Jardineiro, carroceiro, todo mundo tem acesso, diz Mendonça de Barros

Ex-ministro de FHC ressalta universalização da telefonia e defende mudanças na Petrobras

Taís Hirata
São Paulo

Há 20 anos, Luiz Carlos Mendonça de Barros comandava o Ministério das Comunicações durante a privatização da Telebras.

Hoje, ele defende o legado da desestatização e diz que o processo trouxe melhoria ao mercado e acabou com feudos políticos estaduais.

Mendonça de Barros destaca a universalização da telefonia, na contramão das críticas de que ela restringiria o serviço aos mais pobres. “Hoje, todo o mundo tem acesso.”

Para ele, a crise da Oi, em recuperação judicial, é resultado de um erro cometido pela Andrade Gutierrez, já no leilão da Telebras.

A empresa vencedora da então Telemar (renomeada de  Oi) não incluiu sócia estrangeira, como sugeria o edital.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 75, presidiu o BNDES entre novembro de 1995 e abril de 1998, quando assumiu o Ministério das Comunicações na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 75, presidiu o BNDES entre novembro de 1995 e abril de 1998, quando assumiu o Ministério das Comunicações na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - Marlene Bergamo - 1º.dez.2017/Folhapress
 

 

Qual o legado da privatização? 

É a transformação de um monopólio público em um mercado concorrencial privado sem que ocorresse aquilo que os críticos lá atrás diziam, que o pobre não ia ter telefone.

As empresas são alvo de muita reclamação, quanto a preço e qualidade. A modelagem poderia ter sido mais bem equacionada? 

Tem reclamação como em qualquer serviço público. Há 200 milhões de celulares. Proporcionalmente, a reclamação cresce, mas a base [de clientes] era muito menor.

Como avalia a atuação da Anatel [agência reguladora do setor]? 

Está muito bem. Uma responsabilidade da agência era não deixar diminuir a concorrência. E o que houve foi um aumento da concorrência. 

Como se explica o caso da Oi? 

A única concessionária da Telebras que viveu sempre com problemas é a Oi, que vem do leilão da Telemar.
Foi o único em que a vencedora [Andrade Gutierrez] não seguiu o modelo sugerido pelo BNDES, de que os consórcios tivessem uma empresa privada reconhecida no mundo. Vivemos muitas décadas com uma estatal, não havia empresários do ramo. 

A Oi foi a única que não colocou, e você vê o que aconteceu.

Não tinha uma empresa que pudesse acompanhar essas mudanças tecnológicas. Isso é uma prova de que pau que nasce torto morre torto.

A posição do brasileiro quanto à privatização mudou de lá para cá? 

Mudou um pouco. Na minha época, havia duas discussões com a esquerda: a Vale do Rio Doce e a Telebras. 

A crítica é que íamos vender o subsolo ao estrangeiro e que depois ele ia parar com as atividades. Não aconteceu nada disso, pelo contrário.

Na Telebras, a crítica era que pobre não ia ter telefone. Hoje, jardineiro, carroceiro, todo o mundo tem acesso.

São exemplos da nossa época que mostram que não é verdade esse tipo de crítica.

Como enxerga as privatizações que estão na pauta atualmente?

A Eletrobras vai ter de ir para o mesmo caminho. 

O conceito é o seguinte: o monopólio é um perigo para a sociedade. Mas você tem dois tipos: o público e o privado.

No público tem uma outra questão, e na Telebras era assim: cada estado tinha uma empresa dominada pela classe política local. Hoje, se esquece que isso acabou.

Há espaço para privatizar a Petrobras? 

A Petrobras é quase uma referência da esquerda, cada vez que mexe vem um vespeiro.

O FHC, em 2000, me pediu para preparar um plano para privatizá-la.

Minha proposta foi dividir a empresa em duas e privatizar uma delas. A sociedade ia olhar ambas, e as coisas não poderiam se distorcer.

No fim, aconteceu o apagão, e o governo perdeu a condição política. Mas acho que vamos ter de mexer [na Petrobras] no próximo governo. Só que eu vou estar bem longe disso.

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