Chinesa ultrapassa Apple e se torna 2ª maior em vendas de celulares do mundo

Huawei atinge segundo lugar mesmo fora do mercado dos Estados Unidos

Washington | Financial Times

Pela primeira vez em sete anos, a Apple não está entre os dois maiores fabricantes mundiais de smartphones. E pela primeira vez em todos os tempos, uma empresa chinesa está.

Analistas de diversas organizações de pesquisa, entre as quais IDC, Canalys e Counterpoint, calcularam que no segundo trimestre a Huawei superou a Apple se tornou a segunda maior fabricante, abaixo da Samsung, no mercado mundial de smartphones, em termos de volume de vendas.

A notícia reduziu um pouco o brilho de um dia em geral muito positivo para a fabricante do iPhone, que reportou receitas superiores às esperadas no segundo trimestre.

A subida da posição da Huawei, apesar de ela continuar excluída do crucial mercado dos Estados Unidos devido a questões de segurança nacional, revela a ameaça oculta da China à posição da Apple —quer ela venha em forma de concorrentes locais ou de questões políticas internacionais.

Aparelho da Huawei exposto em feira de eletrônicos em Beijing, na China - AFP

"A Apple não está em uma posição muito confortável", disse Nicole Peng, analista de mobilidade na Canalys, uma empresa de pesquisa de mercado. "Os consumidores precisam fazer uma escolha dura entre a Apple e seus pares na China".

O desempenho em geral positivo da Apple em seu trimestre mais recente foi propelido principalmente pelo iPhone X, o modelo mais caro de seu celular, que ajudou a companhia a elevar sua receita em 17% ante os resultados do período em 2017 —ainda que, em termos de volume, as vendas da empresa tenham crescido em apenas 1%.

"O iPhone X demonstra que, quando você oferece um produto excelente e inovador, e há pessoas suficientes que gostem dele, o negócio pode ser muito bom", disse Tim Cook, presidente-executivo da Apple, em conversa telefônica com analistas na terça-feira. Os investidores parecem ter concordado, causando alta de 4% nas ações da empresa depois do fechamento dos mercados na noite de terça-feira (31).

Além do preço de venda médio mais alto para o iPhone e da alta no faturamento em seus serviços online, um componente importante do pique renovado da Apple nos últimos 12 meses é a sua recuperação na China. A companhia agora já registra quatro trimestres consecutivos de crescimento de receita na casa dos dois dígitos, em sua divisão chinesa, que também abarca Taiwan e Hong Kong.

Em agosto de 2017, a receita da Apple na China estava em queda há 18 meses. Muitos observadores estavam prontos a descartar a empresa no maior mercado mundial de smartphones, vendo-a como a mais recente vítima americana de rivais locais mais ágeis.

Mesmo assim, Cook insistiu, então, em que a China e sua classe média crescente ainda ofereciam um grande potencial para o iPhone, e atribuiu a queda temporária da empresa à redução nos gastos dos turistas em Hong Kong.

Pelos indicadores da Apple, ele estava certo. A receita das operações chinesas gerais da companhia voltou a crescer no terceiro trimestre de 2017 e tem mostrado crescimento de 20% ante os resultados do período no ano passado pelos dos últimos trimestres.

"Há muita coisa boa acontecendo aqui", disse Cook na terça-feira - antes de se lançar em um sermão incomumente longo, que durou quatro minutos, sobre tarifas e a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China., "Tenho certeza de que algumas pessoas têm perguntas sobre isso", ele afirmou.

Ainda que o iPhone até o momento não tenha sido afetado pelas tarifas propostas pelo governo Trump sobre produtos importados da China, outros produtos, como o Apple Watch, os fones de ouvido AirPods e o alto-falante inteligente HomePod podem se ver apanhados na mais recente onda de tarifas propostas.

Cook disse que a Apple "compartilharia suas opiniões" com a Casa Branca quanto à mais recente rodada de tarifas, em valor de US$ 200 bilhões. "Estamos avaliando esse assunto", ele disse, acrescentando que era "um processo tedioso" avaliar o impacto das medidas não só sobre os produtos da Apple mas em termos de possível alta de preços para seus fornecedores, como os de equipamentos para centrais de dados.

"Nossa posição sobre as tarifas é que elas se manifestam como um imposto sobre o consumidor e terminam resultando em crescimento econômico mais baixo, e às vezes acarretam risco significativo de consequências imprevistas", disse Cook, dando a entender que a Apple poderia elevar seus preços para os consumidores dos Estados Unidos se as tarifas entrarem em vigor.

Ainda que tenha reconhecido que alguns dos relacionamentos dos Estados Unidos na área de comércio externo precisam de "modernização", ele disse que existe uma "mutualidade inescapável" entre os Estados Unidos e a China, que vincula os destinos dos dois países. "O mundo precisa que tanto os Estados Unidos quanto a China prosperem, para que o mundo se saia bem... esperamos que cabeças mais calmas venham a prevalecer".

O tempo que Cook dedicou às tarifas na conversa com investidores terça-feira diz mais que as palavras que usou, quanto às suas preocupações, e às dos investidores em sua empresa, sobre a questão.

Mas as tarifas dos Estados Unidos e a potencial retaliação contra a Apple na China não são os únicos riscos que a empresa enfrenta lá.

"O mercado chinês de smartphones está estagnado no momento, em termos gerais. Não existe crescimento", disse Wayne Lam, analista do grupo de pesquisa de mercado IHS Markit.

Lam calcula que a Apple possa se sair bem na nova fase de "substituição" do mercado chinês, com os consumidores trocando aparelhos menos capazes pelo iPhone, mais sofisticado.

"A Apple ainda pode conquistar espaço para os aparelhos de custo e valor mais alto, o que os fabricantes de smartphones Android não têm como fazer", ele disse. "Dessa perspectiva, o futuro da Apple é muito bom. Mas em termos de volume absoluto de aparelhos, eles claramente não estão embarcando tantos deles".

No entanto, Peng, da Canalys, é mais pessimista quanto às perspectivas da Apple na China em prazo mais longo.

A Apple pode ter sido capaz de continuar elevando sua receita ao aumentar o preço do iPhone este ano, e um iPhone ainda mais caro, com tela maior que a do modelo X, deve ser lançado em setembro,

Mas rivais como a Huawei e a Xiaomi estão melhorando seu hardware e mantendo os preços baixos, e os analistas dizem que a Apple pode enfrentar dificuldades em mercados onde o custo é importante, como a China e a Índia, de onde boa parte do crescimento futuro virá.

Mesmo na ponta mais elevada do mercado chinês de celulares, "existe uma corrida entre dois cavalos", a Huawei e a Apple, disse Peng. A sul-coreana Samsung anunciou no começo da semana que as vendas de seu principal modelo de smartphone, o Galaxy S9, haviam sido mornas, ainda que continue a ser a maior fabricante mundial de smartphones.

"Há patriotismo crescente entre os consumidores chineses", ela disse. "A Apple tem menos influência, agora".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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