Descrição de chapéu Balanços

Brasileiro investe mais por segurança do que por retorno

Pesquisa mostra que 1 em cada 10 investidores não sabe por que aplica

Anaïs Fernandes
São Paulo

A sensação de segurança é o principal motivo para os brasileiros que investem aplicarem seu dinheiro, revela pesquisa da Anbima (associação das entidades do mercado), encomendada ao Datafolha. 

Segundo o levantamento, 54% da população que faz algum tipo de investimento prefere se sentir segura do que acumular ganhos. Essa percepção é unânime em todas as faixas etárias, classes sociais e níveis de escolaridade.

A busca por retorno financeiro aparece em segundo lugar entre as motivações para o investimento, apontada por apenas 16% dos entrevistados —com predominância entre jovens de 25 a 34 anos e pessoas da classe A. 

Para Ana Leoni, superintendente de educação da Anbima, a sensação de segurança significa ter a possibilidade de juntar reserva financeira. 

“É a diferença entre guardar e investir. Guardar dinheiro está relacionado a fazer sobrar um valor, juntá-lo e deixá-lo acessível. Só que guardar não necessariamente é o mais saudável quando queremos que o dinheiro dure”, afirma.

Quem busca segurança não vê como o primeiro atributo de um produto financeiro o seu retorno, mas se a instituição com a qual está lidando tem credibilidade, se já existe um relacionamento entre eles e se ela está na sua zona de conforto, diz Leoni.

Atrelada a essa ideia de segurança, a caderneta de poupança é o destino das economias de 88% dos investidores. Na segunda —e distante— posição, com 6% da preferência, vem a previdência privada.

“A poupança é um investimento tradicional. Tem uma simplicidade que gera essa segurança ao público”, diz Leoni.

Na terceira posição entre os produtos mais utilizados estão os fundos de investimento e os títulos privados com 5% e 3%, respectivamente. Os títulos públicos, aplicados por meio do Tesouro Nacional, aparecem com 3%.

Os investimentos brasileiros duram, em média, dez anos, e mesmo a tradicional poupança não passa de 11 anos.

“Investir é um hábito novo no Brasil, não chegamos nem na pré-adolescência. Isso tem a ver com uma herança inflacionária e de instabilidade econômica que só recentemente se equilibrou”, diz Leoni.

Chama a atenção que, entre os 42% que se declaram investidores, 10% não sabem por que o fazem e outros 10% aplicam mesmo sem ver nenhuma vantagem nisso.

Para a Anbima, o valor é alto, mas indica que há um público mais predisposto a investir. 

“Uma coisa é o hábito de guardar um valor, outra é fazer aquilo render melhor. Para algumas pessoas, só plantar a semente é suficiente, mas precisa um esforço para que invistam melhor seus recursos. O ideal é que poupem mais e invistam melhor”, diz Leoni.

Um passo para buscar rentabilidade melhor, ela prossegue, é dedicar um tempo para estudar investimentos.

“Falar de dinheiro ainda parece algo feio, precisamos ultrapassar essa barreira. Precisamos cuidar do dinheiro para que ele não perca valor.”

Só entender os produtos disponíveis, porém, não é o suficiente. O futuro investidor precisa ter bem claro quais são os objetivos da aplicação. 

“Às vezes, as pessoas ficam mais preocupadas em entender os produtos do que seus objetivos. Primeiro é preciso saber suas motivações. Depois, buscar o caminho para viabilizá-las, sabendo quanto está disposto a aplicar, por quanto tempo. Quando você não sabe aonde quer ir, qualquer lugar parece servir”, afirma Leoni.

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