Turquia impõe sanções a produtos dos EUA e volta a azedar mercado; dólar vai a R$ 3,90

Bolsa brasileira perdeu quase 2%, em meio à aversão a risco de investidores

Danielle Brant Anaïs Fernandes
Nova York e São Paulo

Um novo episódio da disputa política e comercial entre Turquia e Estados Unidos mergulhou os principais mercados em novo dia de perdas e aumentou os temores de investidores com um eventual efeito da crise turca na desaceleração do crescimento econômico global.

Nesta quarta-feira (15), o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou a imposição de tarifas sobre carros, cigarros, álcool e outros produtos americanos, em retaliação a sanções recentes adotadas pelo governo do presidente americano Donald Trump.

Na sexta, o republicano havia dobrado as tarifas sobre aço e alumínio importado da Turquia —as alíquotas subiram, respectivamente, para 50% e 20%.

A retaliação turca é enxergada como simbólica, porque os valores são muito baixos comparados à guerra comercial que opõe Estados Unidos e China. Ainda assim, o governo turco tenta dar à disputa um tom de luta pela soberania do país contra um inimigo externo.

A medida voltou a azedar o humor dos investidores.

As principais Bolsas globais reagiram ao aumento da aversão a risco e fecharam em baixa.

O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, recuou 1,94%, para 77.077,99 pontos, puxado também por balanços fracos na área de educação, aponta Marco Tulli, da Coinvalores .

Os indicadores americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram, respectivamente, 0,54%, 0,76% e 1,23%.

“É um processo econômico. A imposição de tarifas comerciais não traz vantagem a ninguém, não é positivo para o sentimento ou a tomada de risco em emergentes”, diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.

Das 24 moedas emergentes, 18 perderam força em relação à divisa americana. No Brasil, o dólar fechou em alta de 0,87%, para R$ 3,901.  

A lira turca, no entanto, liderou as valorizações, avançando 6%, no segundo dia consecutivo de alta, após chegar a cair mais de 8% no início da semana. No ano, a moeda ainda perde 36%. 

O movimento de recuperação isolado da lira reflete em parte as medidas de liquidez que o banco central turco anunciou para sustentar a moeda. 

“A Turquia está nessa situação porque, além das tarifas americanas, tem baixas reservas internacionais, inflação alta, déficit em conta corrente de 5% do PIB [Produto Interno Bruto]. Já estava vulnerável, e as sanções do Trump foram o gatilho para agravar a crise”, afirma Ramos

O economista avalia que o Brasil não está imune, mas tem uma resiliência em suas contas externas que outros emergentes não têm, como a Argentina e a África do Sul, por exemplo, cujas moedas têm sido duramente impactadas pelas turbulências turcas. O peso argentino recuou 2,21%, e o rand sul-africano, 1,81%.

William Jackson, economista para mercados emergentes da casa de análise Capital Economics, vê a piora do sentimento dos investidores como o pior impacto para o Brasil. Para a Turquia, as perspectivas não são nada boas. 

“Os custos de empréstimos subiram bastante, vamos ver por lá uma inflação de 20% [hoje está em 16%] e provavelmente a economia em recessão nos próximos trimestres”, afirma. Cada vez que a lira turca se desvaloriza, empresas do país ficam um passo mais perto de enfrentar uma falência por não conseguirem pagar a dívida denominada em moeda estrangeira. 

CRISE ATINGE BITCOIN

As turbulências que impactaram as Bolsas e moedas globais também não perdoaram a moeda virtual bitcoin, que caiu abaixo dos US$ 6.000 nesta terça-feira. Na sessão desta quarta, porém, a criptomoeda recuperou parte do fôlego e fechou em alta de 5%, a US$ 6.374,87 --bem distante dos US$ 18 mil de dezembro de 2017.

Naeem Aslam, analista-chefe da corretora ThinkMarkets, afirma que o sentimento de aversão a risco pode levar a criptomoeda a novas baixas no ano —a desvalorização acumulada no ano é de 55,13%.

“Os operadores estão esperando por uma trajetória de alta desde o começo de junho, embora tenha havido duas ocasiões diferentes onde vimos o preço mostrando alguma força, mas, na realidade atual, a força vendedora mostrou sua força brutal em relação à compradora”, afirmou, em comentário.

Para ele, a única razão pela qual as criptomoedas estão caindo tanto é que os operadores estão perdendo a esperança em uma trajetória de alta. No ano passado, a tendência compradora ganhou força em setembro e outubro, lembra Aslam. 

“Hoje [quarta], o bitcoin rompeu a máxima de ontem [terça] de US$ 6.298, então há uma possibilidade de que nós tenhamos apenas tido um alarme falso e que o preço possa não ter uma nova mínima em 2018”, ressaltou. “Se isso acontecer, então há uma forte esperança para a corrida de alta continuar neste ano.”

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