CNC terá novo dirigente após 38 anos, mas ligado ao mesmo grupo político

Atual presidente, com 92 anos, decidiu se aposentar; chapa de oposição tem quatro votos

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Entrada do Sesc na Avenida Paulista
Primeiro dia de funcionamento da unidade do SESC Paulista após a reforma - Rubens Cavallari/Folhapress
São Paulo

Antônio José Domingues de Oliveira vai deixar a presidência da CNC (Confederação Nacional do Comércio) depois de 38 anos. O motivo é a idade avançada: ele está com 92 anos. Seu grupo político, porém, tem grande chance de permanecer no poder.

As eleições estão marcadas para 27 de setembro, e a chapa Unidos pela CNC —apoiada informalmente pelo atual dirigente— já tem garantidos 24 dos 28 votos possíveis.

Dirigentes das federações do comércio do Distrito Federal, de Sergipe, de Alagoas e de Santa Catarina montaram uma chapa oposicionista, denominada CNC em Ação e liderada pelo dirigente da Fecomercio DF, Adelmir Araújo Santana.

A chance de vitória, no entanto, é reduzida, uma vez que tem apenas quatro votos.

Reportagem publicada pela Folha em julho mostrou que Oliveira é o segundo dirigente patronal mais longevo do país. Seu provável sucessor quase não fica atrás.

A chapa da situação é encabeçada por José Roberto Tadros, presidente da Fecomercio Amazonas há 32 anos.

Tadros ocupa a quinta posição no ranking de longevidade das entidades patronais elaborado pela reportagem.

“Não pretendo me perpetuar no poder. A meta é ficar no máximo oito anos, porque já tenho 72 anos”, disse Tadros.

“Vou levar esse tema [da possibilidade de reeleição ilimitada] para ser discutido pelo conselho. Minha opinião pessoal, no entanto, é que não tem nada de errado.”

A disputa pelo comando da CNC é justificada pelos expressivos orçamentos envolvidos —a entidade comanda também o Sesc e o Senac.

Em 2017, as receitas de CNC, Sesc e Senac somaram R$ 11,4 bilhões, sem contar os recursos existentes em caixa.

Como parte do chamado Sistema S, Sesc e Senac recebem repasses da Receita Federal, descontados de contribuições do faturamento de 5 milhões de estabelecimentos comerciais do país.

A montanha de dinheiro foi um dos trunfos que mantiveram o comandante da CNC por tanto tempo no poder. A entidade realiza eleições a cada quatro anos, mas Oliveira foi sucessivamente reeleito por unanimidade em chapa única.

Segundo pessoas que acompanham a entidade de perto, o dirigente adotou a política de repassar parte dos recursos arrecadados em estados ricos para os mais pobres.

A medida interiorizou atividades do Senac e do Sesc, mas também garantiu apoio expressivo nas eleições em que cada federação tem um voto.

Quando Oliveira anunciou, há um ano, que desistira de concorrer, articulações para sucedê-lo ganharam fôlego. Dirigentes do Norte e do Nordeste se articularam em torno de Tadros, com apoio de outras regiões do país.

A iniciativa foi capitaneada por Luiz Gastão Bittencourt, presidente licenciado da Fecomercio Ceará e hoje interventor do Sesc e do Senac no Rio.

Bittencourt, que é da estrita confiança de Oliveira, está no Rio de Janeiro desde a prisão do ex-presidente da federação fluminense Orlando Diniz, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato por suas conexões com o ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Mas um grupo de dirigentes se sentiu frustrado em suas ambições de se candidatar e resolveu criar uma chapa de oposição —um dos membros mais ativos é o deputado Laércio Oliveira, presidente da Fecomercio Sergipe. Almejou ser presidente da CNC, mas acabou se aliando a Santana.

“A chapa da situação não representa nenhuma mudança, e a CNC precisa de renovação. Minha proposta é quatro anos de mandato e uma reeleição —oito anos no máximo”, disse Santana, que comanda a Fecomercio DF há 18 anos.

Ele diz que se manteve por tanto tempo no cargo porque não ocorriam mudanças na confederação.

Com chance reduzida no pleito, a oposição já registrou diversos pedido de impugnação de membros da situação, alegando que não têm reputação ilibada. Se perderem, cogitam entrar na Justiça.

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