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Pesquisas indicam que chefes dispensados voltam para os cargos na condição de PJ

Cosmo Donato
São Paulo

As projeções para a evolução do mercado de trabalho em 2018 passaram por consecutivas revisões negativas nos primeiros meses deste ano.

Na virada 2017 para 2018, a expectativa consensual era de criação líquida superior a 1 milhão de postos com carteira assinada.

Com a incorporação dos últimos dados observados, hoje tal expectativa não chega a 300 mil vagas celetistas.

É sabido que o mercado de trabalho responde com defasagem à evolução da atividade econômica.
Dessa forma, tais frustações —e principalmente, as revisões de projeções— são coerentes com vários resultados decepcionantes dos indicadores de atividade dos setores industrial, comercial e de serviços.

Adicionalmente, pesam as incertezas quanto à indefinição do quadro político eleitoral para o pleito presidencial de outubro e como isso afetará a saúde financeira das empresas no futuro.

Há, no entanto, um fato curioso nos dados de criação líquida de postos de trabalho celetistas até o momento.

Entre janeiro e junho houve fechamento líquido de 43,2 mil postos de gestores, concomitante à criação de 73,3 mil postos das demais categorias, já descontadas as conhecidas influências sazonais.

O ajuste exclui as flutuações que refletem as particularidades de cada mês —como a alta das vendas no Natal ou a queda da produção no Carnaval— e permite a comparação entre períodos.

Ainda que os dados não nos permitam dizer com certeza a causa desse fenômeno, é razoável levantar ao menos hipóteses relacionadas a um contexto em que a maior parte das empresas ainda encontra restritivas condições de geração de receita e, consequentemente, de contratação.

A primeira dessas hipóteses é que houve mudança no perfil da atividade de gestão.

As empresas agora tenderiam a alocar mais subordinados sob um mesmo gestor, da mesma forma que algumas das funções que antes eram atribuídas a cargos ocupados por gestores agora passaram a ser exercidas por subordinados.

Muito deles já ocuparam um cargo de chefia no passado, mas não conseguiram igual recolocação.

A segunda hipótese, e talvez mais importante, é que as restrições tornam mais atrativa a modalidade de contratação sob regime de pessoa jurídica.

Isso encontra respaldo nos últimos dados de ocupação informal, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pela IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A pesquisa mostra crescimento de 5% do número de gestores trabalhando no setor privado, sem carteira de trabalho assinada, no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2017. Tal resultado dá forte indício de que tal movimento (de pejotização) esteja de fato ocorrendo.

Expectativa para criação de postos de trabalho na virada de 2018 para 2019 não passa de 300 mil novas vagas celetistas - Folhapress

Por parte dos interesses da empresa, isso ocorre pela menor quantidade de encargos.

Já os contratados, sabendo que a remuneração não é mais tão atrativa como já foi em períodos pré-crise, veem vantagem diante da menor quantidade de descontos em folha, a fim de manter uma proporção maior da renda que possuía anteriormente.

Tudo isso considerando que, em média, o salário de contratação de um gestor é pelo menos três vezes superior ao de um subordinado.

Em suma, os dados nos mostram que, ao menos em termos absolutos, a crise foi, e continua ruim, para as condições de trabalho de todos.

Cosmo Donato é economista da LCA Consultores

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