Dólar descola do exterior e fecha em baixa após bater R$ 4,16

Ibovespa avança com menor aversão a risco lá fora e por bom desempenho da Petrobras

Anaïs Fernandes
São Paulo

Em dia volátil, o dólar alcançou ao longo desta quarta-feira (29) seu recorde de fechamento desde o Plano Real (1994), de R$ 4,166 em janeiro de 2016.

Apesar da acelerada ao longo do pregão, a moeda fechou em baixa de 0,53%, para R$ 4,119, mesmo diante do fortalecimento do dólar no exterior.

"Por aqui, foi mais um movimento de realização do mercado já se aproximando também da virada do mês", diz Mauriciano Cavalcante, gerente de câmbio da Ourominas. 

Na véspera, o dólar havia fechado a R$ 4,141, na terceira maior cotação desde 1994.

Lá fora, o dólar avançou sobre 24 das 31 principais divisas do mundo após a divulgação de números do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA no segundo trimestre confirmarem o crescimento forte do país. 

A economia americana cresceu 4,2% de abril a junho, ante 4,1% estimados inicialmente. Indicações de uma expansão sólida nos Estados Unidos elevam as expectativas de uma elevação mais rápida nos juros americanos. Taxas altas nos EUA atraem para a maior economia do mundo fluxo de capital até então alocado em outros países.

O resultado impacta sobretudo emergentes. O peso argentino perdeu 2,29% em relação ao dólar, enquanto a lira turca recuou 2,2% e o rand  sul-africano, 1,4%.

"O Brasil até começou a acompanhar esse movimento, mas o Banco Central deu uma sinalização na véspera de que estava de olho no câmbio. E, sem uma grande notícia no cenário interno, que vem sendo o grande motivador do mercado nos últimos tempos, investidores se mostraram meio sem rumo", diz Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.

O Banco Central anunciou na noite de terça-feira (28) que pretende rolar integralmente os R$ 2,15 bilhões de dólares em linha (venda de dólares com compromisso de recompra) que vencem em 5 de setembro, minimizando pressão adicional por dúvidas sobre esses vencimentos. 

"O leilão venceria no final da semana e o BC fez a rolagem, garantindo a mesma liquidez no sistema. Claro que, ao fazer isso, o mercado pressupõe que a autoridade está atenta e pode entrar se necessário, algo aguardado pelos investidores, mas não há grande novidade nesse movimento de rolagem", observa Consorte.

A Bolsas globais tiveram um dia positivo com a menor aversão a risco no exterior após o Canadá sinalizar que pode chegar a um acordo comercial com EUA e México.

Em Wall Street, os índices acionários S&P 500 e Nasdaq renovaram máximas recordes, apoiados principalmente no avanço de ações de tecnologia, mas também refletindo alívio sobre disputas comerciais.

Nesta quarta, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que pode ser possível chegar a um acordo sobre o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) antes do prazo de sexta-feira anunciado pelo presidente americano, Donald Trump.

"Nós reconhecemos que existe a possibilidade de chegar lá até sexta-feira, mas é apenas uma possibilidade, porque dependerá se há ou não um bom acordo para o Canadá", disse. "Nenhum acordo é melhor que um acordo ruim do Nafta".

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, avançou 1,18%, a 78.388,83 pontos, impulsionado pela Petrobras.

Os papéis da estatal subiram 5,18% (preferencial) e 4,38% (ordinário) na esteira da alta do petróleo no exterior.

Analistas apontam, no entanto, que a volatilidade não deixará o mercado brasileiro. 

Investidores devem seguir de perto a entrevista que Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à Presidência preferido pelo mercado, dará na noite desta quarta em programas da Rede Globo. "Dependendo do seu desempenho, isso pode fazer preço amanhã", diz Consorte, destacando que pode haver expectativa também sobre divulgação de pesquisas de intenção de voto.​

Com Reuters

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