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Por que o FMI reduziu a projeção de crescimento da América Latina

Guerra comercial, preço das commodities e alta dos juros nos EUA estão entre os fatores

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A guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump contra seus principais parceiros está ameaçando o crescimento da economia mundial. Mesmo assim, são diversos fatores, tanto endógenos quanto exógenos, que levaram o FMI (Fundo Monetário Internacional) a revisar para menos suas projeções quanto ao crescimento da América Latina.

Depois de anunciar perspectivas de alta em abril, o que reforçou o otimismo econômico, a organização acaba de reduzir seus prognósticos de crescimento regional para este ano em 0,4%, para apenas 1,6%. Quais são os fatores que estão servindo de freio à economia latino-americana?

No momento, o risco de uma escalada nas tensões comerciais que afete demais a confiança dos investidores e os preços dos ativos é só uma ameaça, para a maior parte da região. Apenas o México, a segunda maior economia latino-americana, está sendo diretamente afetado pela revisão do Natfa (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) pelo governo Trump.

De acordo com o FMI, o México cumprirá as expectativas de crescimento para este ano, mas em 2019 crescerá em 0,3% a menos que o projetado em abril, a maior redução prevista pelo fundo. E a queda pode ser ainda maior caso os países do bloco comercial não cheguem a um acordo, levando em conta a completa dependência econômica mexicana.

Outro aspecto exógeno que afeta diretamente as economias regionais é a variação do preço do petróleo. Quanto a isso, de acordo com o relatório do FMI, as reduções nos embarques, para as quais a decadência do setor petroleiro venezuelano é fator importante, e as tensões geopolíticas causadas pela saída americana do acordo nuclear com o Irã geraram uma disparada no preço do petróleo. Embora isso beneficie os países exportadores de hidrocarbonetos, prejudica os importadores. Mesmo assim, de acordo com o estudo do FMI, "para o conjunto das economias de mercado emergente as flutuações de alta e baixa compensam umas às outras, em larga medida".

A política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), é outro fator que afeta os desdobramentos financeiros em nível mundial e pode conduzir a crises profundas. A alta nas taxas de juros decretada pelo Fed em abril levou os investidores a começarem a abandonar os mercados emergentes e a transferirem seus capitais aos Estados Unidos, o que causou valorização do dólar. Esse aperto das condições financeiras causou fortes turbulências na Argentina, que forçaram seu governo a solicitar um crédito de US$ 50 bilhões ao FMI. O México, de sua parte, dado o aumento da pressão sobre o peso, optou por endurecer ainda mais sua política monetária, com novas altas nas taxas de juros.

Por outro lado, fatores internos como as transições políticas no Brasil e no México, as duas potências regionais, estão freando o crescimento econômico. No México, a inquietude que despertava o candidato de esquerda López Obrador se dissipou depois das eleições, e os mercados reagiram positivamente. Já no Brasil, onde Lula, embora preso, lidera as pesquisas de intenção de voto, as perspectivas quanto ao futuro são incertas. Isso fez com que as projeções quanto ao crescimento do maior país da região caíssem em meio ponto percentual, do mês de abril, quando o ex-presidente foi preso, para cá.

Há uma infinidade de fatores que afetam o desempenho da economia, para o bem e para o mal, e a alteração de alguns deles pode transformar rapidamente as perspectivas futuras. Muitos desses fatores são endógenos e dependem das condições e ações dos países em questão. Mas em uma economia cada vez mais globalizada, países em desenvolvimento como os latino-americanos estarão cada vez mais expostos a fatores externos sobre os quais não terão como intervir, ao menos de forma direta.

Jeronimo Giorgi é um jornalista uruguaio que cobre assuntos internacionais e que colaborou com diversos veículos na América Latina e Europa.

Tradução de Paulo Migliacci

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