Nissan inaugura fábrica de picapes na Argentina e vai exportar para o Brasil

Produção em Córdoba irá complementar o complexo industrial da Nissan em Resende (RJ)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Picape Nissan Frontier, modelo produzido no México
Picape Nissan Frontier, modelo produzido no México - Divulgação
Córdoba (Argentina)

Enquanto a indústria brasileira reajusta para baixo as projeções de exportações de automóveis para Argentina, a japonesa Nissan inaugura nesta segunda-feira (30) sua linha de produção de picapes em Córdoba.

Com um investimento de US$ 600 milhões (R$ 2,2 bilhões) e capacidade de produção de 70 mil unidades por ano, 50% da produção será voltada à exportação, sendo o Brasil o principal mercado.

Até então, era do México que o Brasil importava a picape da fabricante japonesa. 

A companhia ainda não anunciou a lista de outros países alvo da exportação. 

A nova linha de produção está instalada no mesmo complexo industrial da aliança com a Renault, onde já trabalham 2.400 funcionários. A atual expansão vai gerar cerca de mil novos empregos diretos, segundo a companhia.

A produção das novas instalações começa nesta semana com o modelo Frontier da Nissan. Ainda neste ano também terá início a fabricação do modelo Alaskan, da Renault. A partir do ano que vem está prevista a fabricação do modelo Classe X, da Mercedes, no mesmo local. 

A fábrica de picape em Córdoba irá complementar o complexo industrial da Nissan em Resende (RJ), que atualmente exporta para oito países da América Latina latina, com foco na Argentina.

Pelo acordo comercial vigente, para poder exportar da fábrica brasileira de Resende para a Argentina com vantagens tributárias, a empresa precisa também importar do país vizinho.

Um projeto que teve início há três anos, a nova linha de produção entra em operação em um momento em que as vendas de veículos leves, caminhões e ônibus do Brasil para o exterior tiveram uma queda de 4,4% em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo os dados mais recentes da Anfavea (associação dos fabricantes no Brasil) —recuo que o presidente da entidade, Antônio Megale, atribuiu a uma revisão dos pedidos de importação pelo lado da Argentina.  

O país ingressou em uma disparada do dólar neste ano, com a dificuldade do governo do presidente Maurício Macri em proteger sua moeda da desvalorização, tendo de bater na porta do FMI e cortar as projeções de crescimento econômico pela metade.

O presidente argentino participou da inauguração da fábrica de picapes nesta segunda-feira. 

Em um ambiente que lhe é familiar —a família de Macri foi dona de uma fábrica automotiva chamada Sevel, que alugava instalações para montadoras no passado—, a presidência argentina pediu que a Nissan convidasse mais funcionários do que a quantidade prevista inicialmente para assistir ao discurso presidencial. 

Macri exaltou um total de US$ 5 bilhões (R$ 18,5 bilhões) de investimentos do setor automotivo em geral no país, mencionou a geração de empregos e se esforçou para mostrar aos trabalhadores presentes que a crise atual não se compara a outros momentos de fragilidade econômica do passado.

"Tomamos muitas medidas. Atuamos rapidamente e isso nos permitiu começar a enfrentar as dificuldades, sem mudar de rumo. Temos muito claro que tipo de sociedade queremos: uma sociedade livre e democrática", disse Macri.

Córdoba é o coração da indústria automotiva na Argentina, é capital da província de mesmo nome que abriga também fábricas da Fiat e da Volkswagen, além do complexo da Renault, onde foi instalada a nova linha da Nissan.

Questionado por jornalistas se a atual crise argentina afeta os planos da multinacional japonesa, Hiroto Saikawa, presidente mundial da Nissan, negou. "Este é o nosso plano de investimento para a América Latina. Fizemos investimento primeiro no Brasil e depois na Argentina. É importante ter os dois centros como parte de uma estratégia sólida", disse Saikawa.

A questão da manipulação de testes de emissão pela Nissan no Japão, um assunto que veio a tona em julho, foi tratada como tabu na cerimônia de inauguração na Argentina.

Antes do início da entrevista concedida por Saikawa, a assessoria de imprensa solicitou que os jornalistas não fizessem perguntas a ele sobre o assunto.

A assessoria de imprensa afirmou que o problema dos testes de emissões  se restringe ao mercado doméstico no Japão  e não afeta os veículos exportados porque envolve apenas os requisitos do mercado japonês. Ainda não se sabe, segundo a empresa, de onde partiu o problema e está sendo feita uma investigação interna.

Mais tarde, a Folha questionou Marco Silva, presidente da empresa no Brasil, que repetiu que a irregularidade se limita ao Japão.   

No início de julho, a montadora japonesa informou que mediu indevidamente as emissões de escapamentos e a economia de combustível de 19 modelos de carros vendidos no Japão. Foi a segunda vez em menos de um ano desde que outras irregularidades foram descobertas em seu processo de inspeção.

Joana Cunha viajou a convite da Nissan

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.