratar estagiários porque é mais barato ainda.”

Desempregado desde abril, Maciel trabalha hoje como motorista de aplicativo enquanto continua procurando outro emprego com carteira assinada.

Especialistas em recrutamento mitigam o impacto negativo das demissões nos currículos dos profissionais.

“Estar desempregado durante uma crise não é demérito. É uma consequência de mercado. Isso pouco tem a ver com performance e com meritocracia”, diz Renato Villalba, gerente sênior da empresa de recrutamento Michael Page.

 

Waldir Feitosa

As dez ocupações que mais abriram postos pagam até dois salários mínimos.

O auxiliar de cozinha Waldir Feitosa, 53, acordou às 4 horas da manhã no dia 16 para procurar emprego.

Ele foi uma das 10 mil pessoas que se aglomeraram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, em busca de uma das 1.800 vagas anunciadas pelo Sindicato dos Comerciários.


Após quatro horas de fila, foi atendido, entregou seu currículo e esperou dois dias até o telefone tocar e o chamarem para nova entrevista. Desde então, correu com exames médicos, está com carteira assinada e, na quarta-feira (1º), começa a trabalhar em uma rede de supermercados.

Feitosa estava desempregado havia pouco menos de um mês. Era terceirizado em outro mercado na mesma função.

“A gente sabe que a coisa está complicada, então conseguir me recolocar em tão pouco tempo e em algo fixo é uma conquista. Me considero com sorte”, diz.

A função para qual o trabalhador foi contratado está entre as dez que mais criaram vagas no primeiro semestre de 2018, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

No saldo, houve a abertura de 9.797 postos para auxiliar nos serviços de alimentação.

O posto que mais criou vagas no ano é o de alimentador de linha de produção, com 57.764 vagas no primeiro semestre. Em comum, esses postos pagam menos de dois salários mínimos e não exigem qualificação.

De acordo com o diretor-técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio, a criação de vagas com baixos salários e que exigem pouca qualificação é o retrato do momento econômico do país, que tenta se recuperar da recessão, mas continua a sofrer com a desaceleração.

“O pouco que a economia cresce é que cria esses cargos da ponta da cadeia”, diz Lúcio.

 

Ana Paula Santos

Enquanto a busca por emprego é cada vez maior, a técnica em enfermagem Ana Paula Santos, 44, começará em seu segundo emprego daqui a  duas semanas.

Ela já trabalha com carteira assinada em um hospital no turno da noite e agora conseguiu outro trabalho.

Segundo Santos, a busca por mais uma fonte de renda formal é para se precaver.

“As coisas estão difíceis demais, tudo está muito caro e o salário não é muito alto. Então, com dois empregos, eu vou conseguir pagar as contas mais tranquila e me prevenir. Vai que eu perca um emprego?”

 
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