Protecionismo blinda Brasil contra guerra comercial, avalia Fazenda

'É a economia mais fechada do mundo depois de alguns países africanos', diz Marcello Estevão

Brasília

A onda protecionista provocada pela guerra comercial entre China e EUA não deve estimular barreiras à entrada de importados no Brasil, na visão da Fazenda.

Embora industriais venham demonstrando preocupação com o risco de uma enxurrada de produtos chineses ou americanos —expulsos de seus mercados originais— para a equipe econômica o Brasil já é excessivamente protegido.

"É uma questão de magnitude. O Brasil é uma economia muito fechada, a mais fechada do mundo depois de alguns países africanos", diz Marcello Estevão, secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda.

Enquanto EUA e União Europeia têm tarifas médias de 2,8% e 1,9%, respectivamente, o Brasil taxa a entrada de importados, em média, em 13,5%, segundo dados do Banco Mundial.

A distância entre as tarifas praticadas justifica uma maior abertura comercial, a despeito dos riscos protecionistas crescentes no exterior, diz o secretário.

A equipe econômica já patrocinou a suspensão de barreiras ao aço importado e estudos para a retirada de tarifas sobre máquinas e equipamentos estrangeiros —essa segunda iniciativa ainda está em aberto.

Dessa maneira, recebe críticas de empresários, queixosos do que consideram uma abertura unilateral no momento em que muitos países reativam a defesa comercial.

"Há coisas que são boas para a economia brasileira, e não é preciso negociar com os outros", afirma Estevão.

"Países que exportam muito são países que importam muito. A importação é relevante para baixar os custos de produção do que se pode fabricar de maneira mais eficiente e competitiva."

Nas contas da Fazenda, o Brasil pode até ganhar mercado com a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

Estimativa da SPE (Secretaria de Política Econômica), comandada pelo economista Fabio Kanczuk, mostra que poderá entrar US$ 1,8 bilhão a mais nas contas do país nos próximos 12 meses.

O principal ganho se daria via maiores exportações para a China (mais US$ 1,4 bilhão), onde o Brasil ganharia sobre produtos americanos. Já nos EUA, os exportadores brasileiros poderiam ganhar mais US$ 400 milhões.

A projeção considera que o Brasil tem potencial de ampliar a quantidade de produtos vendidos aos dois países e tem como premissa um cenário de preços externos estáveis.

Para Estevão, porém, os ganhos são incertos e, para o comércio global, tendem a ser negativos.

"Pode ser que um caso ou outro faça o Brasil ter aumento de mercado, se um dos afetados resolver desviar sua demanda para o Brasil. Mas não é claro se isso compensaria a possível queda do preço das commodities", diz, referindo-se ao impacto sobre as matérias-primas vendidas pelo país no exterior.

Em junho, quando os ataques mútuos recrudesceram, quem mais sofreu foi a soja, que caiu 15%, nos cálculos da AEB (associação do comércio exterior do Brasil).

Dados com as cotações dos primeiros dias de julho, sobre a mesa de Estevão, sugerem uma queda generalizada: minério de ferro, petróleo, milho, trigo e açúcar oscilaram para baixo.

"A rixa é ruim para todos, a partir do momento em que afeta o crescimento mundial e os fluxos de comércio", diz.

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