Sergio Marchionne comandou de perto todas as mudanças da Fiat no Brasil

Visitas do presidente do grupo deixavam operários e executivos em pânico

São Paulo

Em seus 14 anos à frente da Fiat, Sergio Marchionne (1952-2018) esteve ao menos 20 vezes no Brasil.

Eram compromissos no chão da fábrica, uma forma de ver de perto o único mercado em que a montadora se destacava no mundo.

A Fiat acumulava anos de prejuízos bilionários em 2004, mas detinha 23,6% do mercado nacional, atrás apenas da Chevrolet. Só isso já explica a importância do país para a montadora.

No ano seguinte, a fabricante italiana chegou a 23,8% de participação e tornou-se a maior do Brasil, posição que manteve por alguns anos.

A presença dele em Betim (MG) ou Goiana (PE) deixava a todos em pânico, de executivos a operários.

Talvez fosse o mais exigente e ríspido dos grandes nomes do setor automotivo, embora também soubesse rir e ser cordial quando as coisas iam bem.

Fred Carvalho, diretor de comunicação da Anfavea (associação nacional das montadoras), relembra o episódio em que Marchionne, durante visita à fábrica mineira, foi convidado a ir até o setor de design.

O executivo seguiu desconfiado e lá encontrou um carro coberto por panos. Era a picape Fiat Toro, projetada sem seu conhecimento.

Segundo Fred, Marchionne gostou do que viu e aprovou o projeto, mas não sem passar um pito na equipe brasileira. Teria dito que um CEO como ele deveria conhecer o projeto ainda no papel, sem surpresas, e que aquilo nunca mais poderia acontecer.

Na recente crise do setor automotivo no Brasil, o executivo ítalo-canadense recomendou paciência.

Em 2016, lembrou dos maus momentos que passou no mercado americano em 2008 e de como a recuperação veio.

Além do Brasil, Marchionne sempre esteve perto dos EUA. Ao assumir a Fiat, teve de negociar a ruptura de um contrato com a General Motors. A fusão entre as empresas naufragava, e a majoritária GM não tinha recursos para comprar a quase falida montadora italiana.

O acordo foi desfeito mediante o pagamento de uma multa de US$ 2 bilhões, equivalente a R$ 7,4 bilhões no câmbio atual.

O dinheiro deu gás novo à Fiat e possibilitou a fusão, em 2014, com outra americana em dificuldades, a Chrysler. Surgia o grupo FCA.

Essa nova parceria resultou em grandes mudanças na filial brasileira. Após uma década de crescimento expressivo, a marca italiana começou a perder força, mas havia uma compensação: a Jeep crescia.

Marchionne aprovou o investimento de R$ 12 bilhões na construção da fábrica pernambucana e viveu para ver o modelo Compass assumir a liderança do mercado de utilitários esportivos no Brasil.

Sua morte ocorre logo após a empresa anunciar um investimento de R$ 14 bilhões na América do Sul até 2022, o maior já feito pela montadora na região.

Uma das últimas ações de Marchionne à frente do grupo foi a aprovação de 25 novos produtos que serão lançados nos próximos quatro anos.

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