Para enfrentar concorrência, precisamos de musculatura, diz presidente da Embraer

Ao contrário da divisão de jatos comerciais, Boeing fica como minoritária. Participações ainda não foram definidas

Raquel Landim
São Paulo

O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou à Folha nesta quinta-feira (5), que a "joint venture" com a Boeing na divisão de defesa será formada pelos ativos relacionados ao avião multimissão KC-390, o principal projeto da empresa brasileira.

Ele disse ainda que a Embraer será majoritária nessa nova companhia na área de defesa, enquanto a Boeing fica como minoritária –o contrário do que vai ocorrer na aviação comercial. As participações, no entanto, ainda não foram definidas.

O anúncio da provável joint venture na área de defesa foi a grande surpresa do comunicado feito por Boeing e Embraer, já que trata-se de um assunto muito sensível para o governo brasileiro. A fabricação do KC-390 deve permanecer em Gavião Peixoto (SP).

Para o presidente da Embraer, ao contrário do que parece, já que prevê a venda de 80% da divisão de jatos comerciais para a Boeing, o acordo com a companhia americana é fundamental para a fabricante brasileira de aviões ganhar “musculatura”.

“Precisamos ter a musculatura– capital , tecnologia e acesso a mercado - para enfrentar a concorrência dessas grandes empresas. A associação com a Boeing é muito importante para a sustentabilidade do negócio no longo prazo”, disse Silva.

Segundo o executivo, a Embraer vive hoje um excelente momento, mas estava ficando espremida num mercado mais concentrado, o que poderia trazer problemas no médio e longo prazo.

De um lado, concorrentes mais fortes, principalmente depois da associação entre a francesa Airbus e a rival Bombardier. Do outro lado, cada vez menos fornecedores de peças para os aviões, o que eleva os custos.“Isso sem falar da entrada de chineses e russos, que estão chegando ao mercado de aviação fortemente subsidiados por seus governos”, ressaltou Silva.

O executivo minimizou as críticas de que a Embraer está ficando menor, já que a divisão de jatos comerciais será cindida, restando na empresa apenas os jatos executivos e a área de defesa. “O Brasil vai ganhar, porque a Boeing pretende transformar o país em um dos seus centros de excelência”.

Segundo o presidente da Embraer, não estão previstas demissões, já que a fabricação de jatos comerciais deve continuar na fábrica de São José dos Campos (SP), mesmo depois que o acordo estiver fechado. Ele admitiu, no entanto, que ainda está em discussão se a Boeing poderá transferir essa produção para o exterior no futuro.

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