Descrição de chapéu Programas Econômicos

Reforma da Previdência não é emergencial, diz petista

Solução para crise fiscal vai além, afirma um dos formuladores da agenda do PT

O economista Marcio Pochmann, 56, um dos formuladores da agenda econômica do PT nesta eleição presidencial, diz que o programa do partido prevê o uso de parte das reservas cambiais de US$ 380 bilhões para estimular a economia.

"Algo como 10% do tamanho das reservas seria suficiente para operações que agilizassem a retomada dos investimentos públicos", diz.

Sobre a necessidade de reformar a Previdência, o ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) nos governos petistas afirmou à TV Folha ter dúvidas "se a questão da Previdência é emergencial".

"Achamos que é um equívoco achar que a Previdência resolveria o problema fiscal."

O economista defende também mudanças na composição da carga tributária no Brasil, "não necessariamente com aumento [de impostos]".

"Reduzir impostos da base da pirâmide social é fundamental, o que vem acompanhado de aumento de tributos para segmentos que estão imunes a essa tributação", diz.

 

Projeto de governo

A recuperação [econômica] passa por aumentar a renda disponível para o consumo e destravar o investimento, público e privado. No primeiro caso, com redução do custo e difusão do crédito.

Isso reduziria tanto o endividamento como permitiria um endividamento adicional.

A outra linha de atuação é a possibilidade de recuperar as obras que estão paralisadas, para as quais falta muito pouco recursos.

Outra possibilidade é a redução de impostos, principalmente das camadas mais baixas da população.

Uso das reservas

Há vários estudos que mostram que há um excesso de reservas internacionais.

Vários países as reduziram, como a China, que vem usando as reservas para a compra de ativos em outros países.

Entendemos que há um espaço nas reservas que poderia ser usado para compor um fundo de investimentos em infraestrutura.

Algo como 10% do tamanho das reservas seria suficiente para operações que agilizassem a retomada dos investimentos públicos.

Marcio Pochmann, 56, graduado em economia pela UFRGS, com doutorado em ciência econômica pela Unicamp, onde é professor livre-docente. Foi presidente do Ipea nos governos petistas - Eduardo Anizelli/Folhapress

Previdência

O projeto do governo [Michel] Temer fez confusão ao misturar regimes próprios como regimes gerais e isso criou uma reação inegável.

Nossa tradição é de fazer mudanças que aperfeiçoem, e faremos medidas para melhorar o sistema. Trabalhamos com mudanças pontuais.

Achamos que é um equívoco achar que a Previdência resolveria o problema fiscal. Ela não tem um efeito imediato. É uma questão de médio e longo prazo. Não estamos com problemas de transição demográfica urgente.

A idade mínima não é uma questão central.

Por que a ênfase é na Previdência? O fato é que nós estamos hoje diante de um regime de emprego que dificilmente as pessoas terão como contribuir.

Tenho dúvidas se a questão da Previdência é uma questão emergencial.

As pessoas estão passando fome no Brasil. Estão morrendo, aumentou a pobreza e a mortalidade infantil. São problemas cruciais que precisam ser atacados agora.

Impostos

É preciso mudar a composição da carga tributária, não necessariamente com aumento.

Reduzir impostos da base da pirâmide social é fundamental, o que vem acompanhado de aumento de tributos para segmentos que estão imunes a essa tributação.

Governo Temer

O discurso que ouvimos há mais de dois anos é que precisávamos tirar a presidenta Dilma [Rousseff] e que naturalmente os investimentos viriam com a melhora das expectativas dos empresários.

A política econômica seria a dos sonhos do mercado financeiro, o crescimento voltaria e seria resolvido o problema fiscal.

Esse enfoque no enfrentamento fiscal sem o país voltar a crescer é um equívoco.

É isso o que está levando a economia brasileira para um buraco jamais visto.

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