Trump dará US$ 12 bi a produtores rurais prejudicados pela guerra comercial

Auxílio vem à tona em meio a críticas de agricultores e de republicanos favoráveis ao livre-comércio

Evan Vucci/Associated Press
O presidente Donald Trump durante evento de veteranos em Kansas City - Evan Vucci/Associated Press
Shawn Donnan Demetri Sevastopoulo
Washington | Financial Times

O governo Donald Trump prepara bilhões de dólares em assistência para aplacar os agricultores americanos e compensar o impacto econômico negativo de sua guerra comercial.

O novo plano de assistência é dirigido aos produtores de soja, criadores de porcos e outros agricultores prejudicados por tarifas retaliatórias impostas por parceiros comerciais dos Estados Unidos, como a China, de acordo com pessoas informadas sobre a proposta.

Até US$ 12 bilhões (o equivalente a R$ 45 bilhões)  em assistência serão oferecidos aos agricultores, em parte pela Commodity Credit Corporation, uma agência criada na era do New Deal que tem autoridade para emprestar dinheiro a agricultores ou comprar suas safras, em momentos de emergência econômica, de acordo com reportagens na mídia americana.

Trump havia anunciado anunciado anteriormente no Twitter que "as tarifas são ótimas! Ou o país que tratou os Estados Unidos deslealmente no comércio internacional negocia um acordo justo ou ele será alvo de tarifas".

"É simples assim —e todo o mundo está comentando! Lembrem-se, somos o 'cofrinho' que está sendo roubado! Tudo ficará bem!"

A invocação de Trump surgiu em um momento no qual ele vem sofrendo críticas crescentes das empresas e dos agricultores americanos e da ala do Partido Republicano no Congresso que é favorável ao comércio internacional, sobre as consequências econômicas de suas tarifas.

Também surgiu na véspera de uma visita de Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, a Washington, para negociações com o objetivo de reduzir as tensões cada vez mais fortes no comércio transatlântico.

Em um sinal das preocupações do governo com as críticas internas, o presidente viajará nesta semana ao Missouri e a Illinois para tentar convencer os eleitores quanto ao seu plano de tarifas e sua estratégia mais ampla para reverter as décadas de desequilíbrio comercial que ele argumenta terem prejudicado o coração industrial dos Estados Unidos.

Qualquer perda de apoio a Trump nos estados agrícolas conservadores, que foram cruciais para sua vitória em 2016, pode causar problemas para os republicanos na eleição legislativa de novembro.

O cerne da mensagem de Trump é a ideia de que as tarifas são parte de uma estratégia de negociação mais ampla. Os Estados Unidos já impuseram tarifas ao aço e ao alumínio importados de todo o mundo e a cerca de US$ 34 bilhões em produtos chineses.

O presidente ameaçou expandir as tarifas a até US$ 350 bilhões e incluir carros e autopeças, bem como mais US$ 500 bilhões em produtos importados da China.

Um grande teste da estratégia de negociação virá na quarta-feira, quando Juncker visitará Washington para negociações que devem ser dominadas pelos esforços da União Europeia para convencer Trump a não levar adiante as tarifas sobre automóveis.

Antes da viagem, Cecilia Malmstrom, comissária do comércio internacional da União Europeia, disse que ela e Juncker tentariam "amenizar a situação" e enfatizar áreas nas quais os Estados Unidos e a União Europeia podem trabalhar juntos, por exemplo o excesso de capacidade mundial de produção de aço, alimentado pela China.

Juncker deve se reunir com Trump por uma hora, em uma reunião que incluirá 15 minutos de conversa particular sem a presença de assessores —como o presidente americano fez com Kim Jong-un e Vladimir Putin.

Embora os europeus desejem desesperadamente evitar a perspectiva de tarifas sobre os automóveis, não antecipam que a reunião leve a qualquer anúncio. Em lugar disso, a encaram como oportunidade de apresentar seus argumentos diretamente a Trump, especialmente porque o atual presidente parece depender menos de seus assessores do que seus predecessores na Casa Branca.

Um dos desafios que as autoridades europeias tem enfrentado é o de que o elenco de autoridades americanas encarregadas de lidar com a questão do desequilíbrio comercial —entre as quais Robert Lighthizer, representante do governo americano para questões de comércio internacional; Wilbur Ross, secretário do comércio; Steve Mnuchin, secretário do Tesouro; e Larry Kudlow, o principal assessor econômico da Casa Branca - vem comunicando posições diferentes aos seus colegas europeus.

A única ideia que o lado americano parece ter apresentado coerentemente é a sugestão que Trump fez na reunião do Grupo dos 7 (G7) no Canadá, sobre uma eliminação geral de tarifas e barreiras comerciais. Mas os europeus duvidam que Trump seja capaz de obter aprovação legislativa a uma medida como essa — mesmo que a União Europeia pudesse ser persuadida a adotar esse curso.

Do lado europeu, também existem diferenças sobre como lidar com os Estados Unidos no campo do comércio. A França, especialmente, vem argumentando que a União Europeia deveria enfatizar a Washington que não está disposta a negociar sob ameaça. No entanto, a Alemanha vem pressionando por uma abordagem menos inflexível, em parte porque suas montadoras de automóveis teriam muito a perder se Trump impuser tarifas às importações de carros.

Até agora, Trump não foi capaz de conduzir qualquer negociação comercial significativa, e muitos dos seus esforços terminaram bloqueados pela resistência dos parceiros comerciais dos Estados Unidos.

As conversações sobre renegociação do Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), com o Canadá e o México, estão caminhando lentamente, e foram suspensas por conta da eleição mexicana deste mês. As discussões com Pequim para evitar uma guerra comercial também foram abandonadas quando as duas maiores economias do planeta optaram pela imposição de tarifas retaliatórias.

De forma semelhante, a União Europeia se recusou a participar de qualquer discussão significativa enquanto os Estados Unidos estiverem impondo novas tarifas, argumentando que isso equivale a negociar com uma arma apontada contra sua cabeça.

Parte do problema é a abordagem belicosa de Trump quanto às negociações. Mas alguns analistas acreditam que o presidente, como indicou em seus tuítes nesta terça-feira (24), está se sentindo cada vez mais confortável com o uso de tarifas como forma de reformular as relações comerciais americanas.

"Isso é bastante claro. Trump quer ou grandes concessões unilaterais de seus parceiros comerciais ou grandes tarifas", disse Edward Alden, pesquisador sênior no Conselho de Relações Estrangeiras.

"Trump foi bem coerente sobre isso, dizendo aos parceiros comerciais que ou eles lhe oferecem grandes concessões ou as tarifas serão usadas como estratégia para alterar o balanço."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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