Guerra comercial entre EUA e China altera mercado mundial de alimentos

Conheça culturas que devem ser afetadas por disputas entre gigantes

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Homem segura soja em Ohio, nos Estados Unidos
Homem segura soja em Ohio, nos Estados Unidos - John Minchillo/Associated Press
Financial Times

As tensões comerciais cada vez mais fortes entre os Estados Unidos e seus principais parceiros comerciais estão começando a gerar mudanças no mercado de commodities agrícolas.

Os plantadores de soja dos Estados Unidos podem sofrer perdas significativas, mas os produtores vietnamitas de linha e os suinocultores alemães talvez sejam beneficiados.

CANOLA

Os compradores chineses de soja, como a estatal Cofco, já se voltaram ao Brasil, como alternativa aos Estados Unidos, para o fornecimento de soja para ração animal. A soja é uma das commodities que Pequim selecionou para represálias contra as tarifas americanas de exportação. Mas os produtores de canola, ou colza —outra semente oleaginosa que pode ser usada para produzir ração animal—, talvez se beneficiem. Mesmo antes do surgimento de tensões com os Estados Unidos, os chineses já estavam comprando mais canola.

O país adquiriu cerca de 4,8 milhões de toneladas de canola no ano passado, um avanço de 33% ante o total de 2016; o principal fornecedor é o Canadá, o maior exportador mundial da commodity.

"A China quer importar mais canola e colza, desde que os preços sejam competitivos", disse Tracey Allen, analista do banco JPMorgan.

Ainda que as importações de canola representem apenas uma fração das importações chinesas de soja, que chegaram a 95 milhões de toneladas no ano passado, as esperanças de uma alta nas aquisições bastaram para manter firmes os preços da canola canadense. O contrato de canola para novembro na bolsa ICE subiu em quase 3% do começo do ano para cá, para cerca de 506 dólares canadenses por tonelada, e o ágio com relação á soja mais que dobrou, para mais de 85 dólares canadenses por tonelada. Já há investidores tentando tirar vantagem dessa movimentação.

"O spread entre [a canola e a soja] se alargou, porque os fundos de hedge estão comprando contratos futuros de canola e vendendo soja a descoberto", disse Mike Jubinville, analista do boletim noticioso Pro Farmer Canada.
 

MILHO

O medo quanto ao futuro do Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), entre o Canadá, Estados Unidos e México, já encorajou os mexicanos a diversificarem suas fontes de commodities agrícolas.

A China colocou o milho em sua lista de produtos americanos que estão sujeitos a tarifas desde 6 de julho, e com isso o foco passou a ser determinar aonde irão as exportações americanas e como reagirá o México, o maior importador de milho produzido pelo seu vizinho ao norte.

O país latino-americano não incluiu quaisquer medidas quanto ao milho em sua resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos de aço e alumínio. Mas no ano passado o México adquiriu pouco menos de 600 mil toneladas de milho brasileiro, 10 vezes mais que o total de 2016, de acordo com dados do International Trade Centre.

Ainda que isso represente apenas 4% das importações totais de milho mexicanas, os esforços do país para reduzir sua dependência quanto aos Estados Unidos só aumentarão, dizem os analistas.

"Será difícil substituir todas as importações dos Estados Unidos, mas até 30% do necessário pode ser adquirido do Brasil, Argentina e outros países", disse Stefan Vogel, diretor de pesquisa de commodities agrícolas do Rabobank.

ALGODÃO

O algodão é outra commodity na lista de tarifas impostas por Pequim. Porque a China é o segundo maior comprador de algodão americano, os preços despencaram, em Chicago, com a escalada das tensões comerciais.

A China tentará comprar mais algodão da Austrália, do oeste da África e do Brasil, de acordo com a Plexus, uma empresa de comércio internacional de algodão.

A Índia, outro dos grandes produtores, também pode elevar sua fatia de mercado, como resultado. Os produtores de linha do Vietnã também poderiam se beneficiar; eles importam algodão americano e exportam linha a compradores internacionais como a China.

Os produtores de linha vietnamitas já estão colhendo ganhos com a queda dos preços do algodão, que elevou suas margens de lucros.

"Os vietnamitas podem ser os beneficiários da queda do preço [do algodão nos Estados Unidos]", disse Allen, do JPMorgan.

CARNE DE PORCO

Os criadores de porcos alemães viram as primeiras exportações de seus produtos ao México em junho, já que as tarifas mexicanas sobre a carne de porco americana criaram oportunidades para produtores concorrentes. Porque o México e a China, dois dos maiores compradores internacionais de carne de porco americana, devem anunciar novas tarifas sobre as importações esta semana, é provável que as ramificações para o mercado se aprofundem.

"Os embarques [dos Estados Unidos] para a China estão caindo, porque os compradores [chineses] estão em busca de outras fontes", disse Justin Sherrard, estrategista global para produtos de proteína animal do Rabobank.

Pequim elevou sua tarifa sobre a carne de porco americana de 12% para 37% em abril, e a elevará de novo em julho. A China é de longe o maior produtor, consumidor e importador de carne bovina, e a Alemanha é o segundo maior exportador, abaixo apenas dos Estados Unidos.

Analistas dizem que o Canadá e a Espanha poderão tirar vantagem das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China.

"Muitos fluxos comerciais serão reordenados, o que significa oportunidade para alguns e riscos para outros", disse Sherrard.

CARNE BOVINA

Pequim está se preparando para impor tarifas à carne bovina americana, e os pecuaristas australianos podem se beneficiar. O produto não ocupa muito espaço no varejo da China, mas a carne bovina dos Estados Unidos é vista como mercadoria de primeira linha.

Os produtores de carne bovina americanos reconquistaram o acesso ao mercado chinês depois de 14 anos, em 2017; sua carne, bem como a australiana, é vendida com ágio.

Em contraste, a carne bovina brasileira, a mais exportada para a China, é vista como "produto de alto volume", de acordo com um relatório do Departamento a Agricultura americano.

Vender carne bovina no mercado chinês de primeira linha envolve estabelecer uma marca e construir confiança, de acordo com analistas, que apontam para os danos que as tarifas podem causar. As tarifas "podem em última análise restringir o acesso ao mercado e enfraquecer um importante competidor dos exportadores australianos de carne bovina", disse Mark Bennett, diretor de agribusiness australiano no banco ANZ.
 

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