Descrição de chapéu Financial Times

Executivo do Facebook pede sacrifício ao crescimento no curto prazo e redução na coleta de dados

Alex Stamos tentou criar nova agenda para rede social, que enfrentava problemas com vazamento de informações

Hannah Kuchler
San Francisco | Financial Times

Alex Stamos, o vice-presidente de segurança do Facebook, pediu que a empresa sacrificasse seu crescimento em curto prazo e reduzisse o volume de dados que recolhe dos usuários, em um memorando interno que circulou pouco depois que surgiram as revelações sobre o caso da Cambridge Analytica.

O memorando, divulgado terça-feira (24) pelo BuzzFeed, mostra que Stamos tentou estabelecer uma nova agenda para a rede social, que estava enfrentando problemas para lidar com o imenso vazamento de dados para a consultoria política que trabalhou para a campanha de Donald Trump, em março, e com o uso de sua plataforma pelos russos para disseminar desinformação.

O Facebook confirmou que o memorando era real. Stamos não respondeu a um pedido de comentário.

"Precisamos mudar as métricas que medimos e os objetivos a que aspiramos", ele afirmou no memorando, escrito seis dias depois que emergiram as informações sobre o vazamento de dados. "Precisamos construir uma experiência para os usuários que transmita honestidade e respeito, e não uma experiência otimizada para convencer as pessoas a clicarem sim e nos darem mais acesso. Precisamos não recolher dados intencionalmente sempre que possível, e conservar os dados que recolhemos só enquanto os estivermos usando para servir as pessoas". 

Stamos escreveu o memorando depois que o The New York Times publicou uma reportagem informando que ele estava saindo do Facebook, frustrado com a maneira pela qual a rede social estava lidando com seus problemas. Na mensagem à equipe da empresa, ele disse que não estava estava saindo por raiva. Afirmou que, em uma reorganização da equipe de segurança no final de 2017, muito antes que surgissem as revelações sobre a Cambridge Analytica, ele havia prometido que ficaria pelo menos até agosto de 2018, e que não ainda havia decidido se sairia então;

 

"Conectamos pessoas. Ponto", ele escreveu, "É por isso que todo trabalho que fazemos para crescer é justificado. Todas as práticas questionáveis de importação de contatos. Toda linguagem sutil que ajuda as pessoas a se manterem abertas a buscas por seus amigos. Todo o trabalho que fazemos para trazer mais comunicação. O trabalho que provavelmente teremos de fazer na China um dia. Tudo isso".

O Facebook continua proibido na China mas vende publicidade a anunciantes chineses que tentam atingir consumidores para além do Grande Firewall. A empresa confirmou na terça-feira que havia criado uma subsidiária chinesa, como parte do plano para criar um "polo de inovação" na província de Zhejiang, a fim de apoiar desenvolvedores e startups no país, como fez em outros lugares, a exemplo da França e do Brasil.

Stamos cuidava da segurança de eleições, para o Facebook. A empresa revelou novas iniciativas para eliminar contas falsas, fazer parcerias com serviços de verificação de fatos a fim de identificar notícias falsas, e trabalhar com agências policiais a fim de detectar interferência nas eleições.

Em conversa telefônica com analistas na terça-feira, representantes do Facebook foram perguntados três vezes se tinham visto tentativas de interferência, no período que antecede as eleições legislativas americanas de novembro. A companhia disse que era "inevitável" que agentes mal intencionados tentassem influenciar as eleições, mas se recusou a confirmar que já tivesse detectado esforços nesse sentido.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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